Como e porque os papagaios imitam os humanos

Os papagaios são os animais que exibem o mimetismo vocal mais avançado entre os animais.” – Erich Jarvis

Quem nunca ouviu uma história de que a pessoa foi enganada por um papagaio? Isso porque de todas as criaturas na Terra, apenas duas conseguem produzir linguagem: os humanos e as aves. Das poucas espécies de aves que conseguem imitar a fala humana, muitas não vemos aqui no Brasil pois são originárias de outros países, como o mainá e os corvos. Mas os papagaios conseguem imitar palavras e fazer uma comunicação verbal estranhamente bem.

Como isso é possível? Por que os papagaios conseguem “falar” enquanto os nossos parentes mais próximos, os primatas, não conseguem?

Com relação ao comportamento, os papagaios são os melhores animais no aprendizado vocal, o que significa que apreendem os sons ouvindo e depois os imitam. Embora várias outras espécies de aves consigam discernir e repetir sons, os papagaios são os profissionais. E aqui está sendo considerado várias espécies de papagaios, desde os brasileiros bastante conhecidos por nós, bem como os papagaios africanos. Os mais conhecidos por serem alvos de estudos de longo prazo são os papagaios-cinzas, que ocorre África subsaariana e são ótimos “faladores”. O Alex, é o mais famoso de todos eles por ajudar responder várias perguntas científicas por 30 anos.

Papagaios são animais sociáveis e, assim como outras espécies, usam a vocalização para reprodução, defesa do território e até para coordenar movimentos do grupo. Essa última característica é importante porque continuamente se separam e se juntam ao final do dia, precisando então serem capazes de se juntarem nos bandos novamente. Para cada atividade diária, indivíduos de grupos menores compartilham e aprendem cantos semelhantes para se identificarem.

Na natureza, muitos psitacídeos, espécies da família dos papagaios, utilizam as suas proezas vocais para compartilhar informações importantes e integrar-se no bando, afirma Irene Pepperberg, pesquisadora associada e professora em Harvard que estudou o Alex (papagaio-cinza) por anos. Ela diz: “Uma ave sozinha na natureza é uma ave perdida; ela não pode procurar comida e predadores ao mesmo tempo, mas num bando podem dividir responsabilidades”. Os papagaios são tão incríveis que espécies de ampla distribuição, como o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), podem ainda ter dialetos variados dependendo de onde moram.

Com relação a fisiologia, mais especificamente do cérebro dessas aves, uma pesquisa feita pelo neurocientista Erich Jarvis, da Universidade de Duke EUA) apresentou que qualquer ave que aprende a falar tem uma parte do cérebro dedicada a essa tarefa, que é chamada de sistema de canto. Nos papagaios, o sistema de canto é mais elaborado, tendo duas camadas: um “núcleo” interior, comum a todos as aves que são mais vocais, e uma “concha” exterior, que é exclusiva dos papagaios. Jarvis ainda não entendeu exatamente como funciona, mas ele acredita que essa concha é o que permite que os papagaios sejam imitadores tão competentes.

Outra característica estrutural que pode contribuir é a forma como é produzida o som. Nos humanos, ele é produzido nas cordas vocais (usando a laringe), com a vibração da musculatura da traqueia e finalizando com o auxílio da língua e da lábios. No papagaio, o som se origina na siringe, localizada na base da traqueia. Diferentemente de outras espécies, é apenas em um dos lados que propaga o som, que no final é modulado pela língua e bico. A língua e a mandíbula dos papagaios são flexíveis para manipular e quebrar as castanhas na hora da alimentação.

Mas por que é que os papagaios copiam o discurso humano?

Isso está relacionado com a necessidade de viver em bandos. Os papagaios tentam naturalmente integrar-se e os que vivem em cativeiro entendem as pessoas como seu bando. Os papagaios de estimação têm todas as condições essenciais para aprenderem a linguagem: tempo, inspiração e capacidade mental. Os papagaios selvagens, por outro lado, não têm a proximidade necessária com a fala. “Na natureza, os papagaios concentram-se nos outros papagaios para aprenderem o que querem”, diz Tim Wright, da Faculdade do Novo México.

É apenas em cativeiro que os humanos se tornam a sua fonte de interação social. Mas, de fato, essas aves não sabem o que estão dizendo, apenas repetem aquilo que costumam ouvir para uma determinada situação. Porém, Pepperberg acredita que os papagaios conseguem fazer associações mais precisas e isso os ajudaria a se “comunicarem” com os humanos.

Embora isso possa parecer bastante engenhoso, lembre-se que muitos outros animais – com ou sem aprendizagem vocal – têm sons que utilizam para comunicar (particularmente sobre comida, um dos aspectos mais importantes da vida de qualquer animal). Provavelmente, só achamos os papagaios particularmente cativantes porque os conseguimos entender.

Os psitacídeos, em especial os papagaios, cativam as pessoas há séculos. Porém, isso trouxe a essas espécies de aves uma forte pressão de tráfico, pois muitas pessoas desejam ter um papagaio para “conversar” e interagir. Isso criou uma oportunidade para caçadores e comerciantes ilegais de animais silvestres se beneficiassem do nosso fascínio. O desmatamento e perda de hábitat, juntamente com o tráfico, colocaram muitos psitacídeos na lista de espécies ameaçadas de extinção.

Não contribua com o tráfico e prefira observar as aves na natureza, permitindo assim para que elas continuem colorindo os céus das futuras gerações e “falando” muito, mas entre seus bandos.

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