Dicas para fotografar herpetofauna – répteis e anfíbios

Olá, espero que esteja tudo bem por aí! Depois de discutirmos sobre os dois grupos mais populares da fotografia de vida selvagem (mamíferos e aves), vamos nos desafiar um pouco mais e conversar sobre como fotografar a herpetofauna, ou seja, os répteis e os anfíbios.

Quando pequeno, tinha um fascínio por serpentes e visitava o Instituto Butantan constantemente para admirá-las (e ocasionalmente conversar com elas, imaginando que eu era o Harry Potter), já que é uma pena ser tão difícil encontrá-las em vida livre. Depois de obter minha primeira câmera, cada cobra que fotografei se tornou uma memória inesquecível que relembra meus sonhos de criança.

A fotografia da herpetofauna é uma área extremamente nichada e especializada por algumas razões. Primeiro, ela está bem entrelaçada com a macrofotografia, que necessita das melhores lentes (assim como flashes, disparadores e outros periféricos) para capturar os mínimos detalhes desses animais – assunto que por si só renderia um artigo completo (spoiler!). Mas não se preocupe, é mais do que possível registrá-los com outros tipos de equipamento. Todas as fotos que vocês verão aqui, por exemplo, foram tiradas com uma lente teleobjetiva, já que eu nunca me aprofundei tanto nem investi em macro ao longo da minha carreira.

Além disso, a maioria dos répteis e anfíbios é difícil de encontrar na natureza. Por serem animais de sangue frio e com metabolismo mais lento, eles costumam ficar muito bem escondidos e imóveis a maior parte do tempo para preservar energia e evitar predadores. Esse grupo também é caracterizado por ter camuflagens extremamente efetivas, o que dificulta o trabalho dos fotógrafos (com exceção das espécies aposemáticas, isto é, aquelas que exibem cores vivas para alertar sobre sua periculosidade, como o sapo-flecha).

Vale lembrar que documentar e compartilhar registros desses animais é uma ferramenta muito eficaz para desmistificar algumas concepções sobre eles e aproximá-los da população. Justamente por não serem vistos com frequência, quando são encontrados podem causar medo e até nojo em algumas pessoas, ocasionando algumas reações negativas que impactam os bichos.

Tendo em vista a raridade e a furtividade da herpetofauna, confira algumas dicas e técnicas que nos auxiliam na otimização dos registros deles:

• Procure por tocas, buracos nas árvores, troncos caídos, pedras e outros esconderijos. Sempre tome muito cuidado ao levantar esses objetos para evitar acidentes com animais peçonhentos (serpentes, escorpiões, aranhas etc.). O uso de botas resistentes e perneiras é muito importante para sua proteção. Répteis e anfíbios também gostam de regiões úmidas ou próximas de corpos d’água e normalmente é nesse tipo de ambiente que você terá maiores chances de encontrá-los.
• A grande maioria das espécies costuma ser mais ativa durante a noite, portanto pegue sua lanterna e esteja preparado para madrugar.
• Quando estiver andando em uma trilha, fique muito atento a qualquer som na serrapilheira. Serpentes causam um som constante nas folhas enquanto deslizam. Já os anuros (anfíbios sem cauda, como sapos, rãs e pererecas) emitem sons bem intervalados por conta dos seus saltos. Por fim, lagartos têm intervalos de som menores ao correrem.
• Pequenos lagartos podem ser encontrados dormindo na ponta de galhos finos, que atuam como um “trampolim”. Caso um predador tente se aproximar pelo galho, ele vai balançar e acordar o lagarto com tempo de sobra para a fuga.
• Serpentes são basicamente surdas, porém são adaptadas para sentir vibrações no solo, além de terem o olfato muito desenvolvido. Logo, ande devagar e sem arrastar os pés e evite o uso de fragrâncias artificiais.
• Como já foi dito, quase todos os tipos de lente são válidos para fotografar herpetofauna (macro, teleobjetivas e grande angulares). Apesar de serem difíceis de encontrar, uma vez detectados, muitos desses animais preferem permanecer estáticos e confiar na sua camuflagem, permitindo uma aproximação considerável com a câmera.
• O uso de flashes e tripés é bastante recomendado. Normalmente, você estará em condições de pouca luz com esses bichos, portanto a iluminação artificial e uma maior estabilidade para utilizar velocidades mais lentas do obturador são muito importantes para conseguir bons resultados. Cuidado para não direcionar a luz diretamente para os olhos dos animais.

• Busque manter-se no nível dos olhos do animal enquanto fotografa. Isso dá a sensação que você está entrando no mesmo hábitat dele e cria um ponto de vista mais interessante ao espectador.

• É interessante dar destaque às texturas e cores das escamas dos répteis e da pele dos anfíbios. Use a criatividade e fotografe diferentes partes do corpo deles (olhos, patas, cauda etc.).

• Lembrem-se de prestar atenção em qualquer alteração no comportamento dos animais conforme for se aproximando e jamais encoste neles. Algumas serpentes são peçonhentas e alguns sapos podem ser venenosos, então se você não souber a espécie que encontrou, sempre assuma que o bicho é perigoso e fotografe com cautela e respeito. O mesmo vale para os crocodilianos, mas acho que nesse caso quase todo mundo tem o bom senso de não atiçar um predador pré-histórico.
• Juntamente com os crocodilianos que foram pouco citados hoje, lembrem-se que as tartarugas, cágados, jabutis, salamandras e cobras-cegas também fazem parte da herpetofauna.
• No caso dos nossos amigos de casco, confesso que não tenho muito o que dizer. A maioria das dicas genéricas se aplica sobre eles e, depois de encontrar um, é muito fácil fotografá-lo do jeito que quiser, já que costumam ser animais lentos e inofensivos. Só tenha cuidado para não assustá-los para dentro de suas “casas”.

• Já para as salamandras e cobras-cegas, em 23 anos de vida eu nunca encontrei sequer uma na natureza. Então, se você já conseguiu esse feito, considere uma grande conquista!

Mesmo sendo difícil, fotografar a herpetofauna pode ser um desafio bem divertido que só vai te transformar em um fotógrafo melhor. Se adaptar a situações inusitadas e usar a criatividade são habilidades essenciais para conseguir grandes resultados. E, na minha opinião, os registros de répteis e anfíbios costumam ser os mais recompensadores por conta de todos os obstáculos.

Espero que as dicas de hoje tenham sido úteis para você! Como sempre, não esqueça de conferir mais algumas fotos no final do artigo.

Muito obrigado por sua companhia. Espero por você na semana que vem com o último capítulo desta série, em que vamos discutir um pouco sobre o universo da macrofotografia e o registro de invertebrados.

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