Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
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Oi, gente!
Dia desses, “sapeando” por um serviço de streaming por assinatura de séries, filmes e documentários, me deparei com um monte de coisa sobre natureza. A maioria eu já assisti e resolvi abordar sobre os melhores (no meu ponto de vista) em alguns artigos.
A Netflix oferece a série “Nosso Planeta”, narrada no idioma original por Sir David Attenbourogh e em português pelo magistral Jorge Helal. É uma série que me fascinou por mostrar a vida selvagem, a beleza natural do nosso mundo e como as mudanças climáticas impactam a vida de todas as criaturas, inclusive a nossa. Essa série poderia ser apenas “mais do mesmo” ao tratar desse assunto, nos fazendo pensar que se trata de mais um daqueles programas do Discovery Channel que se torna chato ao longo da sua exibição. Mas ela tem uma narrativa tão grandiosa que envolve, nos fazendo questionar qual é a nossa parcela de culpa em tudo de errado que acontece ao redor, no planeta. “Ah, mas é de 2019, e eu já assisti”. Legal, fico feliz por você. Garanto que minha análise sobre a série vai fazer você assisti-la novamente, como eu fiz. E por isso resolvi escrever sobre ela, além de ser uma dica para aqueles que ainda não viram. Descobri que ela continua (infelizmente) atual. Vamos lá!
A série tem a função de tratar justamente do equilíbrio que faz a natureza funcionar, desde a cadeia alimentar, que é respeitada pelos animais, até a adaptação de espécies aos climas que surgiram há milhares de anos. “Nosso Planeta” pretende explicar como tudo isso funciona. E nada aqui é desnecessário. Entender como cada coisa funciona dentro desses processos torna a série interessante e curiosa. E vale destacar uma coisa bem legal: você lembra quando assistia documentários antigos, em que um predador chega ameaçando sua presa e termina a cena fechando o “círculo da vida”? Nessa série tem muitos momentos assim, que são até dramáticos. Mas a sacada é explicar que o grande predador, que não aparece explicitamente na narrativa, somos nós, os seres humanos. A tática de culpar o homem por (grande) parte do desequilíbrio natural é certeira. A série usa imagens espetaculares para isso. Tecnologia, cenários naturais e capturas de imagens extraordinárias, que transformam a TV em uma caixa de surpresas. Esse tipo de ação serve para conquistar o telespectador (eu!!!) de forma que ele aprecie a natureza em seu mais espetacular formato. Uma idéia que com certeza vai inspirar outros trabalhos.
Depois de criada essa admiração, nasce a reflexão de que existem problemas delicados, que necessitam de discussões e que podem estar sendo causados por um simples ato que parte de nós, seres humanos. Algo que pode até nos assustar, na medida em que entendemos que “A Terra está ok, mas pode colapsar a qualquer momento”. E um pequeno e simples problema para nós e nossas ações para resolvermos essa situação podem impactar de forma gigantesca no equilíbrio natural.
Dito isso, assistir ao primeiro episódio da série é um “tapa com luva de pelica”. Fica claro que existe o bonito, o natural, o encantador. E essas imagens falam por si. Mas a lição que fica é que cada uma dessas coisas incríveis que aparecem na série, atualmente, são raras. E há pouco tempo não eram. Então, ter a atenção ao que é mostrado é essencial para compreender como nós somos responsáveis por cada mudança que aconteceu no planeta. E as conseqüências que isso tem. Cada parte do todo mostra isso muito bem, indo da beleza ao problema, passando pela esperança de que ainda temos tempo para mudar esse panorama. E nada é exagerado ou apelativo. Tudo se encaixa perfeitamente, como as engrenagens de um relógio suíço, para fazer a história andar com uma trama consistente e de qualidade.
Como eu já falei antes, essa série quer fazer a população pensar. Se encantar pela natureza é mais do que necessário e, talvez, uma coisa que muita gente não se permite fazer. E essa junção de imagens pode ajudar isso acontecer. Por mais que o cenário seja catastrófico, a natureza encontrará um meio, um caminho a seguir. Mesmo que, para nós humanos, isso traga consequências impensáveis. Ao terminar cada episódio, você vai se pegar pensando no que viu e se perguntando: como posso mudar isso? O que posso fazer a partir de agora para que outros se inspirem e comecem a agir também?
A natureza está pronta para dar uma resposta aos maus-tratos que recebe. Muita coisa já está acontecendo e vemos o resultado disso. Em talvez 20, 30 ou 40 anos, as mudanças climáticas serão ainda mais notáveis e severas. Mas ainda temos tempo para amenizar essa realidade. Assim, assistir a “Nosso Planeta” poderia ser apenas mais um passatempo normal, uma série normal. Mas garanto que ao terminar a maratona, você se pegará olhando para a TV e sentindo uma conexão bem maior com a natureza do que no início da série. Assista, reflita e entenda. E pratique e ensine. É disso que a natureza precisa.
E para quem é da área da fotografia e do vídeo, precisa saber que essa série é o resultado de 400 mil (!) horas de filmagens feitas com câmeras trap, mais de 6.600 voos de drones e duas mil horas de mergulho em mais de 50 países ao redor do mundo. E tudo isso levou quatro anos para ser reunido. Todo esse material foi captado por mais de 600 profissionais de vídeo e fotografia, que trabalharam em diversas condições climáticas – do frio do Ártico ao calor escaldante de desertos – para conseguirem a imagem ou a cena perfeita. Assista a um trailer da série, caso ainda não tenha visto.
https://www.youtube.com/watch?v=IEl1u_hHKac
A Netflix (produtora original da série) liberou “completamente de grátis” a primeira temporada da série. É só clicar e assistir, mesmo não sendo assinante.
Bom, como a Netflix aparentemente pensa em todos os públicos, eles tiveram a grande idéia de lançar um documentário secundário chamado “Nosso Planeta – Um Outro Ângulo”, que mostra os bastidores da produção de “Nosso Planeta”. Um verdadeiro banquete para quem curte e trabalha com fotografia de natureza. Aí podemos ver como videomakers e fotógrafos travaram verdadeiras batalhas por dias, semanas, meses e anos por uma cena que dura pouco mais que alguns segundos ou minutos. É impressionante!
Esse documentário tem pouco mais de uma hora de duração, mas prende nossa atenção do início ao fim. E sem heresia, achei melhor do que a própria série. Aqui embaixo tem um pedacinho do documentário, disponibilizado pela Netflix, onde cinegrafistas filmam a queda de morsas de um penhasco e se emocionam com esse episódio.
https://www.youtube.com/watch?v=qVJzQc9ELTE
Apesar desse trecho chocante, o documentário é repleto de imagens belíssimas e histórias impressionantes. Um programão para um fim de semana em casa!
E além desses documentários citados aqui, você pode assistir, também na Netflix, a série “Tales by Light”, que também mostra os bastidores de fotógrafos em busca de imagens únicas em várias partes do mundo. Porém, é assunto para outro artigo.
Até o mês que vem!
Fonte: Netflix, iPhoto Channel e Mix de Séries
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