
Por Dimas Marques
Editor do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
Setembro chegou, a primavera se aproxima e os filhotes de papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) começam a nascer no Cerrado do Mato Grosso do Sul e estados vizinhos como Mato Grosso, Tocantins, Minas Gerais e oeste da Bahia. Para os traficantes de animais, o período é bastante aguardado, pois o lucro é certo.
Como os papagaios sempre botam seus ovos na mesma época e nos mesmos troncos de árvores ou, pelo menos, na mesma região, os bandidos já sabem ondem encontrar suas mercadorias. Os traficantes profissionais, grande parte vindos de São Paulo, encomendam então as aves para sitiantes, trabalhadores rurais e moradores, que passam a monitorar os ninhos.
No Mato Grosso do Sul, principal centro de atuação dos traficantes de papagaios-verdadeiros, a região crítica é formada pelos municípios de Jateí, Batayporã, Bataguassu, Ivinhema, Novo Horizonte do Sul, Anaurilândia, Santa Rita do Pardo, Nova Andradina, Brasilândia, Naviraí e Mundo Novo.
Iniciados os nascimentos, os bandidos começam a coletar os pequenos filhotes. Quando o destino é a Região Metropolitana de São Paulo, os traficantes entram em território paulista principalmente de Bataguassu (MS) para Presidente Epitácio (SP), onde a rodovia BR 267 ganha o nome de SP 270 (Raposo Tavares) – na divisa tem a ponte sobre o rio Paraná, ponto em que até a PM Rodoviária de São Paulo já atua com foco nos papagaios.
E a polícia já conhece tudo isso. Para tentar evitar a retirada das aves dos ninhos, todos os anos operações são organizadas pela PM Ambiental do MS e outros órgãos de fiscalização e repressão. Bloqueios são organizados nas estradas, moradores envolvidos com o tráfico passam a ser monitorados e a população orientada a não se envolver com o crime.
Mas, o tráfico persiste.
Talvez as ações da polícia não sejam suficientes. Com certeza, a educação ambiental não é. Também contribui a péssima legislação, que não permite que traficantes de fauna fiquem presos. E nesse contexto, os papagaios continuam a chegar nos grandes centros urbanos, onde serão transformados em bichos de estimação em poleiros e viveiros, com correntes nas pernas ou asas cortadas.
Neste ano, o período de reprodução dessas aves já começou. E as apreensões também.
“Na noite deste sábado (14), policiais militares flagraram traficante com 150 papagaios encaixotados em um Fia Uno na BR-267, próximo ao posto de combustíveis Prudentão, em Bataguassu. Equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) foi acionada, o homem, de 50 anos, foi multado em R$ 750 mil.
O traficante disse que pegou os papagaios em ninhos de fazendas na região do Distrito de Casa Verde, no município de Nova Andradina. No Estado de São Paulo, ele venderia cada ave por R$ 100.” – texto da matéria “PMA flagra traficante com 150 papagaios e aplica multa de R$ 750 mil”, publicada em 15 de setembro de 2019 pelo site Campo Grande News
Um detalhe: o infrator está solto e mora em Ivinhema (MS), portanto pode voltar a traficar animais.
No mesmo dia, em Manga (MG), também já houve apreensão. Na altura do km 82 da BR 135, uma equipe da PM Ambiental mineira parou um Escort e, durante a vistoria, foram encontrados 242 filhotes de papagaios-verdadeiros e seis de araras-canindé (Ara Ararauna).
Uma pessoa foi detida e multada em R$ 2.674.418,76. Os animais forma levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama em Montes Claros.
Nesta época, não são apenas os papagaios-verdadeiros que são traficados. Como há uma coincidência de períodos reprodutivos para aves da família Psitaciforme (papagaios, araras, maritacas, etc.), muitos filhotes de espécies desse grupo acabam também sendo traficados. É o caso das araras-canindé.
Em um imóvel no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, por exemplo, dois filhotes de araras-canindé também foram apreendidos dia 12 durante uma ação da Polícia Federal contra traficantes de fauna que vendiam animais, principalmente aranhas, por redes sociais. Na operação, batizada de Ecdise, foram encontrados também outras duas araras-canindé (adultas) dois jabutis-piranga, duas cobras corn snake, um tucano-de-bico-preto, um tucano-toco, uma gavião-asa-de-telha, dois saguis, dois papagaios-verdadeiros adultos, aranhas, oito peixes de diferentes espécies e sete camundongos.
Duas pessoas foram presas. As investigações começaram em 2018 na delegacia de Polícia Federal de Macaé (RJ). Na ação, além de policiais federais, participaram equipes do Ibama e da PM Ambiental do Rio de Janeiro. Mandados de busca também foram cumpridos em de busca em Cabo Frio, Petrópolis, no Rio de Janeiro, em Ibatiba (ES), em Maringá (PR), e na capital paulista.
Apesar das ações dos órgãos de fiscalização, somente uma pequena parte dos animais capturados na natureza para abastecer o tráfico de fauna é apreendida. A grande maioria chega à casa das pessoas para virar mascote.
Quem compra sustenta o tráfico.
Quem compra acaba com a liberdade de uma vida.
Quem compra contribui para desequilíbrios ambientais.
Quem compra coloca em risco a própria saúde e a de familiares e amigos.
Quem compra, pode alegar amor, mas é cruel.