Dicas para fotografar mamíferos

Olá, como vai? Seja bem-vinda (o) à nova série da coluna Photo Animal, em que vou compartilhar algumas dicas e técnicas para fotografar diferentes animais que aprendi durante meus anos como fotógrafo de vida selvagem. Hoje, vamos começar focando nos mamíferos e em como conseguir melhores oportunidades e resultados ao registrá-los.

Durante muito tempo a fotografia de vida selvagem esteve limitada pela tecnologia antiga das câmeras e lentes (falta de lentes objetivas; peso e tamanho dos equipamentos, etc.). Foi somente nas últimas décadas que tivemos um avanço considerável para “facilitar” esse tipo de documentação.

Entre todos os grupos de animais, a fotografia de mamíferos se destaca por ser uma das pioneiras, já tendo completado mais de um século de história. Em 1905, as revistas da National Geographic começaram a incluir imagens em suas edições e, logo em 1906, uma primeira reportagem sobre elefantes já foi realizada pela escritora e fotógrafa americana Eliza Scidmore.

Atualmente, a fotografia de mamíferos é mais comum na África, Europa e América do Norte, tendo em vista a biodiversidade e aspectos geográficos desses continentes (é muito mais fácil encontrar animais em uma savana do que em uma floresta tropical densa, por exemplo). Ursos, alces, raposas, lobos e basicamente todos os mamíferos vistos nos safáris africanos costumam ser grandes atrativos para fotógrafos do mundo todo. Levando isso em conta, já que estamos no pior lugar do planeta para fotografar mamíferos (contém muita ironia), vamos às dicas para ressuscitar as esperanças!

Dicas para a maioria dos mamíferos

Vou começar por uma listinha geral que pode ser aplicada à maioria dos mamíferos que encontramos por aí:

• Melhor horário: mamíferos costumam procurar alimento e estar mais ativos durante os períodos crepusculares (ao nascer e no pôr-do-sol), já que ao longo do dia preferem preservar sua energia por conta do aumento da temperatura ambiente. Isto é uma feliz coincidência para nós, fotógrafos, já que normalmente é nesses horários que temos a melhor luz do dia. Claro que existem exceções, principalmente envolvendo animais exclusivamente noturnos.
• Não utilizar perfumes, desodorantes e fragrâncias fortes em campo. A grande maioria dos mamíferos possui olfato extremamente aguçado. Qualquer sinal de um cheiro que o bicho nunca sentiu e pronto, ele some antes mesmo de você saber que ele estava por perto. Além disso, aqui vai uma técnica um pouco mais avançada: para se aproximar desses animais (principalmente de “presas” como veados, antas, pacas etc.) sempre vá pela direção contrária do vento, já que mesmo que você não esteja usando nenhum aroma artificial, eles ainda podem sentir seu odor corporal e se assustar.

• Ainda em relação aos cinco sentidos, use roupas discretas e/ou camufladas, já que, na natureza, cores vivas e coloridas significam perigo. Tente também se locomover de maneira mais silenciosa possível. Foi nos mamíferos que a audição se desenvolveu de forma superior a qualquer outro grupo evolutivo.
• Procure sempre por vestígios como pegadas e fezes e veja se estão frescos (destaque para o verbo “ver”, não precisa tocar). Assim vai descobrir se há algum animal pelas redondezas.

• Encontre “pontos de interesse” como corpos d’água. onde mamíferos se banham e se hidratam, trilhas abertas na vegetação, rastros, tocas, fontes de alimento (árvores e arbustos frutívoros, carcaças etc.) e espere – muitas vezes você será surpreendido pelas aparições.
• Estude o comportamento e a biologia do animal que quer fotografar. Isso é essencial para otimizar suas oportunidades de registro.

Agora, para as dicas um pouco mais específicas, vamos dividir os mamíferos em dois grandes grupos genéricos. A ideia é facilitar o entendimento, levando em conta a grande variedade desses animais.

Pequenos mamíferos

•  Para pequenos mamíferos (roedores, gambás, cuícas, tatus, etc.), a maior chance de conseguir a foto é achar um ponto de interesse e esperar, realizando o mínimo possível de movimentos e sons. Esses animais são muito ágeis e fáceis de serem assustados, o que faz com que voltem para um esconderijo.
• A utilização de lentes teleobjetivas é muito recomendada, já que diminui a necessidade de aproximação do animal.
• Tente priorizar o registro no nível dos olhos. Como o bichinho já é pequeno, utilizar ângulos de cima para baixo pode fazer com que o sujeito suma da foto em meio ao substrato.

Médios e grandes mamíferos

• Para médios e grandes mamíferos (quatis, veados, antas, felinos, canídeos etc.) a estratégia dos pontos de interesse continua sendo muito valiosa, mas a busca ativa também é viável. Só cuidado para não assustá-los enquanto estiver andando ou dirigindo.
• Como esses mamíferos são maiores, mesmo que estejam preenchendo pouco o frame da foto, eles ainda se mantêm como o assunto principal. Com isso, você pode ter uma maior liberdade criativa, podendo incluir o ambiente, a paisagem e até mais de um animal na composição. A utilização de lentes grandes-angulares é uma ótima alternativa para capturar maiores campos de visão.
• Experimente também fotografar por diferentes ângulos. Particularmente, gosto de utilizar o contra plongée (de baixo para cima) com grandes mamíferos, o que valoriza ainda mais seu tamanho e poder.

• Preste muita atenção no comportamento e nas respostas do animal à sua presença (principalmente dos predadores) para não estressá-lo, irritá-lo ou assustá-lo. Evite acidentes indesejados. Sempre respeite o limite do bicho, pois ele não é seu “modelete”!

Bônus: mamíferos arborícolas

•  Para macacos e outros mamíferos arborícolas, o uso de lentes teleobjetivas volta a ser fundamental. Além disso, se o animal estiver muito arisco, aumente a velocidade do obturador para congelar melhor o momento e evitar fotos borradas.

• Tente encontrar ângulos em que o bicho fique o menos coberto possível por galhos e folhas, dando mais destaque ao assunto da foto e menos às distrações. Também tome cuidado com o uso não intencional do contraluz, se posicione de maneira que o Sol não fique diretamente atrás do mamífero fotografado para não ter como resultado somente sua silhueta.

• Se o animal estiver muito alto em uma árvore, evite se posicionar diretamente embaixo dela para encurtar a distância. Priorize um ângulo um pouco mais horizontal em troca da distância e depois corte a foto em um programa de edição para aumentar o tamanho do mamífero na imagem. Essa dica também se aplica para fotografar aves, que ainda vamos discutir em um artigo futuro

Por hoje é só! Não deixe de conferir algumas fotos que estão logo abaixo.

Aproveitando: se você conhece alguma outra técnica que já te ajudou a fotografar os animais peludos, me conte por favor! Gosto muito de entender como outros fotógrafos pensam e utilizam sua criatividade.

Muito obrigado por sua companhia e espero você por aqui na semana que vem, quando discutiremos sobre os animais mais populares da fotografia de vida selvagem: as aves!

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