Educação ambiental: e quando os velhos paradigmas precisam ser revisitados?

Sou educadora ambiental com muitos anos de experiência. Acredito no poder da educação como caminho de transformação para que as pessoas despertem seus talentos, muitas vezes adormecidos, se aperfeiçoem em campos diversos e, assim, contribuam para um mundo mais justo e sustentável. Claro que a educação pode também levar à destruição, se essa for a escolha do aprendiz. Mas aqui vou me ater ao que seria ideal em um mundo ético.

A educação ambiental foi formulada nas décadas de 1960-70, muito em resposta a desastres ambientais que passaram a ocorrer por conta do modelo de desenvolvimento em curso, que começava a mostrar evidências de perigos e danos nunca vistos. Foi quando se começou a questionar mais profundamente a necessidade de mudar os sistemas que traziam lucros, confortos e vantagens para alguns, mas consequências destrutivas a muitos e, principalmente, ao meio natural.

Tratava-se de um novo paradigma que precisava ser elaborado, pois as primeiras evidências de insustentabilidade já se evidenciavam. Foi nesse cenário de buscas por caminhos mais promissores que um grupo de educadores se reuniu (aliás foram muitas reuniões) para pensar no que deveria ser adicionado à educação que pudesse trazer a humanidade a considerar a importância da proteção da natureza, além das demais prioridades do todo dia.

Por muitos anos, a preocupação maior da educação ambiental teve seu foco principal na conservação ambiental, sem levar em conta melhorias sociais. Isso porque seus princípios partiram do norte, onde as diferenças sociais são (ou eram) consideravelmente menores. Foram os países latinos que introduziram as necessidades sociais na educação ambiental e acabaram por trazer à tona o que hoje é conhecido como socioambientalismo: um equilíbrio entre necessidades humanas e da natureza. Mesmo que a palavra não exista em um dicionário tradicional, já há uma compreensão bastante difundida sobre o que significa.

De tempos em tempos, no entanto, surge a necessidade de se revistar conceitos formulados dentro de um determinado contexto e tempo na história. Tudo muda e as transformações exigem ajustes nas condutas humanas, que dependem de conhecimentos e valores. Alguns valores baseados na ética deveriam ser invioláveis e inquestionáveis, mas o que se vê é, bem longe, o que poderia ser chamado de ético.

Comportamentos antiéticos com animais

Um bom exemplo de comportamentos antiéticos com uma espécie selvagem é a recente história de uma moça e seu pai que atiraram em uma onça-parda (Puma concolor) acuada em uma árvore, que acabou por ser morta a pauladas pela filha. O pior da cena é a celebração pelo feito com gritos de alegria.

Outro exemplo é a caça esportiva que continua a ser uma atividade apontada como heroica por quem a pratica. Ora, num mundo onde a maioria das espécies encontra-se ameaçada de desaparecimento por ações humanas, a caça deveria ser inconcebível e abolida definitivamente.

Já em relação à criação de animais para o abate, a situação é ainda pior, pois não parece haver questionamento sobre como são tratados os que acabam vindo à mesa para serem digeridos. Pintinhos triturados vivos e bois abatidos em situações terríveis são detalhes que nem entram na pauta das preocupações de grande parte dos consumidores.

Esses exemplos mostram a involução dessa humanidade que agora enfrenta incêndios florestais ou enchentes inesperadas, consequências de ações irresponsáveis. Percebe-se que a Ciência é ignorada e predomina a ganância por posses e poder sobre escolhas que deveriam proteger a natureza e as pessoas em geral.

Reflexões sobre necessidades de ajustes

Em decorrência aos cenários atuais, a educação ambiental precisa ser revisitada. Quais os ingredientes que devem ser inseridos para que o amor pela vida, com base no respeito e no encantamento, possa despertar um senso consistente ao valor de cada ser que compõe a riqueza do planeta?

As novidades apresentadas pela educação ambiental na década de 1970 que pareciam ser promissoras estão falhando. Falham também outras formas de proteção da natureza como leis, que volta e meia são flexibilizadas para permitir desmatamentos, loteamentos ou qualquer outra iniciativa que significa perdas no mundo natural.

Uma transformação precisa dar voz a mudanças que nos levem a valorizar e assim salvar a biodiversidade, maior riqueza do planeta da qual a espécie humana faz parte. Se o processo de destruição continuar no ritmo atual, as chances de sobrevivência da vida como a conhecemos são pífias.

Que educação nos levaria a novos paradigmas?

A resposta pode ainda ser preliminar, mas, com certeza, precisa ser pautada em valoração da vida nos seus mais ínfimos detalhes. Hoje, com tanta tecnologia disponível, é possível observar detalhes que antes passavam desapercebidos. O uso dessas ferramentas sem dúvida deve entrar na pauta dessa nova educação. Conhecer mais para se encantar mais e amar mais. Isso inclui toda a vasta diversidade de gente e de natureza, que em suas imensas diferenças enriquecem o planeta. Com a celebração dessa vida tão diversa, deve também ser instituído um senso de responsabilidade de sua proteção como sendo de todos.

A educação deve também utilizar de meios de comunicação modernos, por sua rapidez e eficácia. Será preciso definir que mensagens se quer passar, sendo que a forma e as técnicas poderão ser variadas de acordo com o público a quem se dirigem.

A Ciência precisa sempre ser a base dos conteúdos, mas diversas expressões de arte podem ajudar a sensibilizar. Mais uma vez devem ser utilizados os preceitos da educação ambiental tradicional, que se baseia em conhecimentos (lado racional do cérebro) e valores (lado intuitivo e sensível do cérebro) de maneira integrada. A intensidade e a assiduidade com que temas socioambientais sejam repassadas devem ser ampliadas para responder à urgência que se está observando em todo o planeta.

Cuidar da vida, do planeta, precisa ser prioridade. Não há mais como adiar. Juntar pensadores como ocorreu quando a educação ambiental foi formulada pode ser uma boa tática para elaborar novos caminhos que ajudem a trazer luz ao que muitas vezes se percebe sombrio. Novos paradigmas somados aos anteriores se fazem necessários e o caminho do amor pela vida é, sem dúvida, mais promissor do que o caminho da dor, que temos vivenciado por meio dos eventos climáticos extremos com catástrofes que causam perdas cada vez mais doloridas.

Antes que seja tarde demais, devemos utilizar a criatividade humana para reinventar o que vale a pena. E a vida nesse planeta, com tanta riqueza, beleza e diversidade, certamente vale o empenho de todos para a sua proteção.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).