Encontrei um filhote de pássaro caído no chão. E agora?

As alterações climáticas chegaram para valer e já estou começando a notar sinais de reprodução, nidificação e até pais criando filhotes – um pouco antes do padrão para os pássaros. Então, percebi que o momento é bastante oportuno para este artigo. Assim você vai saber o que fazer quando encontrar um filhote de ave no chão.

Eu já encontrei muitos filhotes de pássaros na vida; tantos que já perdi a conta. Confesso que já errei na conduta de resgatar quem não precisava e também cometi outros pequenos equívocos fáceis de resolver, que me trouxeram muita chateação. Este artigo tem a finalidade de orientar você sobre as situações que podem causar dúvidas ou aborrecimentos sobre esse tema tão importante.

Encontrar um filhote de pássaro pode ser uma experiência emocionante e preocupante ao mesmo tempo. Eu sei que aqueles “olhinhos indefesos” e a plumagem fofinha são um convite quase irrecusável e o desejo é de resgatá-lo imediatamente. Apesar disso, na grande maioria dos casos, a intervenção é a pior conduta para a ave. A seguir vou explicar em detalhes o que, quando e como fazer para que você de fato ajude o filhotinho.

Nem sempre se deve resgatar

Eu sei que parece contra intuitivo, mas a grande maioria dos filhotes encontrados no chão não precisam e não devem ser resgatados. Os filhotes de pássaros passam por um longo período de cuidado bastante intensivo dos pais, sendo que a maior parte das espécies tem um tempo de incubação de 14 dias, alimentação no ninho de mais 14 dias até emplumar e cerca de uma semana no chão, aprendendo a alimentar-se sozinho e a voar. É justamente nessa semana, chamada de “desmame”, que a maioria dos filhotes são encontrados e resgatados de forma errada, na grande maioria das vezes.

A fase de desmame é natural e precisa ser vivenciada pelos filhotes com os pais por perto, que ficam o tempo todo alimentando, protegendo e os ensinando. Se o filhote for resgatado por você nessa etapa de desenvolvimento, pode até ser cuidado adequadamente, mas não terá todo o aprendizado de como se alimentar sozinho e, principalmente, como lidar com predadores e outras incontáveis situações que definem o comportamento de um pássaro silvestre.

É quase impossível impedir que pássaros sob cuidados humanos não tenham comportamentos diferentes do natural – que, infelizmente, não irão colaborar com a sua sobrevivência na natureza. Além desta parte comportamental que somos incapazes de suprir, devo alertar que as exigências nutricionais dos filhotes também representam um desafio gigantesco, mesmo com a grande variedade de alimentos dedicados a essa fase do animal que podemos encontrar no mercado. Acontece que, além da dieta entre as espécies ser muito variada, a frequência de alimentação e a dificuldade para que os filhotes aceitem o alimento são grandes limitadores do nosso sucesso nessa empreitada.

Quando resgatar

No entanto, em algumas situações bastante específicas, como claro risco de predação, ferimento visível, hipotermia (temperatura corporal abaixo da normal) ou hipertermia (temperatura corporal acima da normal), filhotes “pelados” ou sem a cobertura completa de penas ou visivelmente pouco ativos precisam ser imediatamente resgatados e amparados para que tenham alguma chance de sobrevivência.

O cuidado imediato não é “força de expressão”; é necessidade mesmo. E os cuidados que você precisa ter antes mesmo de buscar um socorro especializado é restabelecer a temperatura corporal normal aquecendo (hipotermia) ou resfriando (hipertermia) o filhote, com as mãos em forma de concha ou assoprando, respectivamente. Filhotes muito “molinhos”, sem reação, frequentemente estão em estado de hipotermia, pois, como nas aves a temperatura corporal normal é muito alta, cerca de 42ºC, a hipotermia quase sempre acontece e pode ser fatal. Nessa condição, os filhotes recusam ser alimentados e as chances de repor as energias se acabam.

Em ambiente domiciliar, boas fontes de calor são lâmpadas incandescentes ou de cerâmica, pois fornecem calor de forma constante, mas cuidado para não fornecer calor demais. Sempre permita que o filhote possa se afastar da lâmpada em uma caixa de papelão grande, com a fonte de calor fixada em uma extremidade, por exemplo.

Em relação à alimentação, eu recomendo muito as opções de ração comercial das marcas Alcon, CC Albium e Megazoo para pássaros. Se o filhote não for um passarinho e sim um periquito, maritaca, papagaio ou outro parente de “bico torto”, existem rações para filhotes específicas para eles. Nesse caso, eu recomendo a Nutrópica, Alcon ou Megazoo para filhotes de psitacídeos.

Mas pode ainda acontecer de você não ter como oferecer uma dessas opções de ração industrializada, pelo horário ou falta de disponibilidade na região. Nesse caso, vou passar uma receitinha caseira com ingredientes mais acessíveis.

Fórmula emergencial para alimentação de filhotes

• ½ copo de ração de cachorro
• uma gema de ovo cozida
• duas colheres de sopa de cereal para bebês (Mucilon)
• uma colher de chá de suco de maçã e outra de farinha de ossos (se possível)

Misture os ingredientes com água no liquidificador ou mixer até obter uma consistência de mingau, que você deve manter na geladeira por até 24h somente – depois deverá descartar. Imediatamente antes de oferecer a fórmula caseira, aqueça (cuidado para não deixar muito quente) e ajuste a consistência.

A frequência de alimentação para filhotes de aves já emplumados deve ser a cada 60 minutos o dia todo até que ele esteja alimentando-se de forma independente. Filhotes não emplumados precisam ser alimentados a cada 20 ou 30 minutos o dia todo.

Quando a ajuda é devolver ao ninho

A conduta em relação ao filhote não emplumado também é um pouco diferente, pois ele precisaria estar no ninho. Nesse caso, verifique se os pais estão por porte e qual o comportamento deles. Caso encontre os pais, a melhor opção é colocar o filhote no ninho original ou improvisar um ninho com uma cestinha furadinha, para que não acumule líquidos, e prendê-la na árvore, observando sempre o comportamento dos pais.  É mito a informação de que os filhotes serão rejeitados quando tocados por humanos, pois os pássaros tem um péssimo olfato. No entanto, evite ficar visível na região por muito tempo, para não estressar os pais que, neste caso, podem abandonar o ninho.

Em caso de ferimentos ou apatia grave, coloque o filhote em uma caixa de papelão confortável e aquecida e leve para um centro de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) ou clínica veterinária ou peça ajuda para a PM Ambiental ou Guarda Civil Ambiental de seu município para fazer o resgate o quanto antes.

Bom, acho que deu para entender que quase sempre a melhor conduta é manter o filhote de ave na natureza com seus pais e que cuidar de um filhote não é tarefa simples nem fácil, que demanda paciência, tempo e dedicação intensa. Se este artigo esclareceu e ajudou você a tomar as melhores decisões, compartilhe e não deixe de acompanhar meus conteúdos aqui no Fauna News.

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Obrigada!

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