Por Thelma Gátuzzô
Advogada em São Paulo (SP), especialista em Direito Comercial, fotógrafa, pós-graduada em Fotografia pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), coautora de livros de fotografia e instrutora de fotografia
observacaodeaves@faunanews.com.br
Sempre amei os animais. As lembranças mais ternas de minha primeira infância estão ligadas aos animais, sejam eles domésticos ou selvagens, sem exceção. Lembro-me que meu pai nos presenteava com patinhos, pintinhos e outros animais domésticos e era uma delícia vê-los crescer, nadar em bacias improvisadas, andar rebolando… Eu não podia ver uma avezinha, sempre corria atrás dela, queria alimentá-la, cuidar dela, como qualquer criança ingênua. Boas memórias.
Depois de adulta, já estabelecida como profissional da área jurídica, voltei minha atenção à fotografia, outra paixão que sempre tive, e decidi estudá-la a fundo. Passei a me dedicar bastante, concluí o curso da Escola Panamericana de Artes (2008) e, posteriormente, a pós-graduação em fotografia pela Fundação Armando Álvares Penteado, a FAAP (2010).
A natureza sempre foi um tema muito presente no meu trabalho fotográfico. Mas, vivendo em São Paulo, e confesso que um tanto quanto desinformada na ocasião, eu achava muito difícil o acesso à natureza para fotografar e mais difícil ainda para fotografar aves.
Em viagens para o exterior, principalmente para a Flórida (EUA), eu dedicava boa parte do meu tempo livre fotografando as aves no Everglades ou em parques e santuários que são bem numerosos por lá. Uma das minhas maiores emoções foi fotografar a coruja Strix varia no Corkscrew Swamp Sanctuary. Nunca imaginei que fosse possível fotografar uma coruja de dia! Em seguida, me encantei com as corujas-buraqueiras que, por lá, fazem ninhos nos jardins das casas e as pessoas as protegem. Fiquei encantada!
Ao retornar ao Brasil não me conformava em não fotografar aves e de não saber onde encontrá-las. Comecei a pesquisar na internet e descobri o Wikiaves, em que procurei dicas de locais para fotografar aves próximos a São Paulo. Foi no Wikiaves que me deparei com uma sugestão para fotografar beija-flores na Pousada da Fazenda, em Monte Alegre do Sul (SP). Imediatamente, liguei para eles e agendei um final de semana por lá. Para mim um novo mundo se abriu. Foi um momento único, pleno de maravilhamento e emoção! Encontrar tantos beija-flores, que voavam freneticamente ao meu redor, num local tão aconchegante e próximo a São Paulo, que sonho! Na minha primeira visita fotografei 12 espécies diferentes dessa ave.
A partir daí, não parei mais. O amigo Luiz Gonzaga Truzzi me deu várias dicas de locais para fotografar aves e nomes de excelentes guias e pessoas maravilhosas, que acabei conhecendo ao longo do tempo.
Fiz minha primeira viagem fotográfica de aves em 2014 com o amigo Edson Endrigo, para Ubatuba (SP) e Paraty (RJ). A cada dia, ficava mais fascinada. Aos poucos, fui “descobrindo” outros locais excepcionais dedicados à conservação da avifauna e à fotografia de aves, como o Parque Estadual Intervales (SP), o Parque Nacional de Itatiaia (RJ/MG), o Parque Estadual da Cantareira (SP), o Parque Estadual de Campos do Jordão (SP), Estação Ecológica Juréia-Itatins (SP), o Parque Municipal Nove de Julho (SP), dentre outros.
Além desses, conheci os locais privados dedicados à observação de aves que são verdadeiras joias para todo fotógrafo e observador, tais como a Trilha dos Tucanos, Sítio Espinheiro Negro, Sítio Folha Seca, Sítio Macuquinho, Sítio Pau Preto, dentre outros.
As viagens para fotografar as aves não pararam. Acabei desbravando um pouco dos biomas do Brasil e, a cada nova viagem, fui conhecendo um pouco mais as suas aves maravilhosas. Visitei lugares pouco conhecidos, nem sempre confortáveis, e alguns de difícil acesso, mas as surpresas foram tão significativas que todos os esforços e dificuldades foram superadas. Emoções como fotografar as araras-de-lear em Canudos (BA), o pica-pau-da-parnaíba no Tocantins, o pompeu e o soldadinho-do-araripe em Pernambuco, o galo-da-serra na Amazônia, o beija-flor-de-gravata-verde na Serra do Espinhaço (MG), as araras-azuis no Pantanal, o macuquinho-baiano em Itacaré (BA), a maria-leque-do-sudeste e o gavião-de-penacho ambos no ninho, em Iporanga (SP) e a saíra-sapucaia em São Paulo são indescritíveis. Isso sem esquecer do conhecimento que fotografar cada espécie me proporciona.
A fotografia de aves me aproximou de organizações sérias e dedicadas à conservação e à proteção da nossa avifauna, como a SAVE Brasil, de pessoas incríveis ligadas ao meio-ambiente e me despertou, ainda mais, para a necessidade de conhecimento, engajamento e conexão com os movimentos de preservação e conservação.
Hoje, me dedico a fotografar as aves de uma forma geral. Meu objetivo é fotografá-las da melhor forma possível, tarefa essa muitas vezes muito difícil, pois não é possível controlar a luz, o local e a pose da ave. Não obstante, busco, através da arte fotográfica, revelar olhares, expressões, detalhes, “personalidades” das aves e expor sua beleza a todas as pessoas, sejam elas observadoras de aves ou não. Entendo que a beleza seduz e, consequentemente, desperta as pessoas para a existência de um mundo mágico que necessita urgentemente de proteção.
Infelizmente, a grande maioria das pessoas ignora a diversidade da nossa avifauna, sua delicadeza e vulnerabilidade. Mas acredito que uma bela fotografia tem a capacidade de despertar o interesse até mesmo do mais leigo, que fica maravilhado quando vê uma imagem de uma saíra-sete-cores ou de tiê-sangue, por exemplo, e pode pesquisar, conhecer e, quiçá, também proteger. Tenho a intenção de lançar um livro de fotografia de aves com esse objetivo.
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Este artigo foi escrito por Thelma Gátuzzô, advogada e fotógrafa de aves. Ele faz parte dos Amigos da SAVE Brasil, uma rede de pessoas conectadas e engajadas pela conservação das aves na natureza. Você também pode fazer parte contribuindo anualmente com uma doação. Para isso, basta acessar savebrasil.colabore.org.br.
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