Dicas para identificar aves parecidas

Diferenciar espécies de pássaros muito semelhantes pode ser um enorme desafio, mas com algum empenho e um pouco de técnica esse processo fica muito mais simples e intuitivo. Por esse motivo, hoje vou apresentar e explicar com detalhes uma técnica valiosa para ajudar você a descomplicar a identificação de aves.

No meu dia a dia como educadora, percebi que o observador de aves iniciante tende a comparar espécies semelhantes que deseja identificar como se estivesse praticando o famoso jogo dos sete erros. De fato, assim como no jogo, é necessário e essencial prestar atenção em detalhes específicos e observar cuidadosamente as diferenças entre as imagens. Mas essa etapa deve ser a última a ser feita. Vou explicar as razões do meu conselho.

Conhecer as espécies da região
A primeira etapa da identificação de espécies parecidas deve sempre começar pela triagem das possibilidades de espécies que podem ser encontradas no local onde as aves foram avistadas.

Segundo o Comitê de Registros Ornitológicos (CBRO), o Brasil tem uma lista de 1.971 espécies, o que é uma diversidade gigantesca. Apesar disso, em uma exata localidade é raro encontrar mais do que 200 espécies, o que já seleciona muitas possibilidades e exclui espécies parecidas.

Para ficar claro, vou exemplificar o caso do picapauzinho-de-coleira (Picumnus temminckii) e do picapauzinho-barrado (Picumnus cirratus), que são extremamente parecidos visualmente e no canto, por isso seria um enorme desafio comparar suas imagens e sons. Mas isso nem se faz necessário se o avistamento foi no estado do Rio de Janeiro ou no Espírito Santo, porque nesses locais não é possível encontrar o picapauzinho-de-coleira. Já o picapauzinho-barrado é frequente nessas localidades.

Percebeu como o jogo dos sete erros seria totalmente desnecessário nesse exemplo? Há inúmeros casos como esse.

É comum que espécies do mesmo gênero sejam muito parecidas e ocorram em localidades diferentes porque o isolamento geográfico é uma condição que conduz ao surgimento de novas espécies, que é o processo de especiação. As espécies de mesmo gênero são derivadas de um ancestral comum e, por esse motivo, são visualmente muito parecidas. No entanto, apresentam variações genéticas suficientes para que sejam consideradas como espécies distintas, pois evoluíram em condições de clima e vegetação diferentes, de acordo com a área onde sofreram diferenciação.

Identificação pelo canto
Mas você pode estar pensando que mesmo após a triagem por local pode permanecer dúvida entre duas ou mais espécies semelhantes. Então, como resolver o problema?

Nesse ponto, você pode utilizar o poderoso recurso que leva em consideração o canto dos pássaros para auxiliar na identificação. Os cantos apresentam alta especificidade, são praticamente únicos, na grande maioria dos casos. Dessa forma, é possível identificar com segurança. Pense nisso como o toque de celular personalizado do seu melhor amigo – se você ouvir aquele toque específico, saberá que é ele quem está ligando. Com os pássaros é a mesma coisa.

Outras variáveis importantíssimas para considerar na hora de definir uma identificação são o tipo de ambiente e o comportamento. Apesar de estarem livres, as aves habitam ambientes muito específicos, de forma que é altamente improvável encontrar um pardal (Passer domesticus) dentro de uma floresta densa porque trata-se de uma espécie urbana. Da mesma forma, encontrar um tangará (Chiroxiphia caudata), que é uma espécie florestal, dentro da cidade é igualmente improvável.

Se depois de aplicar essas dicas restarem dúvidas, agora sim é hora de comparar características específicas, como o tamanho do bico, o padrão de cores, postura, silhueta e marcações de campo. Cada espécie tem suas próprias características distintas que podem ser comparadas nas imagens do jogo dos sete erros. Mas como essa é a etapa mais complexa e que exige maior experiência e treino, utilize como último recurso.

Falando em treino, esse é o segredo do sucesso: pratique sempre! Pegue seus binóculos e saia para observar os pássaros na natureza. Você pode até mesmo participar de grupos de observação de aves, onde poderá aprender com outros observadores e especialistas. Na medida em que você se familiariza com as diferentes espécies, será mais fácil diferenciá-las e identificá-las.

Espero que as dicas tenham sido úteis e que você as coloque em prática em breve. Afinal, não há nada mais gratificante do que observar essas criaturas incríveis e aprender mais sobre a natureza ao nosso redor!

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