Graduada em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve sua pesquisa junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf).
Possui grande interesse em temas relacionados à Ecologia de Estradas, avaliação de impactos ambientais e conservação da biodiversidade.
Se o problema das rodovias fosse apenas a mortalidade por colisões veículo-fauna, já seria um problema suficientemente grande para lidar. No entanto, o setor de transportes é responsável por uma série de outros impactos ao meio ambiente, sendo um deles a contaminação. Solo, água e ar são diretamente impactados pelo lançamento de contaminantes pelos veículos. Além disso, a própria estrutura rodoviária gera poluentes e sedimentos, principalmente quando em fase de obras. Essa poluição toda afeta fauna e flora, altera a qualidade dos hábitats e provoca consequências na saúde das espécies. Não obstante, os gases lançados no ar contribuem para as mudanças climáticas.
No Brasil, apesar de o desmatamento ser o maior responsável pela emissão de carbono na atmosfera, a mobilidade urbana e o transporte de cargas contribuem de forma considerável para a liberação de particulados e de CO2 (gás carbônico), o que acelera as mudanças climáticas. Para contornar isso (e também por pressão dos acordos internacionais), o país tem avançado recentemente em políticas para redução das emissões de gases do efeito estufa. Algumas delas são o Plano de Transformação Ecológica, a Política Nacional de Qualidade do Ar e a Lei do Combustível do Futuro. Essa última prevê “iniciativas para promover a mobilidade sustentável de baixo carbono”, incluindo a promoção de diferentes tipos de combustíveis considerados menos prejudiciais para o planeta, como o Combustível Sustentável de Aviação (SAF, na sigla em inglês), o biodiesel, o diesel verde e o já conhecido etanol.
De fato, com uma frota de veículos bastante grande, o Brasil precisa se preocupar em liderar essa busca por soluções alternativas aos combustíveis fósseis, pois os cenários esperados caso as emissões de carbono não diminuam são bastante catastróficas. Os acordos internacionais preveem que os países cessem a emissão líquida de carbono até a metade deste século. No entanto, por aqui, o que vemos são contradições: enquanto avançamos em políticas de sustentabilidade, há tentativas de explorar petróleo em áreas ambientalmente sensíveis, como a foz do rio Amazonas, o que já gerou forte insatisfação popular.
Descarbonizar o setor de transportes é um tema complexo e com ampla necessidade de pesquisa. Uma breve busca no Google Acadêmico sobre o tema retorna mais de 17 mil resultados somente a partir do ano de 2023, refletindo a crescente atenção que isso tem recebido globalmente. O assunto é pertinente e engloba diversas áreas do conhecimento: ciências naturais, engenharias e energia, políticas públicas e economia.
Outros compartimentos ambientais também sofrem consequências do uso intenso das estruturas de transporte, como o meio aquático. Já é sabido que as estradas pavimentadas formam superfícies impermeáveis, o que resulta no escoamento direto de poluentes como óleo, combustíveis e outros químicos, ameaçando esses ecossistemas. Ainda, durante as fases de construção de uma rodovia, há aumento da sedimentação em corpos d’água, o que impacta organismos frágeis como os corais . Espécies aquáticas como peixes migratórios e anfíbios também podem ser prejudicadas com a alteração da qualidade da água devido à presença de poluentes. Isso compromete a persistência das populações e afeta teias alimentares inteiras.
Dentre as alternativas para se pensar um setor de transportes descarbonizado, saliento dois principais eixos.
Pelo eixo da tecnologia, destaca-se os esforços para a eletrificação da frota de veículos e o desenvolvimento de novos combustíveis, como os citados anteriormente, ambos essenciais na busca por um desenvolvimento sustentável. Contudo, acredito que uma peça chave desse quebra-cabeças está no eixo socioeconômico, que exige mudanças significativas de paradigmas. Uma dessas mudanças deveria ser a redução da dependência de longas cadeias logísticas para o transporte de produtos, promovendo e valorizando o consumo local. Outra consiste em tornar o transporte público mais atraente e vantajoso em relação aos veículos particulares. Em uma sociedade onde possuir um carro ainda é frequentemente associado a símbolo de status, essa transformação demanda uma reinvenção do imaginário coletivo.
A busca por soluções no setor de transportes não é apenas uma questão de melhoria na qualidade do ar ou da água, mas de proteção a toda a vida que se interliga na biosfera. Descarbonizar o sistema de transportes, além de urgente, é uma engrenagem em um mecanismo mais complexo, que é descarbonizar toda a atividade econômica humana, seja no transporte, na indústria, na agricultura, etc. A criação de redes viárias mais sustentáveis é um desafio, mas também uma oportunidade de reestruturar a forma como nos movemos e nos conectamos, sem deixar de pensar no futuro do planeta e no bem-estar das outras espécies que coexistem conosco.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).
Graduada em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Ecologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Desenvolve sua pesquisa junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf). Possui grande interesse em temas relacionados à Ecologia de Estradas, avaliação de […]
