Cuidados com o transporte de animais para soltura

Os centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) têm com parte final do seu trabalho interno de cuidados com a fauna recepcionada o processo de acondicionamento dos espécimes para soltura. Cada grupo, espécie ou individuo tem sua peculiaridade nessa etapa, principalmente quando se trata dos efeitos adversos que uma viagem pode proporcionar à saúde física e comportamental.

Podemos citar que os principais elementos que geram impactos no processo de transporte são o horário, a temperatura, a distância percorrida até a área de soltura, o veículo de transporte, as espécies e os espécimes a serem transportados, a quantidade de animais por transporte e se eles vão para soltura branda ou imediata.

Horário do transporte
Quando abordamos a questão de horário, temos a preocupação em não gastar a energia do animal durante o transporte. É fato que ele precisará de toda a energia possível para manter-se no local de soltura até se habituar ao novo ambiente. Por conta disso, é necessário optar por horários que não coincidam com o de maior pico de atividade do animal e que se calcule que ele chegue ao destino em hora adequada para que tenha tempo de recuperar-se e consiga encontrar abrigo contra predadores e o clima.

Temperatura e distância
A temperatura e a distância são duas variáveis que são avaliadas, pois deve-se dar preferência a viajar em horários em que os animais estejam fora de seu período mais ativo e quando a temperatura está amena para reduzir a perda energética. Passeriformes (passarinhos), por exemplo, precisam viajar durante a noite para que sejam libertos nas primeiras horas do dia a fim de favorecer sua estabilização na área.

Tipo do veículo
O veículo é outra variante que vai definir o fator horário e a questão da temperatura. Mesmo para pequenas distâncias, ele vai influenciar, inclusive, em taxas de óbitos para animais que nodem não suportar viagens em condições adversas de altas ou baixas temperaturas ou transporte em veículos abertos. Veículos fechados e climatizados permitem transportes em uma maior gama de horários e em condições de temperatura variadas.

Os grupos que vão ser encaminhados à soltura necessitam de cuidados bem peculiares até a chegada ao local. Porém, a existência deles não dispensa os cuidados anteriores. Dependendo de quem será solto, temos necessidades diferenciadas. É o caso dos passeriformes, que mesmo recém-capturados da natureza sofrem desgaste, que os levam a condições improprias para serem libertos. Com isso, eles precisam de um tempo de cuidados e, principalmente, solturas de forma branda com recinto e alimentação no local para obterem sucesso de mais de cinquenta por cento de sobrevivência. Já preguiças, iguanas, serpentes, tamanduás e jacarés, quando recém-capturados em boas condições de saúde, não precisam se restabelecer para serem soltos e nem necessitam de aparatos nos locais de soltura.

Cada um desses fatores precisa ser avaliado de forma coerente e com cuidado para que o sucesso do processo de reabilitação não seja perdido com a falta de expertise no manejo e de infraestrutura. Afinal, combater a retirada de animais da natureza já é tão difícil pela falta de investimentos em fiscalização que aqueles que conseguimos recuperar não devem ficar no meio do processo por causa de minucias não pensadas.

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