Conheça aves ameaçadas que são exclusivas do Brasil

O Brasil é o terceiro país do mundo em número de espécies de aves, perdendo apenas para a Colômbia e Peru. E você sabia que dentre as 1.971 espécies que compõem a avifauna brasileira existem 293 que são exclusividade do Brasil?

Se sim, eu imagino a sua preocupação em relação a essas aves, porque o tráfico de animais silvestres e o desmatamento aumentam a cada ano e se essas espécies, que só existem no Brasil, forem extintas, elas desaparecerão do planeta. Como eu acredito que apenas o conhecimento pode transformar realidades, segue aqui uma contribuição acerca desse tema para apoiar você na batalha pela conservação da nossa biodiversidade.

Essas aves exclusivas do Brasil são chamadas de endêmicas – esse termo significa que essas espécies são restritas a regiões geográficas específicas. Você pode consultar a lista completa elaborada pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO), que é a referência das aves que só existem no nosso país.

Neste artigo, eu vou apresentar algumas espécies endêmicas por sua beleza, grau de ameaça e comportamento migratório, para que você esteja atento(a) à presença delas perto de sua casa ou nas excursões das quais você participa.

Algumas espécies e seus graus de ameaça

Muitas aves endêmicas estão ameaçadas. Segundo a Birdlife International, que também utiliza a nomenclatura e siglas que regem os graus de ameaça referenciados neste artigo, 39% das aves endêmicas estão sob algum grau de ameaça ou já foram extintas. Algumas como o trepador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti) e o limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi), infelizmente, foram “extintas” (EX). Outras espécies como o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu) e a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) estão com o status de “extintas na natureza” (EW), mas foram contempladas com projetos de reintrodução na natureza e os resultados estão sendo bastante positivos a ponto de, em um futuro não distante, elas passarem do status de “extintas na natureza” (EW) para o “criticamente ameaçadas” (CR).

O barbudo-rajado-pequeno (Malacoptila minor) é uma das 23 espécies endêmicas que está ameaçado (“em perigo” – EN) de extinção e é muito parecido com o barbudo-rajado (Malacoptila striata) da Mata Atlântica, mas só existe no Maranhão e no Piauí.

A lista de espécies endêmicas “quase ameaçadas” de extinção (NT) é um pouco maior. São 34 espécies espalhadas por todo o Brasil e tem aves como o papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), o piolhinho-serrano (Phyllomyias griseocapilla) e o saí-de-pernas-pretas (Dacnis nigripes), que é uma espécie migratória que aparece na época do inverno na região onde moro, nas terras altas da Mantiqueira. Há duas espécies de caboclinhos que são endêmicas do Brasil, estão ameaçadas e que toda população migra entre as áreas de reprodução e descanso: o caboclinho-de-barriga-preta (Sporophila melanogaster) e a patativa-tropeira (Sporophila beltoni).

O maior grupo é o das espécies endêmicas “vulneráveis” (VU), com 41. Fazem parte o papa-moscas-estrela (Hemitriccus furcatus), a ararajuba (Guaruba guarouba), o pica-pau-da-taboca (Celeus obrieni), o jacu-de-barriga-castanha (Penelope ochrogaster), a saíra-pintor (Tangara fastuosa) e a saíra-sapucaia (Stilpnia peruviana), que é migratória e aparece em São Paulo em locais alto grau de conservação ambiental, como na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sítio Curucutu, que abriga inúmeras espécies da fauna e flora de inestimável valor para a Mata Atlântica do Sudeste.

O último grau de ameaça antes da extinção contém as aves “criticamente ameaçadas” (CR), que tem 12 espécies endêmicas e é integrado por espécies como a choquinha-de-alagoas (Myrmotherula snowi), o soldadinho-do-araripe (Antilophia bokermanni), a saíra-apunhalada (Nemosia rourei), o entufado-baiano (Merulaxis stresemanni), o crejoá (Cotinga maculata), o tietê-de-coroa (Calyptura cristata), o bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola) e a rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), sendo que essas duas últimas espécies foram contempladas pelos valorosos trabalhos da SAVE Brasil – ONG que realiza projetos de conservação das aves e seus ambientes naturais com excelência há mais de 20 anos.

Note que a maioria das aves citadas têm em seu nome popular nomes de locais. Afinal, essas as espécies só são encontradas em localidades muito específicas, o que aumenta ainda mais o risco, pois se algo ruim acontecer na área (como fogo, doença ou desmatamento) a extinção é quase inevitável.

Endêmicas e fáceis de serem avistadas

No local onde você mora tem alguma espécie endêmica ameaçada? Se a resposta for “não”, é possível que você conheça algumas dessas aves como a jandaia-de-testa-vermelha (Aratinga auricapillus), o arapaçu-escamoso (Lepidocolaptes squamatus), o entufado (Merulaxis ater), o macuquinho (Eleoscytalopus indigoticus), o corrupião (Icterus jamacaii), a saíra-ferrugem (Hemithraupis ruficapilla), o tiê-sangue (Ramphocelus bresilia), a saíra-douradinha (Tangara cyanoventris), a saíra-lagarta (Tangara desmaresti) ou o periquito-rico (Brotogeris tirica), que são aves endêmicas não ameaçadas mais facilmente avistadas no Brasil.

Você pode acessar a lista completa das aves endêmicas do Brasil no site do Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos e em uma postagem minha no meu canal do Instagram, no qual a lista completa está ilustrada com 30 fotos de espécies endêmicas que talvez você conheça. Recomendo também a leitura de outro artigo publicado por mim aqui no Fauna News, que trata especificamente das aves endêmicas brasileiras que podem estar pertinho da sua casa e você nem imaginava.

Estude a lista de aves endêmicas e encontre todas que já registrou em listas do eBird, fotos ou gravações sonoras. Isso vai ajudar você a conhecer melhor as espécies de aves que nenhum outro lugar do mundo tem. Valorize. Conhecimento é a chave para transformar a realidade de animais e pessoas; portanto estude e compartilhe!

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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