Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf) da UFRGS.
Um dos poucos legados positivos da pandemia foi darmos conta de que reuniões e encontros poderiam ser mais inclusivos e contarem com a participação de pessoas do mundo todo. Graças a esse aprendizado, semana passada pude participar do Congresso Internacional de Ecologia e Transportes (International Conference on Ecology & Transportation – ICOET 2023), que aconteceu na cidade de Burlington, em Vermont (Estados Unidos). Obviamente, a interação e as trocas com outros participantes não acontecem no ambiente virtual de um congresso híbrido, mas que bom poder acompanhar todas as palestras e inovações da área, mesmo estando distante.
O congresso iniciou com uma abertura inspiradora, abordando a questão da justiça ambiental. Muitos padrões de desigualdade social são, principalmente, determinados pelo racismo e pela supremacia branca, tendo relação direta com questões ambientais. O palestrante, Madhusudan Katti, falou sobre como as desigualdades sociais também moldam os processos ecológicos e evolutivos em cidades dos EUA e destacou a necessidade de que as pesquisas integrem a perspectiva de justiça ambiental com as dinâmicas ecológicas. A essência das mensagens dessa primeira palestra foi que precisamos descolonizar nossas práticas em ecologia e conservação. Para isso, precisamos:
– descolonizar nossos pensamentos;
– conhecer a história das pessoas envolvidas na temática de pesquisa;
– descolonizar o acesso aos dados, tornando-os mais acessíveis;
– reconhecer que o conhecimento já existe entre as pessoas envolvidas, principalmente povos tradicionais, enfraquecendo a ideia de que grupos específicos (os especialistas) são exclusivamente os detentores do conhecimento (processo de descolonização); e
– formar grupos de pesquisa mais inclusivos.
Depois dessa grande abertura, ficou, para mim, o questionamento de como podemos incluir essa questão de justiça ambiental nas práticas em Ecologia de Transportes e em conservação.
O ICOET sempre foi conhecido por ser um evento que conta com a presença não só de pesquisadores, mas de muitos profissionais dos diferentes setores envolvidos com os transportes nos Estados Unidos. Este ano não foi diferente. No meu ponto de vista e nas palestras que eu escolhi acompanhar, o congresso abordou muito o tema de alteração de conectividade ecológica mediada pelos empreendimentos de transporte. Gostaria de destacar três temas trazidos nas discussões, sendo os dois primeiros sobre conectividade ecológica:
Animais aquáticos
As estradas como barreira ao movimento de animais aquáticos e como as estruturas de drenagens interferem no movimento dessa fauna, incluindo tanto espécies migratórias como não migratórias. Muitas foram as palestras que apresentaram estudos de caso mostrando esse impacto. Ficou evidente que soluções para drenagens mais amigáveis para a animais aquáticos são imprescindíveis. Esse problema já foi tratado aqui no Fauna News, mostrando que também enfrentamos esse desafio pelo Brasil. Entre os trabalhos apresentados, achei muito interessante o Portal Fish Passage, que traz diferentes projetos de estruturas de travessia para peixes e animais aquáticos.
Mudanças climáticas
A oportunidade de já considerarmos os diferentes cenários previstos de mudanças climáticas em modelos de conectividade para indicar locais para implementação de estruturas de travessia segura em rodovias foi outro tema que merece destaque. A ideia é que já sejam levadas em conta as possíveis mudanças na movimentação dos animais para que os investimentos em mitigação sejam também efetivos no longo prazo.
Animais de pequeno porte
Algumas sessões foram dedicadas a trabalhos com pequenos animais (como morcegos, anfíbios e répteis) e a avaliação de propostas de mitigação que promova a travessia segura deles. Um exemplo foi um trabalho que mostrou que a implantação de um trecho elevado de rodovia onde há migração de anfíbios foi efetiva para permitir o movimento seguro entre os dois lados da estrada não apenas para os anfíbios migratórios, mas também para répteis e mamíferos.
Obviamente, muitos outros assuntos foram discutidos, mas entre os que eu assisti (porque precisamos escolher sessões e não assistimos a totalidade das palestras), esses foram o que julguei mais interessantes e inovadores. Minha ideia aqui foi ilustrar e trazer para reflexão alguns assuntos e novidades apresentadas no congresso.
Se estiver interessado, toda a programação do evento pode ser conferida aqui.
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias […]
