Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
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A megafauna é um termo comumente utilizado para descrever animais gigantes que foram extintos há milhares de anos. Neste artigo, utilizamos esse termo com intuito de chamar atenção para a fauna nativa do Brasil de grande porte.
Em outros países, podemos observar grandes investimentos em estruturas mitigadoras, boa parte delas motivadas por questões econômicas, já que animais de maior porte como ursos, alces ou cangurus podem ocasionar grandes prejuízos econômicos e acidentes fatais. Porém, no Brasil existem animais tão grandes quanto esses como a anta, o nosso maior mamífero terrestre que pode chegar a até 300 quilos, o cervo-do-pantanal com aproximadamente 150 quilos, a onça-pintada, em que algumas regiões chega a 180 quilos, e algumas sucuris que chegam facilmente aos 100 quilos. Apesar desses animais não serem mais abundantes na maioria das regiões do Brasil e, portanto, pouco disponíveis para serem atropelados, um único acidente pode tirar a vida de diversas pessoas. Além, é claro, da perda ecológica pela morte daquele animal que é ameaçado por diversos outros impactos antrópicos.
Estive recentemente em locais em que essa megafauna ainda está presente e, conversando com alguns motoristas, todos tinham relatos de atropelamentos. O avistamento desses animais já é algo comum na rotina das pessoas que vivem em regiões mais remotas. Devido a presença dos animais, alguns motoristas possuem hábitos que infringem as leis de trânsitos por motivos de segurança dos usuários da via. Exemplo disso é andar no meio de duas pistas asfaltadas, invadindo o sentido oposto, para poder desviar a tempo quando um espécime entrar na pista. Essa prática é comum em locais que não tem acostamento e a vegetação fica muito próxima do asfalto. Além disso, pouco se vê mitigações nesses ambientes; apenas placas indicando a presença de animais.
Outra questão preocupante é que muitos dos locais remotos correm o risco de terem suas vias asfaltadas, aumentando ainda mais a chance de acidentes com a fauna.
A maioria dos acidentes com vítimas humanas fatais em que houve o envolvimento de algum animal não é relatada pois dificilmente se encontram testemunhas indicando, por exemplo, que o motorista tentou desviar o espécime na pista e acabou colidindo. Aparentemente esse tipo de problema pode ser mais comum do que se imagina. Por outro lado, os acidentes não fatais têm o ônus de gerarem grandes perdas econômicas.
O impacto econômico não deveria ser a principal motivação para a implantação de medidas mitigadoras, no entanto é um argumento necessário que atinge outras esferas além da ambiental. Apesar de o Brasil já apresentar ecodutos (viadutos vegetados) para travessias de animais, ainda é preciso investir nas regiões mais remotas em que animais de grande porte ainda são abundantes. É necessário que o número de acidentes seja reduzido em razão da implementação de medidas mitigadoras e não por conta do alto número de atropelamentos nas rodovias, que contribui para a redução da população desses animais.
É sempre bom lembrar que, apesar de ser alarmante também ter pessoas morrendo por conta de travessias de fauna nas rodovias, os animais sempre serão as principais vítimas de qualquer acidente nas estradas.
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