
Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) têm como responsabilidade e função a triagem, reabilitação, soltura e destinação de animais silvestres advindo do tráfico, resgates e entregas voluntárias. Esses centros precisam, portanto, ter estrutura e suporte técnico para atender uma demanda específica e, muitas vezes, ainda sem definições técnicas para embasar quando se precisa instalar algum empreendimento desse tipo.
Ou seja, geralmente se prevê que as necessidades dos Cetras partam da possibilidade de receber todas as espécies possíveis.
A partir dessa premissa vem o pensamento sobre o quadro técnico necessário para atender, possivelmente, todas as espécies possíveis. Talvez a primeira opção que se pense seja ter um especialista em cada táxon ou até mesmo especialistas em taxonomia para desvendar que tipo de espécie é recepcionado. Porém, venho abrir os olhos sobre o fato de que cada região do Brasil tem uma peculiaridade quanto aos seus recebimentos de animais e, por isso, o padrão não pode ser algo do tipo verdade absoluta. Mas temos alguns fatores que ocorrem em todos, como a triagem de animais advindos do tráfico e suas patogenias, as enfermidades e lesões advindas de acidentes e, por último, as doenças clássicas ou progressivas que vêm afetando os meios domésticos dos animais criados ilegalmente ou legalmente.
Quando pensamos no quadro de veterinários, temos uma necessidade extrema de um cirurgião, principalmente ortopedista, pois há uma grande quantidade de animais recebidos com necessidades cirúrgicas. Já quando o assunto são maus tratos e tráfico de fauna, se faz necessário um patologista, profissional essencial para a elaboração dos laudos sanitários e de maus tratos. É também fundamental um bom clinico com uma vasta experiência nos grupos a serem atendidos e que, nesse caso, é quem mais usa da intuição e conhecimento do que acontece com esses animais para poder diagnosticar e indicar os tratamentos a serem propostos – já que a maioria dos casos vem sem histórico algum.
Em relação ao quadro de biólogos, temos intensa necessidade de pessoas com o conhecimento voltado para o manejo e o comportamento das espécies, muito mais do que no âmbito da identificação de cada uma. Por isso, precisamos de profissionais que tanto tenha a habilidade no manejo em si (captura) e o cuidado com filhotes quanto entenda as necessidades comportamentais de cada animal, principalmente no que se refere aos filhotes – campo que mais se tem carência de informações técnicas a respeito do processo de criação, reabilitação e soltura, envolvendo todos os grupos que chegam ao centro.
Temos ainda a qualificação do zootecnista e manipuladores de alimentos, que são as figuras essenciais para a elaboração da dieta de todos. É um desafio diário elaborar cardápios voltados às necessidades básicas de cada animal e daqueles em processo de recuperação que, muitas vezes, não podem realizar seus comportamentos naturais para ingerir seus alimentos, exigindo criatividade e conhecimento prévio da espécie para a manutenção do paciente até a sua total recuperação.
Além disso, temos o quadro de tratadores, que são pessoas que se dedicam aos cuidados mais básicos, porém os mais importantes dentro da cadeia de atividades dos Cetras: alimentação, limpeza e manejo dos espécimes. Para isso, eles precisam utilizar técnicas de convencimento e até de amizade para conseguir realizar seu trabalho, que inclui principalmente o contato direto com os animais, além de paciência e experiência no comportamento deles para conseguir realizar o trabalho.
Vimos que as necessidades técnicas dos centros de triagem e de reabilitação de animais silvestres são enormes e que muito ainda tem a se descobrir. Entretanto, se faz urgente a determinação de normas para definir equipes técnicas mínimas e a real necessidade de experiência desses profissionais para que os Cetras do Brasil possam realizar com excelência as atividades de conservação da fauna brasileira que está sob a ameaça constante pela diminuição de habitat e o comércio ilegal de animais silvestres.
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