Educação ambiental na aviação: pilar para redução do risco de fauna

Sabe-se que a segurança da aviação, no que diz respeito ao gerenciamento de risco de fauna (colisões de aeronaves com animais), transcende as questões técnicas das aeronaves, as questões ecológicas da fauna e as complexas operações aeroportuárias. Um dos aspectos críticos, porém, frequentemente subestimados, é a comunicação com os stakeholders (partes interessadas).

Ao longo dos anos, colisões entre aeronaves e animais têm resultado em perdas financeiras significativas. Todavia, um fator essencial para mitigar esse risco está, curiosamente, fora das pistas: a sensibilização de todos os profissionais envolvidos no setor aéreo e da comunidade do entorno do aeródromo.

Tripulantes, controladores de voo, equipes de solo, cessionários e gestores aeroportuários precisam compreender que o risco de fauna não se restringe a medidas tecnológicas, afugentamentos ou translocações de animais para fora do aeródromo. A compreensão das interações entre fauna, ambiente e seres humanos e da dinâmica ambiental dentro e ao redor dos aeroportos é fundamental.

E isso demanda uma determinada perspectiva: a de que o risco de fauna é uma questão de segurança operacional, mas também ambiental. Mais que isso, é fundamental encarar a educação ambiental como uma ferramenta poderosa de transformação, que não deve estar limitada a atividades romantizadas envolvendo lixeiras coloridas e ecobags que são lembradas apenas no 5 de junho.

Educar esses profissionais quanto aos focos atrativos de fauna, quanto à problemática de disponibilizar água, alimento e abrigo e quanto à importância de reportar ocorrências, por exemplo, é uma das estratégias nas quais deve estar pautado o trabalho do operador do aeródromo.

Sensibilização da comunidade aeroportuária

Um programa estruturado de educação ambiental deve começar pela comunidade aeroportuária: quem são as pessoas envolvidas nessa rotina? Quais são os elos cujas atividades possuem interface com o gerenciamento de risco de fauna? Exemplifico: os responsáveis pelo gerenciamento de resíduos sólidos na área operacional, por exemplo, precisam saber que o acondicionamento incorreto do lixo pode atrair animais; um cessionário sediado no Lado Ar (área restrita onde ocorrem as operações relacionadas diretamente com aeronaves) precisa saber que, ao disponibilizar para um animal um pote de ração ou recipiente com resto de alimento, está colocando a segurança operacional em risco. Isso vale também para portões deixados abertos, que constituem uma grande vulnerabilidade, especialmente quando se trata de mamíferos (domésticos ou silvestres).

As companhias aéreas também desempenham um papel crucial. A introdução de atividades de atualização para tripulantes, mecânicos e equipes de solo, trabalhando temas como a cultura de reportes e a coleta de material biológico oriundo de colisões para análise genômica, contribui para uma abordagem mais preventiva e integrada.

Note que não se trata apenas de treinamento técnico às equipes da linha de frente: estamos falando da promoção de uma cultura organizacional que valorize a educação ambiental como parte estratégica do sistema de gerenciamento de segurança operacional.

Portanto, a comunidade do entorno também deve ser contemplada e isso nos permite adentrar a um mar de possibilidades: a população circunvizinha, ciente dos riscos concernentes à Área de Segurança Aeroportuária, pode ser uma rede de apoio para cobrar, junto às autoridades municipais e ambientais, uma melhor gestão pública do gerenciamento de resíduos sólidos urbanos.

Escolas e universidades podem desenvolver atividades de ensino, pesquisa e extensão que envolvam o assunto, oportunizando aos alunos o exercício da integração entre o conhecimento científico e sua aplicação prática. Ademais, os jovens que hoje são sensibilizados quanto ao tema por meio dessas atividades poderão fazer parte da comunidade aeroportuária num futuro próximo.

Essa visão integrada faz com que o operador aeroportuário esteja mais conectado com seu entorno imediato. A segurança operacional na aviação é um esforço coletivo e a educação ambiental para o gerenciamento de risco de fauna é um pilar indispensável, além de constituir um avanço necessário para o futuro do setor aéreo.

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