Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
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A era industrial trouxe diversos avanços para as sociedades humana, mas resultou também na produção de contaminantes que começaram a representar uma ameaça para a saúde dos seres vivos na Terra. O problema começou a ganhar uma maior atenção na década de 60 do século passado com a publicação do livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Nesse livro, a autora descreve diversos efeitos deletérios que os contaminantes causavam no ambiente e nos seres vivos.
A contaminação ambiental pode se dar por diversas substâncias como os pesticidas, os químicos industriais, os combustíveis fósseis, metais, fertilizantes, medicamentos e produtos de cuidado pessoal e da casa. O dicloro-difenil-tricloroetano (DDT), por exemplo, foi um dos compostos químicos mais utilizados até a década de 1970, causando diversos impactos negativos nos animais. Esse princípio foi banido primeiro nos países desenvolvidos para muitas anos depois ser proibido em países como o Brasil.
Esses tipos de contaminação podem afetar a saúde humana e animal por impactos diretos e indiretos. Os impactos diretos dizem respeito a substâncias químicas que afetam diretamente a saúde dos organismos. Esses efeitos ocorrem pela ação de apenas uma substância ou por múltiplas, que podem agir conjuntamente após a liberação no ambiente. Por exemplo, os pesticidas que podem afetar diretamente a biota por meio de efeitos tóxicos em receptores específicos e não específicos nos organismos. A diminuição de diversos organismos pode causar efeitos indiretos na produção de alimentos assim como impactar as espécies que se alimentavam dos organismos que foram atingidos diretamente pelo pesticida.
A exposição aos contaminantes pode causar também intoxicações e levar os animais a uma morte aguda ou causarem efeitos crônicos, afetando diversos sistemas que podem diminuir a reprodução e a longevidade dos animais bem como impactar a manutenção e o crescimento de populações animais. Os desruptores endócrinos, por exemplo, podem causar alterações no sistema endócrino, que compreende os órgãos reprodutivos (glândulas mamárias, ovários, útero, testículos e próstata), cérebro (pituitária e hipocampo), tireoide, glândulas adrenais e pâncreas. Esse sistema controla o metabolismo das gorduras, resposta ao estresse, desenvolvimento do cérebro, sistema imune, desenvolvimento sexual, reprodução entre outras importantes atividades para o funcionamento adequado do organismo. Essas substâncias químicas interferem nesse sistema causando alteração do tecido das gônadas, nos comportamentos dos espécimes e até mesmo alterações do sexo do animal.
Há diversos trabalhos mostrando contaminantes em animais de espécies selvagens de vida livre, inclusive em lugares distantes das populações humanas, como no Ártico e na Antártica. Há relatos de aumento da mortalidade por doenças infecciosas em mamíferos marinhos devido a imunossupressão; aumento da mortalidade e de malformações em anfíbios em área agrícolas e aumento da frequência de neoplasia (crescimento exagerado de um tecido) em belugas no Canadá associados a outros fatores de risco, por exemplo. No Brasil, há trabalhos relatando a presença dessas substâncias em espécies terrestres e aquáticas de diversos biomas do nosso país.
A contaminação ambiental pode ser insidiosa, difícil de mitigar e de documentar. Alguns acreditam que a liberação de substâncias tóxicas é o custo do progresso. No entanto, os problemas ecológicos resultantes dos contaminantes ameaçam a sobrevida a longo prazo de muitos espécies. As sociedades humanas precisam adotar práticas mais limpas e sustentáveis para que essas contaminações sejam evitadas ou pelo menos reduzidas. Somente dessa forma, conseguiremos deixar um ambiente mais saudável para as próximas gerações.
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