Desmatamento urbano e a influência negativa na fauna

Neste artigo, vou partir de uma experiência pessoal. Resido em uma casa com terreno de 700 m² no município de Itapema, em Santa Catarina. Há três anos, teve início uma especulação imobiliária aos moldes do que aconteceu no município vizinho, Balneário Camboriú. As construtoras e incorporadoras oferecem até quatro unidades (apartamentos e estúdios) para quem permutar seus lotes e casas. O resultado disso é o desmate urbano de árvores nativas e a consequente perda de hábitat e abrigo para a avifauna.

Como se não bastasse, as árvores e arbustos localizados em via pública, em frente aos terrenos em questão, também são suprimidos em razão da entrada de máquinas e do descarregamento de materiais. Na minha quadra temos, agora, apenas uma arvore na calçada (em frente aos meus lotes) e um arbusto (pé de guaraná) de um vizinho que ainda não se vendeu. Tenho percebido o comportamento dos pássaros na região em razão do que preservo na minha propriedade. Tenho quatro árvores de porte médio/grande – uma mangueira, uma figueira, um flamboyant e um araticum -, três pés de acerola, um pé de laranja e outro de limão-cravo. O resultado disso tem sido o aumento das “visitas” e dos ninhos.

No mês de fevereiro passado, pela segunda vez, uma calopsita que uma moradora cria em apartamento no nono andar de um prédio localizado na primeira quadra da praia (a minha é a segunda) fugiu de “casa” e, claro, veio ao encontro do que ela entende ser um hábitat natural. Das visitas humanas constantes, também recebo a vigilância sanitária do município que insiste em focar nas minhas bromélias, mesmo sem nunca ter encontrado larvas de mosquito, pois tomo todos os cuidados para que isso não ocorra.

Estamos abordando aqui sobre o bioma Mata Atlântica, característico de boa parte do nosso litoral e regrado por legislação própria, conhecida como Lei da Mata Atlântica (lei nº 11.428/2006). O corte da vegetação, segundo o regime jurídico, deve priorizar áreas já alteradas e degradadas. Quanto mais antiga é a vegetação, mais restritivo é o seu corte.

No caso de vegetação primaria, encontramos no artigo 30 dessa lei:
“É vedada a supressão de vegetação primária do Bioma Mata Atlântica, para fins de loteamento ou edificação, nas regiões metropolitanas e áreas urbanas consideradas como tal em lei específica (…)”.

No caso de vegetação secundária, em estágio avançado, em perímetros urbanos aprovados até 2006, a supressão somente será admitida, no caso de empreendimentos que garantam a preservação de vegetação nativa em estágio avançado de regeneração em no mínimo 50% da área total coberta por esta, exceto no caso de utilidade pública. (imaginem o que é caracterizado como utilidade pública).

E nos perímetros urbanos aprovados após 2006, é vedada a supressão de vegetação secundária em estágio avançado de regeneração, exceto em casos de utilidade pública. (continuem imaginando o que é caracterizado como utilidade pública)

Aos empreendedores cabe apresentar inventário florestal e faunístico.

Supressão de vegetação urbana
Agora vamos retornar ao exemplo que dei acima, sobre minha propriedade. Vou estender a todas as áreas urbanas do país (a imensa maioria com regularização anterior a 2006). Se somarmos a supressão vegetal de todos esses loteamentos, a que números chegaríamos? Os inventários faunísticos são executados sobre quais critérios? A perda de hábitat, locais de refúgio e alimentação, em áreas urbanas, traz quais impactos, principalmente, para a avifauna localizada?

De acordo com o IBGE, 84% da população brasileira vive em área urbana e com hábitos cada vez mais distantes do ambiente natural. As notícias de desflorestamento e perda faunística chegam a nós como se acontecessem, apenas, na Amazonia. Parece que o corte de arvores nativas em nossas ruas não afeta em nada o meio ambiente. Parece que não temos qualquer responsabilidade quanto a isso.

Temos preocupação com as florestas e não nos preocupamos com o que acontece em nossas ruas?

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