Educação ambiental e o Mural do Clima

Por Suzana Padua

Mestra em educação ambiental e doutora em desenvolvimento sustentável. Co-fundadora e presidente do IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas)
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Baseado inteiramente em informações científicas extraídas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), o Mural do Clima é uma oficina produzida pelo francês Cedric Ringenbach, com o objetivo de disseminar informações sobre os efeitos das mudanças climáticas que hoje o mundo enfrenta. A oficina consiste em uma troca entre os participantes, como um jogo, desenhado para jovens e adultos, no qual a complexidade dos assuntos passa a ser mais ou menos aprofundada. Crianças também podem “jogar”, mas com uma versão kids, cujos conceitos são apresentados de forma mais simplificada.

O Mural do Clima é composto por decks de cartas com questões que apontam causas ou consequências das ações humanas, das quais derivam as mudanças climáticas. Cada grupo de participantes se posiciona ao redor de um grande papel craft colocado sobre uma mesa comprida, e recebe cartas iniciais, que inclui a figura humana desenhada por Leonardo Da Vinci (Homem Vitruviano), que dá origem a toda a trajetória que se segue.

O jogo é composto de cinco decks de cartas distribuídas em uma ordem preestabelecida. A versão adulta tem 42 cartas, enquanto a juvenil é composta por apenas 21. As questões abordadas abrangem diferentes tópicos, como: agropecuária, biodiversidade terrestre e marinha, ciclo hidrológico, desmatamento, energia, efeito estufa, incêndios florestais, entre outros assuntos. A distribuição das cartas traz inicialmente informações sobre o estado em que se encontram algumas dessas questões.

Outras cartas estimulam o participante a perceberem causas e consequências de cada escolha feita, seja por energia advinda de combustíveis fósseis, seja desmatamentos para darem lugar a monoculturas, como ocorre na Amazônia brasileira, por exemplo.

Andréa Pupo, pesquisadora e educadora ambiental do IPÊ, vem se especializando em mudanças climáticas, tendo desenvolvido um programa que denominou de Escolas Climáticas, que trata de vários temas pertinentes à crise climática e estimula a adoção de medidas sustentáveis.

Coletivos socioambientais são formados em cada escola para tomar decisões e gerir composteiras, coleta seletiva, salas de aula ao ar livre, hortas com princípios agroflorestais, entre outras ações. Nas Escolas Climáticas da região do Sistema Cantareira (SP), o foco principal tem sido água, pela importância inquestionável do que representa, principalmente nessa região, responsável pelo abastecimento e distribuição para mais de sete milhões de pessoas que vivem nas zonas metropolitanas de São Paulo e cidades do interior, que incluem polos industriais de grande porte.

Andréa vem se preparando para ser porta-voz do tema Educação em Mudanças Climáticas no IPÊ, tendo feito o mestrado da ESCAS – IPÊ (Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade, braço educacional do IPÊ), e cursos com equipes especializadas. Hoje é certificada como facilitadora para administrar o Mural do Clima, além de líder climática do Climate Project no Brasil.

O Mural do Clima e um outro jogo produzido pelo professor Marcos Ortiz e a equipe da ESCAS – IPÊ (inclusive a Andréa Pupo), o Sustentabilidade em Jogo têm sido aplicados a diferentes públicos, inclusive nas Escolas Climáticas e em grupos empresariais interessados nos assuntos que abordam.

A ideia de ambos os jogos (ou oficinas) é chamar atenção para a importância da conservação da biodiversidade, da água e da natureza em equilíbrio para a vida das pessoas, das demais espécies e elementos naturais, e dos negócios. Importante que todos percebam os efeitos dos comportamentos humanos, que podem ser negativos ou positivos, sobre suas atividades pessoais e profissionais. Em ambientes sadios tudo corre bem, mas quando são degradados, as consequências são nefastas, inclusive com danos à saúde física e mental das pessoas.

Isso sem mencionar o efeito sobre os reinos animal e vegetal e dos elementos indispensáveis à vida como água, ar, solo, entre outros.

Escolhas sustentáveis
As escolhas cotidianas da humanidade precisam ser responsáveis e sustentáveis, uma vez que o planeta Terra é nosso lar. Nós, humanos, somos parte e dependemos de todo esse sistema vivo, mas nos esquecemos facilmente disso na correria da vida urbana, longe de uma natureza que inspire o desejo de a proteger. Acabamos priorizando outros aspectos da vida até nos depararmos com questões que trazem risco à nossa própria sobrevivência, como agora são os efeitos das mudanças climáticas.

O Mural do Clima é uma oficina pedagógica que hoje está presente em mais de 50 países. No Brasil, milhares de pessoas já participaram. Com isso conhecimentos científicos vêm sendo transmitidos sobre impactos e possíveis soluções que teremos que lidar para reverter o quadro de perdas e riscos com os quais nos deparamos hoje.

No IPÊ, quando Andréa Pupo administrou a oficina para nossa equipe de pesquisadores e técnicos, o envolvimento foi imenso. A última etapa, que consiste na busca por soluções, se mostrou ser fundamental após todos terem levantado tantos problemas existentes. Essa é a parte da oficina que ajuda a reduzir o que hoje vem sendo chamado de ansiedade climática, ou angústia climática, que ocorre quando se percebe com maior profundidade o que está acontecendo no mundo. Sendo assim, esse tempo para se trabalhar as possíveis soluções, e o que cada um pode fazer em seu ambiente pessoal e profissional traz esperança. É nessa fase que são traçadas as possíveis ações para que se vislumbre um mundo mais equilibrado e rico em diversidade.

O Mural do Clima tem tido uma aceitação impressionante. Com apenas três anos de existência já havia sido traduzido para mais de 30 línguas, aplicado em mais de 50 países e hoje já tendo preparado 10 mil facilitadores que aplicaram a oficina a quase 1 milhão de participantes. Talvez a urgência do tema ajude à aceitação e ânsia de se buscar caminhos que possam trazer novos rumos para a humanidade. Mas, o importante é que se perceba a urgência e a necessidade de se buscar soluções a questões complexas como combustíveis fósseis, desmatamento, elevação das temperaturas, secas e enchentes, entre outros, sempre com base em conhecimentos divulgados pelo IPCC.

Por mais que sejam complexas as questões abordadas, o importante é que se perceba a ligação entre causas e consequências das escolhas feitas pelos seres humanos, que sempre tentam evitar assumir responsabilidade por seus atos. A hora de mudar é agora. O planeta precisa de nosso empenho e de nossa vontade de reverter a tendência dominante, que não é favorável à vida como a conhecemos.

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