Por Carlos Eduardo Tavares da Costa
Biólogo, bacharel em Direito e agente de Polícia Federal
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Trabalhando no combate a crimes ambientais, em algumas ocasiões nos deparamos com casos peculiares. Por volta do ano de 2006, a delegacia de crimes contra o meio ambiente da Polícia Federal em Santa Catarina começou a receber denúncias e registros de apreensões administrativas dando conta do transporte irregular e venda de um animalzinho bem simpático que, na ocasião, não tínhamos ideia sequer da existência, mas tinha se tornado, rapidamente, uma “coqueluche”. Tratava-se do Atelerix albiventris ou, como é normalmente conhecido no Brasil, o ouriço-pigmeu-africano.
Ok, mas como este ser cujo tamanho oscila entre os 14 e 21 centímetros e peso por volta 400 gramas ganhou notoriedade? Modismos, geralmente, vem de fora. Sim, veio diretamente dos EUA, mas com “passaporte africano”. Hábito já conhecido entre mamíferos, temos uma natural atração por coisas peludas e macias (professores de Biologia costumam brincar com seus alunos sobre isso). Se o desafortunado bichinho for manso, aí seu destino estará selado. Caso queira incomodar um ser cujo objetivo de vida seja permanecer solitário na savana e nos campos de cultivo da África Central, alimentando-se de insetos, minhocas e larvas, com hábitos noturnos e total liberdade de movimentos, basta torná-lo famoso criando seu avatar em jogos eletrônicos e alçando-o para as telas televisivas.
Em 1991, a empresa japonesa de jogos eletrônicos SEGA queria um concorrente para o personagem Mario Bros, da Nintendo. Ficaram entre um tatu e um ouriço. Infelizmente, para o ouriço (e felizmente para o tatu) ele foi o escolhido. Apesar da cor azul (para combinar com a cor da empresa) e de guardar características de um personagem animado sem muito paralelo na vida silvestre, não tardou para descobrirem ser o infeliz Hedgerog (porco-das-cercas), como é conhecido na África, que a partir daí passou a ser criado em cativeiros legais e ilegais e, posteriormente, nos lares de algum humanoide carente.
Alimentado com ração de gato e impedido de descansar durante o dia por seus “tutores”, começou a ter problemas comportamentais e fisiológicos, passando a viver infeliz e bem pouco.
Sugiro que da próxima vez escolham o diabo-da-tasmânia…
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