
Por Daniel Campesan¹ e Larissa Ferreira²
¹Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental atuando no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)
²Graduanda em Gestão e Análise Ambiental. É estagiária na Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
educacaoambiental@faunanews.com.br
Quando pensamos em trabalhar com diferentes públicos, nos remetemos à palavra empatia, a partir da compreensão de que somos parte do todo. Empatia que só existe quando tudo está no todo, ou seja, quando englobamos todas as formas de vida. Assim se faz a educação. Educação é coletividade, em que todos ensinam e aprendem ao mesmo tempo. Assim se faz a educação transformadora.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”.
(Paulo Freire, 1987, p. 39)
Dentre as diferentes correntes de Educação Ambiental, a dialógica e crítica é a que entendemos como de maior potencial de mudança. A base do diálogo é sempre a troca de informações entre duas ou mais pessoas, mas o primordial é o escutar verdadeiramente. Acreditamos que essa ação é consideravelmente um sinônimo de empatia. Mas por que escutar?
Porque quando escutamos aprendemos com as experiências de outras pessoas, vemos novas visões de mundo, temos contato com as possibilidades que existem para uma situação. Principalmente quando trabalhamos com ações educativas voltadas para a conservação da fauna silvestre. Se não escutamos o povo local que reside onde a espécie estudada está presente, como nossas ações irão realmente mitigar uma problemática?
Entendemos que as estratégias para a conservação da fauna silvestre necessitam caminhar junto com as estratégias educativas e de comunicação. A pesquisa científica torna-se mais coerente quando faz sentido para as pessoas que moram no lugar em que algo está sendo estudado. Para fazer sentido, precisamos da participação e do envolvimento das pessoas para além da área acadêmica. E assim, como trabalhar o tema da conservação da fauna com diferentes públicos?
Relatamos a seguir a experiência que o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) vem construindo.
O ICAS tem como principal objetivo a conservação de duas espécies da fauna brasileira, o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla). Ao longo dos últimos anos, tem ampliado o seu campo de atuação para as áreas de educação e comunicação, visto a importância de trabalhar toda a complexidade que a conservação exige.
Os materiais educativos elaborados por público e por faixa etária possuem a finalidade de facilitar o trabalho das educadoras e dos educadores em diferentes espaços educativos. Pensados a partir da temática central que é a valorização das espécies mencionadas e a aproximação das pessoas com elas, os materiais educativos contemplam os diversos anos do ensino escolar e o público de espaços não-formais de educação como zoológicos, aquários e projetos de conservação.
Esses materiais são também elaborados para construir espaços de diálogo com fazendeiros, pois eles possuem propriedades que são o habitat do tatu-canastra e do tamanduá-bandeira e são atores-chaves para apoiar as ações de conservação.
Existe o objetivo em comum de alcançar diferentes públicos, porém é preciso uma linguagem coerente e dialógica para cada um deles, para de fato haver uma aproximação com essas pessoas e compartilhamento do compromisso pela conservação da fauna silvestre. Nesse sentido, os materiais educativos buscam contemplar três dimensões que enxergamos como necessárias para a educação ambiental crítica e transformadora: participação, valores e conhecimentos.
A participação para ampliarmos nossa visão de mundo e construirmos estratégias coletivamente para a conservação. Os valores para compreendermos que trabalhar com uma situação concreta envolve constantes negociações e que as questões socioambientais não podem ser reféns de interesses próprios. Os conhecimentos para valorizarmos suas diferentes manifestações e construções a partir da experiência que cada pessoa carrega.

Como trabalhar o tema da conservação da fauna com diferentes públicos? Uma pergunta que, assim como muitas outras, nos deixa com respostas em aberto. Mas esperamos que, de alguma forma, tenhamos contribuído compartilhando brevemente nossas experiências. Essa é a direção para o caminho que queremos construir. Com muito diálogo, empatia para a escuta, práticas contextualizadas e coerentes, valorização dos diferentes saberes e o reconhecimento de que precisamos dos outros seres e do meio para ser quem nós somos e compor um todo.
Referência
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 1987. 107 p.
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