Por Adriana Prestes
Bióloga, responsável técnica por áreas de soltura e monitoramento de fauna silvestre na Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba (SP) e secretária executiva do Grupo de Estudo de Fauna Silvestre do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira
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O dia a dia de quem trabalha com fauna silvestre recuperada do tráfico ou de atropelamentos envolve quase sempre avaliar realisticamente a capacidade de cada indivíduo sobreviver a condição de recebimento, quando começa a ser atendido, e, depois do processo de reabilitação, a capacidade de sobreviver no local definido para soltura.
Uma ferramenta importante é a chamada “árvore de tomada de decisão”, que nada mais é do que a criação de uma planilha com possíveis “caminhos” para a destinação do animal em avaliação. Essa metodologia, que é preconizada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), vem sendo adaptada por diversas instituições às condições locais de sua aplicação.
A primeira pergunta é: o indivíduo em questão é uma espécie de alto valor para a conservação? Em outras palavras, uma espécie de papagaio monitorada pelo Plano Nacional de Conservação do ICMBio tem prioridade na destinação em relação a um gambá, que pelo menos deveria ser uma espécie mais comum.
A segunda pergunta é: o indivíduo necessita repatriação para sua região de distribuição original? O caso exato das araras, por exemplo. No caso de a repatriação ser possível, existem áreas seguras nas quais os indivíduos terão condição de sobreviver?
Se as duas primeiras perguntas tiverem resposta negativa, como, por exemplo, no caso de um gambá, estaria o animal apto para uma translocação, ou seja, uma soltura simples? No caso positivo, qual a capacidade de suporte do local onde o animal será solto? Quantos animais dessa espécie já foram soltos na mesma área? Qual é o tamanho da população residente da mesma espécie na área?
Outra pergunta: o animal em questão precisará ser mantido em cativeiro até o final de seus dias? Se sim, quais as instituições podem receber e manter adequadamente animais que podem durar 20 anos?
E, por fim, a mais difícil de todas as perguntas: o animal precisará ser eutanasiado?
Assim, como em uma árvore com galhos que vão se ramificando, igualmente vão se formando os caminhos possíveis para serem percorridos pelos tomadores de decisão sobre o destino de cada indivíduo. Mais do que facilitar a tomada de decisão, esse sistema deve permitir uma visão geral do processo. A “árvore” também auxilia na visão ética sobre o processo de soltura, ou seja, a tomada de decisão precisa, também, minimizar o sofrimento dos animais que são o centro de todo esse contexto.
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