Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nomes populares: muçuã, cabeçudinho, jurará, muçuã, peito-de-mola
Nome científico: Kinosternon scorpioides
Estado de conservação: “pouco preocupante” (LC) no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção – ICMBio.
Presente nas três Américas (ocorre do México à Argentina), este quelônio que faz referência a um artrópode no nome é muito popular em estados do Norte do Brasil e no Maranhão, no Nordeste, lugares nos quais é muito consumido como iguaria, apesar de sua captura ser proibida.
Mas afinal, quem é o muçuã?
Medindo no máximo 27 centímetros (machos) e 18,5 centímetros (fêmeas), esses animais apresentam três quilhas longitudinais na carapaça, dois segmentos móveis no plastrão (região ventral), mandíbulas poderosas, cabeça grande, barbelas no queixo e uma estrutura na ponta da cauda do macho que lembra o aguilhão de um escorpião – daí seu nome específico (scorpioide). Essa estrutura auxilia o macho a segurar a fêmea, no momento da cópula.
Vivendo em corpos d’água com pouca correnteza, lagos temporários, lagoas costeiras, pântanos, brejos, florestas e campos inundados entre outros habitat, os muçuãs preferem ambientes com bastante vegetação aquática. No Brasil, seus locais de ocorrência abrangem vários estados banhados pelas bacias dos rios Amazonas, Tocantins e São Francisco e bacias do Atlântico Norte e Nordeste.
As maiores populações ficam no Maranhão e no Pará, em cujas capitais são fornecidos ilegal e clandestinamente a restaurantes ou vendidos em grandes quantidades em cambadas (conjuntos de animais vivos, pendurados como caranguejos em uma “penca”). Seu destino pode ser virar animal de estimação ou, na maioria das vezes, ser servido na forma de “casquinhos de muçuã” (pedaços da sua carne e farofa, que são levados à mesa dentro do próprio casco) em hotéis e restaurantes finos.
Em algumas regiões, os muçuãs são utilizados como alimento por populações de baixa renda. Mas esse não é o principal problema enfrentado por estes animais. Caçados ilegalmente, não constam nos cardápios dos restaurantes, devido à ilegalidade, porém são servidos a pedido de alguns clientes. Isso leva à diminuição das populações em seu ambiente natural, uma vez que a proibição de sua captura não impede que isso aconteça, seja para alimentação, estimação ou comércio.
Onívoros, mas de hábito alimentar predominantemente carnívoro, alimentam-se de pequenos animais, vertebrados e invertebrados, mas podem incluir algas e vegetais em sua dieta.
Costumam reproduzir-se uma vez por ano, com uma a três ninhadas por estação reprodutiva. A incubação dos dois a seis ovos dura cerca de quatro meses e meio e o sexo dos filhotes é determinado pela temperatura.
Em relação às ameaças sofridas por esses animais, além da degradação do ambiente, é uma das espécies mais apreendidas pelo Ibama do Maranhão nas feiras e mercados municipais. Sua captura se dá na época da reprodução, quando vêm ao ambiente terrestre colocar seus ovos. Nessas ocasiões, nem o fechamento da carapaça pelos segmentos móveis do plastrão ou o cheiro desagradável (produzido por glândulas presentes próximo aos membros posteriores) que exalam quando ameaçados por predadores surtem efeito diante da crueldade e ambição humanas.
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