Diversidade de temas de mestrado em educação ambiental

Dou aula de ética e educação ambiental há muitos anos para alunos do mestrado da Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade (Escas-Ipê) e sempre me surpreendo com a diversidade de temas que os alunos escolhem trabalhar em seus produtos finais. Uma coisa é certa: não existe monotonia. Como dizia Paulo Freire, somos eternos professores e aprendizes. Ou seja, nunca deixo de aprender nesse processo de troca entre alunos e professores, que aliás são muitos e das mais variadas disciplinas.

Todos os temas são instigantes e merecem aplausos quando executados com qualidade e os devidos cuidados. Algumas dissertações se aprofundam em temáticas mais diretamente ligadas ao campo da educação ambiental, como a elaboração de programas para escolas ou áreas naturais, ou ainda análises comparativas de públicos diversos, como alunos, professores, catadores de resíduos, entre outros. Entretanto, alguns são bem diferentes como, por exemplo, um aluno que analisou de que forma quem pratica stand-up paddle se impacta com a natureza e o deixa de volta no ambiente natural (mestre Lucian Interaminense). Tive uma aluna que se debruçou sobre o espiritismo de Alan Kardec e publicou um livro sobre seu pensamento ligado à conservação planetária (mestra Raquel Miguel).

Outra teve a coragem de “esverdear” o mais que pode um hospital de câncer infantil de São Paulo e analisar se a natureza minimizaria o sofrimento dos pequenos pacientes, seus pais e equipe médica. Uso a palavra “coragem” porque o tema mexeu profundamente com nossos sentimentos e a própria aluna saiu transformada da experiência. Aos poucos ela vem se tornando referência nesse campo e anseia por se aprofundar e se aperfeiçoar em um doutorado que está em vias de iniciar (mestra Juliana Gatti).

A criatividade desponta em alunos que aplicam jogos ou os criam com intuitos diversos, mas sempre ligados a integrar pessoas de segmentos sociais variados a assuntos ambientais ou como meio de despertar o interesse em crianças ou jovens relacionado à natureza. Uma aluna desenvolveu um jogo que passa por etapas de análises, reflexões e possíveis ações para transformar realidades indesejadas (mestra Floriana Breyer).

As diversas aplicações da educação ambiental

Fotógrafo profissional de natureza renomado no Brasil e no exterior, Leonardo Merçon avaliou, por meio de uma enquete virtual, como sua arte e a de outros fotógrafos sensibiliza as pessoas a ponto de causar mudanças no mundo, ou seja, como a fotografia pode trazer maior impacto para a conservação em geral. Recebeu mais de 100 respostas que foram tabuladas e trouxeram ideias do que poderia ser ideal. Com base na sua experiência e nas respostas recebidas, propôs um plano para uma exposição itinerante com fotos capazes de incentivar mudanças e promover a sensibilização em prol da natureza (mestre Leonardo Merçon).

Atualmente, um aluno está analisando o impacto de uma peça musical de sua autoria, que lida com sustentabilidade planetária por meio do “encantamento”, nas pessoas que assistem ao espetáculo. Com mais de 20 anos de experiência na criação de musicais e no desenvolvimento de trabalhos em escolas de sua região, ele está agora se aprofundando academicamente ao cursar o mestrado da Escas (mestrando Marco Aurélio Querubim).

Temas ligados à fauna nem sempre vem para minha supervisão, pois muitos optam por orientadores com especialidades em áreas biológicas, ecológicas ou até tecnológicas. Mas, alguns adicionam aspectos educacionais aos seus estudos com o interesse de transformar as espécies escolhidas em símbolos regionais dignas de orgulho e envolvimento em sua proteção, como foi o caso da trajetória do estudo do mico-leão-preto (doutora Gabriela Rezende, que é mestre pela Escas-Ipê).

Como o mestrado da Escas-Ipê é profissional, a maioria dos trabalhos têm um viés de aplicação prática, ou seja, algo que pode ser implementado no mundo real para contribuir com um propósito específico. Isso quer dizer que raramente os produtos finais são meramente teóricos, como o que mencionei sobre o estudo de Alan Kardec ou outro que também se tornou livro, que discorre sobre o tempo ocioso e suas implicações no processo de desenvolvimento (mestra Mônica Klein).

Com a diversidades de temas, há também uma grande variedade de abordagens metodológicas que ajudam a dar forma e credibilidade aos estudos realizados. Esse é um aspecto importante, especialmente porque a educação ambiental por vezes não recebe o devido reconhecimento de sua importância, muito por frequentemente se ater a atividades pontuais que não são devidamente avaliadas quanto aos seus resultados ou impactos.

Aliás, esse foi mais um tema de grande relevância que tive a honra de orientar. Em um programa de educação ambiental de longa duração, foi possível mensurar os resultados imediatos e os impactos gerados ao longo do tempo. Essa diferença nem sempre é medida, pois a maioria dos programas avaliados, o são logo após a aplicação de alguma intervenção educativa e não pelo que fica no público ao qual se dirige. Nesse caso, a aluna havia trabalhado por mais de seis anos com turmas de escolas municipais, o que a permitiu mensurar o que ficou nos alunos em termos de conhecimentos e valores no decorrer do tempo. Esse estudo trouxe informações sobre ganhos cognitivos e afetivos dos alunos que provavelmente levarão para suas vidas (mestra Andréa Pupo).

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