Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf).
Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender os impactos direitos e indiretos, bem como explorar alternativas de mitigação.
Um artigo publicado este mês na Nature descreve os impactos de estradas ilegais em florestas tropicais na Ásia e Oceania. Os autores chamaram essas estradas de “estradas fantasmas”, porque são vias desconhecidas para os governantes. Dessa forma, não há mapeamento, fiscalização e controle sobre a operação e expansão delas. E qual é o impacto que essas estradas representam para a natureza, incluindo a fauna?
Estrada representa acesso. Acesso das pessoas a lugares novos que antes eram remotos. O cenário mais comumente visto é o de abertura de estradas ilegais para atividades ilegais de uso da terra, tais como desmatamento, garimpo, incêndios florestais, caça e grilagem.
Algumas dessas atividades geram impactos diretos à fauna, como a caça e as próprias colisões com os veículos circulando nas estradas ilegais. Outras geram impactos indiretos, como a poluição das águas e perda de hábitat. Além disso, o impacto cumulativo da abertura dessas estradas fantasmas vai além das populações de animais silvestres, podendo afetar os povos indígenas que vivem nos locais próximos a essas vias e todo o ecossistema da região.
O estudo focou em detectar essas estradas fantasmas em florestas tropicais na Ásia e Oceania com o uso de imagens de satélite (Google Earth). O esforço realizado foi cerca de sete mil horas de treinamento de voluntários para mapear as estradas fantasmas, amostrando 1,42 milhão de parcelas de 1 km² de área. Todo esse esforço resultou em 1,37 milhão de quilômetros de estradas ilegais detectadas, o que representa de três a seis vezes mais estradas do que as registradas no conjunto de dados de estradas do mundo (por exemplo, a base de dados do OpenStreetMap). Além disso, também foi avaliada a presença das estradas fantasmas dentro de áreas protegidas e constatou-se que nem mesmo essas áreas estão totalmente protegidas, pois elas apresentam um terço do número de estradas em comparação com terras desprotegidas próximas.
Pode parecer um número pequeno, porém a abertura dessas estradas em áreas protegidas resulta praticamente no mesmo nível de desmatamento comparando com estradas no entorno. Apesar de os autores reportarem apenas desmatamento, podemos facilmente associar isso a perda de hábitat para a fauna silvestre e os demais impactos que a presença humana acarreta sobre os animais.
Atualmente, sabemos que é praticamente impossível ter controle sobre a abertura de todas as estradas não oficiais, independente do país. Por isso, o estudo mencionado utilizou esforço humano para detectar as estradas em uma área delimitada. Mas os autores reconhecem que o uso de inteligência artificial (AI) otimizaria muito mais o processo. Conforme texto publicado por um dos autores, há um grupo de pesquisa focado em testar métodos de AI para realizar esse esforço automatizado e poder detectar a abertura de estradas ilegais em tempo real e em escala global.
Obter essa informação é crucial para controlar atividades ilegais, identificar os impactos e proteger os ecossistemas em qualquer lugar do mundo. Pensando que países em desenvolvimento, que são os que contém as florestas tropicais, apresentam um ritmo mais intenso da expansão dessas estradas ilegais, a evolução desse mapeamento é muito importante. Lembrando que essas florestas são ricas em biodiversidade, logo os impactos nessas regiões são inúmeros. Uma vez que uma estrada fantasma é detectada, ela pode ser desativada e o ambiente restaurado para conservar aquela região, principalmente dentro de áreas protegidas.
Apesar do artigo mencionado ter avaliado apenas florestas tropicais na Ásia e Oceania, sabemos muito bem que o mesmo acontece na Amazônia e em outras florestas tropicais na América Latina e África. E bem como disse certa vez o agrônomo Eneas Salati, um dos principais cientistas do Brasil: “a melhor coisa que você pode fazer pela floresta amazônica é explodir todas as estradas”. Apesar de explodir não ser o adequado e a frase soar drástica, ele segue tendo razão: estradas e florestas não combinam e não apenas no cenário da Amazônia, mas para todas as florestas.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf). Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender […]
