Por Daniel Nogueira
Biólogo, especialista em Ecoturismo e analista ambiental do Ibama. É o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama localizado em Lorena (SP)
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Na minha contribuição deste mês, apresento a experiência de elaboração e execução de uma ação que pode ser realizada em um centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras), mas que não exatamente se refere com a recepção, triagem e destinação de fauna. Contudo, não obstante a isso, tem uma grande importância positiva para que a missão dos centros seja alcançada.
Já foi dito, mas é importante relembrar, que os problemas de relacionamento que as nossas sociedades têm gerado são, infelizmente, facilmente detectados nos grandes impactos negativos à fauna silvestre. Também é importante lembrar que os Cetras, mesmo fazendo um ótimo trabalho no enfrentamento desses problemas, ainda são insuficientes, por si só, no atendimento desses nefastos sintomas e/ou consequências aos animais no nosso país.
Também vale mencionar, como muito bem apresentado na coluna Educação Ambiental do Fauna News, que a prática educativa é uma ferramenta poderosa que tem caráter preventivo e age na causa de tudo que se desenha negativo nas sociedades humanas, incluindo, é lógico, os incontáveis problemas relacionados à fauna silvestre.
Mas cabem aos Cetras incluírem nas suas práticas, cujos objetivos se relacionam ao cuidado dos animais, a realização de ações de educação ambiental?
No artigo da coluna Educação Ambiental de 20 de maio de 2021, o colega Emerson Strack Skrabe responde muito bem, e positivamente, a essa pergunta.
O Centro de Tiragem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama de Lorena (SP) tem desenvolvido, historicamente, um projeto de educação ambiental que usa ações de conscientização, sensibilização e informação pela ação, focalizado em crianças e adolescentes. Os trabalhos são executados desde 2013, em parcerias com secretarias de Educação de municípios do Vale do Paraíba paulista, região onde o centro do Ibama de Lorena está localizado.
De maneira muito resumida, as ações de educação ambiental do Cetas do Ibama de Lorena se caracterizam por tratar o problema básico da fauna silvestre, tentando promover com as crianças e jovens, público-alvo do projeto, uma mudança do nosso comportamento em relação aos animais. Usando a ferramenta da sensibilidade, emoção e empatia, tentamos divulgar uma linguagem de boas práticas sobre como nos relacionamos com os animais, tanto os silvestres como os domésticos.
Essa importante missão do projeto tem como ferramentas atividades lúdicas, vídeos temáticos, contos e recontos de histórias e oficinas práticas, que são realizadas nas unidades escolares. Essas ações podem ser propostas tanto por nós do Cetas, como por os profissionais de educação que foram sensibilizados.
O segundo momento educativo, como uma culminância do projeto, é realizado em uma área de soltura de animais silvestres (Asas) parceira, que é o local onde ocorre o ápice, o coroamento simbólico e prático das ações do Cetas: a soltura de animais em seus ambientes naturais. As crianças que já passaram pela sensibilização nas suas unidades escolares visitam uma Asas escolhida e adequada, de maneira a ser uma experiência positiva e simbólica de libertação dos animais que estavam em seu processo final de aclimatação e reabilitação.
O projeto de educação ambiental “Cetas Ibama Lorena/SP em Parceria com a Área de Soltura se Animais Silvestres (Asas) Fazenda Nova Gokula e Secretaria de Educação de Pindamonhangaba/SP”, proposto pelo Cetas em parceria como Núcleo de Educação Ambiental do Ibama de São Paulo e a Asas Fazenda Nova Gokula, é uma ação que compõe a Política Nacional de Educação Ambiental do Ibama em Defesa da Fauna Silvestre. O trabalho está proposto para a rede municipal de ensino de Pindamonhangaba/SP para os anos de 2020, 2021 e 2022.
De maneira a proporcionar uma maior capacidade e alcance, uma estratégia imprescindível do projeto é realizar uma sensibilização dos profissionais de educação. Isso significa realizar momentos de troca de ideias e informações entre nós, do Cetas, e os professores, para que eles possam realizar e multiplicar o projeto mesmo sem a nossa presença.
Um dos furtos do projeto é o gibi Libertar é Preciso, material elaborado a partir da equipe técnica de uma Asas parceira e que se tornou uma ferramenta educativa.
As ações de educação ambiental podem até ser consideradas ou avaliadas como secundárias ou alternativas para a vivência de um Cetras. Contudo, acredito que elas figuram como uma das atividades que tem maior efetividade para cumprirmos nossa função. Elas vão na raiz do problema, tendo a potência e a capacidade de alterar os comportamentos das pessoas, desde muito novas, para que não tenham ações impactantes sobre a fauna e para que sejam agentes de propagação dessa ideia.
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