Por Adriana Prestes
Bióloga, responsável técnica por áreas de soltura e monitoramento de fauna silvestre na Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba (SP) e secretária executiva do Grupo de Estudo de Fauna Silvestre do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira
segundachance@faunanews.com.br
Como venho apontando aqui na coluna, áreas de soltura (ASA) podem ter muitas outras atribuições e responsabilidades do que somente a soltura de animais propriamente dita. Essa perspectiva vem se tornando cada vez mais necessária, principalmente no contexto atual, com o avanço da destruição ambiental, promovendo a intensa perda de habitat para as espécies da fauna silvestre, e com o acintoso desrespeito à legislação ambiental e até mesmo aos princípios constitucionais vigentes em nosso país.
Mas a questão é “como atuar?”, especialmente sabendo que somos muito poucos em relação ao tamanho dos desafios ambientais brasileiros.
Uma das ações mais simples que uma ASA pode fazer é atuar em ações de educação ambiental e, nesse sentido, são necessários alguns requisitos básicos. O primeiro deles é ter o devido conhecimento sobre o que se quer falar ou divulgar. Sabendo como a Biologia pode ser complexa, entra em ação o segundo requisito: a atuação em forma de coletivo. Quem tem para si a missão de atuar na área de conservação ambiental tem que aprender a trabalhar em conjunto. Sabe aquela frase “sozinhos somos fracos”? Pois juntos somos fortes e, quem sabe, até mesmo invencíveis!
Ok, mas como atuar de forma coletiva? Especialmente quando se tem pouco tempo e poucos recursos?
Como somos seres sociais, a primeira etapa é procurar o seu vizinho. Ou seja, procure quem você conhece, que assim como você tem uma ASA, mesmo que distante da sua. Nem sempre os órgãos licenciadores fornecem dados sobre outros empreendimentos de fauna e alguns até fazem questão de não informar, achando que com essa atitude estão “protegendo a fauna”. Feito isso, comece conhecendo de verdade seu “vizinho”: quem é, como trabalha e não apenas mantando como aquele contato no WhatsApp, perdido lá embaixo no meio das centenas de mensagens que recebemos todos os dias. Por mais diferentes que sejam os proprietários de ASAs, o que aliás é muito legal, já que não são apenas técnicos ou acadêmicos, todos têm um ponto em comum: a conservação ambiental como estilo de vida.
Feito esse contato inicial, e sempre tendo em mente que somos pessoas e, portanto, o foco não é dar uma “palestra”, um “seminário” ou aquela coisa técnica e árida, mas conhecer pessoas que têm os mesmos interesses que você. Quando estabelecemos relações verdadeiras e sinceras, é incrível, parece que uma coisa chama a outra e daqui a pouco, de um, são dois e logo muitos! Na hora que isso ocorre, que alívio! É difícil trabalhar com fauna silvestre! Faltam recursos, sobram problemas e, portanto, não é incomum sentir desesperança, mas nada como um “ombro amigo” para nos dar força e inspiração! E assim tocamos o barco, que é assim que se anda!
Mas e aí? Como promover a mudança com a qual sonhamos e que tanto precisamos para sobreviver aos desafios do aquecimento global e da extinção em massa das espécies silvestres?
Sabe aquela frase? Cada um faz o que pode!
Uma vez formado o seu grupo de ASAs, comece a trabalhar para fortalecê-lo!
Hoje, dispomos de várias ferramentas para trabalhos colaborativos, muitas gratuitas e assim pode-se trabalhar on-line. E mesmo que você só disponha de cinco minutos por dia, quando começamos a trocar informações sobre o que de fato funciona nas ações de soltura e reabilitação de fauna silvestre, fazemos nosso trabalho melhor. Nessas plataformas podem ser divulgados textos curtos, imagens, documentos, livros, filmes, enfim tudo o que pode contribuir para entendermos melhor como atuar na conservação da biodiversidade. E aí é preciso dizer que nenhuma informação é pequena demais ou sem importância no que tange a fauna. Vale destacar também que as pessoas que não são técnicas podem ter aquela informação crucial, que pode ser um fator de mudança que técnicos e pesquisadores ainda não viram. E hoje, com o uso dos celulares, podemos registrar tudo o tempo todo!
Para finalizar, promova a integração do seu grupo. Nada substitui um abraço, uma refeição compartilhada, uma boa rodada de conversa, filosófica ou profana, noite adentro! Ações de conservação ambiental sem afeto e união não vingam e não podem acontecer só com hora marcada. Elas têm que fazer parte do seu dia a dia, ser o seu estilo de vida!
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