![Fauna News](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2022/08/araras-azuis-de-lear.jpg)
Por Thelma Gátuzzô
Advogada em São Paulo (SP), especialista em Direito Comercial, fotógrafa, pós-graduada em Fotografia pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), coautora de livros de fotografia e instrutora de fotografia
observacaodeaves@faunanews.com.br
Sempre amei os animais. As lembranças mais ternas de minha primeira infância estão ligadas aos animais, sejam eles domésticos ou selvagens, sem exceção. Lembro-me que meu pai nos presenteava com patinhos, pintinhos e outros animais domésticos e era uma delícia vê-los crescer, nadar em bacias improvisadas, andar rebolando… Eu não podia ver uma avezinha, sempre corria atrás dela, queria alimentá-la, cuidar dela, como qualquer criança ingênua. Boas memórias.
Depois de adulta, já estabelecida como profissional da área jurídica, voltei minha atenção à fotografia, outra paixão que sempre tive, e decidi estudá-la a fundo. Passei a me dedicar bastante, concluí o curso da Escola Panamericana de Artes (2008) e, posteriormente, a pós-graduação em fotografia pela Fundação Armando Álvares Penteado, a FAAP (2010).
A natureza sempre foi um tema muito presente no meu trabalho fotográfico. Mas, vivendo em São Paulo, e confesso que um tanto quanto desinformada na ocasião, eu achava muito difícil o acesso à natureza para fotografar e mais difícil ainda para fotografar aves.
![](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Barred-Owl.jpg)
Em viagens para o exterior, principalmente para a Flórida (EUA), eu dedicava boa parte do meu tempo livre fotografando as aves no Everglades ou em parques e santuários que são bem numerosos por lá. Uma das minhas maiores emoções foi fotografar a coruja Strix varia no Corkscrew Swamp Sanctuary. Nunca imaginei que fosse possível fotografar uma coruja de dia! Em seguida, me encantei com as corujas-buraqueiras que, por lá, fazem ninhos nos jardins das casas e as pessoas as protegem. Fiquei encantada!
Ao retornar ao Brasil não me conformava em não fotografar aves e de não saber onde encontrá-las. Comecei a pesquisar na internet e descobri o Wikiaves, em que procurei dicas de locais para fotografar aves próximos a São Paulo. Foi no Wikiaves que me deparei com uma sugestão para fotografar beija-flores na Pousada da Fazenda, em Monte Alegre do Sul (SP). Imediatamente, liguei para eles e agendei um final de semana por lá. Para mim um novo mundo se abriu. Foi um momento único, pleno de maravilhamento e emoção! Encontrar tantos beija-flores, que voavam freneticamente ao meu redor, num local tão aconchegante e próximo a São Paulo, que sonho! Na minha primeira visita fotografei 12 espécies diferentes dessa ave.
A partir daí, não parei mais. O amigo Luiz Gonzaga Truzzi me deu várias dicas de locais para fotografar aves e nomes de excelentes guias e pessoas maravilhosas, que acabei conhecendo ao longo do tempo.
Fiz minha primeira viagem fotográfica de aves em 2014 com o amigo Edson Endrigo, para Ubatuba (SP) e Paraty (RJ). A cada dia, ficava mais fascinada. Aos poucos, fui “descobrindo” outros locais excepcionais dedicados à conservação da avifauna e à fotografia de aves, como o Parque Estadual Intervales (SP), o Parque Nacional de Itatiaia (RJ/MG), o Parque Estadual da Cantareira (SP), o Parque Estadual de Campos do Jordão (SP), Estação Ecológica Juréia-Itatins (SP), o Parque Municipal Nove de Julho (SP), dentre outros.
Além desses, conheci os locais privados dedicados à observação de aves que são verdadeiras joias para todo fotógrafo e observador, tais como a Trilha dos Tucanos, Sítio Espinheiro Negro, Sítio Folha Seca, Sítio Macuquinho, Sítio Pau Preto, dentre outros.
![](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Saira-sapucaia.jpg)
As viagens para fotografar as aves não pararam. Acabei desbravando um pouco dos biomas do Brasil e, a cada nova viagem, fui conhecendo um pouco mais as suas aves maravilhosas. Visitei lugares pouco conhecidos, nem sempre confortáveis, e alguns de difícil acesso, mas as surpresas foram tão significativas que todos os esforços e dificuldades foram superadas. Emoções como fotografar as araras-de-lear em Canudos (BA), o pica-pau-da-parnaíba no Tocantins, o pompeu e o soldadinho-do-araripe em Pernambuco, o galo-da-serra na Amazônia, o beija-flor-de-gravata-verde na Serra do Espinhaço (MG), as araras-azuis no Pantanal, o macuquinho-baiano em Itacaré (BA), a maria-leque-do-sudeste e o gavião-de-penacho ambos no ninho, em Iporanga (SP) e a saíra-sapucaia em São Paulo são indescritíveis. Isso sem esquecer do conhecimento que fotografar cada espécie me proporciona.
![](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2022/08/soldadinho-do-araripe.jpg)
A fotografia de aves me aproximou de organizações sérias e dedicadas à conservação e à proteção da nossa avifauna, como a SAVE Brasil, de pessoas incríveis ligadas ao meio-ambiente e me despertou, ainda mais, para a necessidade de conhecimento, engajamento e conexão com os movimentos de preservação e conservação.
Hoje, me dedico a fotografar as aves de uma forma geral. Meu objetivo é fotografá-las da melhor forma possível, tarefa essa muitas vezes muito difícil, pois não é possível controlar a luz, o local e a pose da ave. Não obstante, busco, através da arte fotográfica, revelar olhares, expressões, detalhes, “personalidades” das aves e expor sua beleza a todas as pessoas, sejam elas observadoras de aves ou não. Entendo que a beleza seduz e, consequentemente, desperta as pessoas para a existência de um mundo mágico que necessita urgentemente de proteção.
Infelizmente, a grande maioria das pessoas ignora a diversidade da nossa avifauna, sua delicadeza e vulnerabilidade. Mas acredito que uma bela fotografia tem a capacidade de despertar o interesse até mesmo do mais leigo, que fica maravilhado quando vê uma imagem de uma saíra-sete-cores ou de tiê-sangue, por exemplo, e pode pesquisar, conhecer e, quiçá, também proteger. Tenho a intenção de lançar um livro de fotografia de aves com esse objetivo.
![](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2022/08/Maria-leque-do-sudeste.jpg)
___________________________________________________________________________
Este artigo foi escrito por Thelma Gátuzzô, advogada e fotógrafa de aves. Ele faz parte dos Amigos da SAVE Brasil, uma rede de pessoas conectadas e engajadas pela conservação das aves na natureza. Você também pode fazer parte contribuindo anualmente com uma doação. Para isso, basta acessar savebrasil.colabore.org.br.
– Leia outros artigos da coluna OBSERVAÇÃO DE AVE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)