Por Gabriela Schuck de Oliveira
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
transportes@faunanews.com.br
É muito comum nos questionarmos sobre como agir em momentos delicados com animais silvestres e, às vezes, realizamos escolhas totalmente prejudiciais pensando que estamos realizando algo bom. Neste artigo, vamos ilustrar de maneira bem-humorada situações com animais e rodovias já vivenciadas por nós do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF/UFRGS) ou relatadas por motoristas.
Já abordamos aqui sobre vivências de atropelamentos e já oferecemos algumas dicas. Essa é uma temática difícil, pois muitas vezes não temos como evitar esse tipo de acidente e normalmente não somos orientados sobre essas situações durante a nossa formação como motoristas.
No primeiro desenho, ilustramos a situação em que avistamos um animal na pista em uma distância segura. Na imagem da esquerda, temos a situação correta em que o motorista reduz a velocidade e emite um alerta para os outros motoristas da via. Já no lado direito, o motorista acelera o carro com o intuito de apressar a travessia do animal. Esse segundo comportamento é bem comum e, às vezes, motivado por boas intenções, mas extremamente perigoso porque muitos animais não conseguem responder a tempo a velocidades altas dos veículos.
Já no segundo quadrinho, há a situação de auxílio na travessia da fauna. O ideal é evitar qualquer contato direto com animais silvestres e, sempre que vir um animal em situação de risco, acionar as autoridades locais. No entanto, é bem comum as pessoas quererem ajudar animais sem ação ou com baixa mobilidade. Nesse caso, é sempre importante sinalizar a rodovia e auxiliar a travessia para o lado que o animal está indo. Atravessar um animal no sentido oposto poderá aumentar a chance de ele ser atropelado, pois provavelmente iniciará a travessia novamente. Apesar da ilustração do lado direito parecer um pouco absurda, são frequentes os relatos de pessoas que capturam os animais nas rodovias e os levam para centros de triagens e de reabilitação (Cetas, Cras ou Cetras) ou para suas próprias casas, principalmente em rodovias próximas – há quem imagine que o animal está ‘’perdido’’.
Animais como cágados, caminham distâncias longas em período de reprodução, e ficam por muito tempo fora da água. E, em períodos como esses, as pessoas enchem os centros de triagens de animais silvestres com ‘’resgates’’ desnecessários. Além de ser prejudicial a retirada do animal do habitat natural dele (sim, infelizmente áreas próximas das rodovias são lares de muitos animais), é proibido o transportá-los sem autorização. Na dúvida, não interfira, a natureza agradece!
Na terceira situação, ilustramos o comportamento das pessoas após atropelar um animal ou avistar um animal morto na rodovia. Registrar com fotografias e coletar as coordenadas do local é uma informação muito importante para a Ecologia de rodovias. Porém, nem sempre um registro fotográfico é feito com o intuito de conscientização ou uso da informação para a Ciência. Às vezes, as pessoas acabam usando a situação como “troféu”. Além disso, o contato com animais mortos sem equipamentos de proteção, como luvas, pode ser prejudicial à saúde. O ideal é sempre relatar o atropelamento para a concessionária ou órgão de gestão da rodovia, ou ainda a polícia rodoviária ou ambiental. Esse relato é extremamente importante e pode auxiliar nas tomadas de decisões das mitigações para diminuição de atropelamentos no local. Sempre tenha em mãos informações sobre a rodovia e as autoridades locais antes de iniciar qualquer viagem.
E na última situação, ilustramos a escolha do horário de uma viagem. Algumas pessoas preferem viajar durante a noite (desenho da direita) para evitar trânsito. No entanto, as chances de colidir com algum animal são maiores já que é o horário de atividade de muitas espécies. Com baixo fluxo de veículos, alguns animais se sentem mais à vontade para atravessar a pista. Além disso, muitas vezes estamos mais cansados e há baixa visibilidade da pista. O ideal é escolher um horário em que estamos mais dispostos e com uma visibilidade maior da rodovia.
É sempre bom lembrar que devemos zelar pela nossa segurança em primeiro lugar. Pequenas mudanças de hábitos podem ajudar a fauna nas rodovias, porém sempre vão ocorrer situações em que não vamos ter o controle. Por isso, uma das contribuições que podemos dar como cidadãos é repassar informações confiáveis sobre conscientização, acompanhar os informes da administração da rodovia e cobrar ações para minimizar os atropelamentos.
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