
Por Dimas Marques
Jornalista, pesquisador do Diversitas-USP e editor responsável do Fauna News
dimasmarques@faunanews.com.br
A situação dos Centros de Triagem e dos Centros de Recuperação de Animais Silvestres, Cetas e Cras, do Brasil mercê uma grande reportagem ou uma pesquisa acadêmica. Afinal, para avaliar o funcionamento dessas estruturas essenciais em qualquer sistema de gestão de fauna silvestre é necessário conhecê-las.
Para quem não sabe, os Cetas são responsáveis por receber animais silvestres apreendidos com traficantes ou em cativeiro doméstico ilegal, machucados vítimas de maus tratos, de atropelamentos, de incêndios, de acidentes com a rede elétrica, etc. Ou seja, tais centros avaliam, medicam, tratam os animais para depois enviá-los para soltura ou, quando não é possível, entidades credenciadas que os manterão em cativeiro. Os Cras têm função parecida, acrescida a responsabilidade de reabilitar os bichos para retorno à vida livre.
Mesmo sem um estudo aprofundado da situação dos Cetas e dos Cras brasileiros, é possível afirmar: a realidade não é boa. Para dizer o mínimo. Em quantidade insuficiente, esses centros estão lotados e muitos deles (principalmente os públicos) sofrem com problemas de infraestrutura e falta de funcionários.
O Fauna News já publicou inúmeros textos apontando esses problemas. O último (“A situação crítica dos Cetas do AM”, de 5 de julho de 2017), de autoria da bióloga Erika Schloemp, abordou os centros do Amazonas: o centro gerido pelo município está fechado e o do Ibama lotado. É incrível que um Estado do tamanho do Amazonas, que tem em seu território uma floresta com rica e imensa biodiversidade, só tenha dois Cetas.
Mas tal problema não é privilégio do Amazonas.
“O Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Tijucas do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba, encerrou as atividades no fim de junho deste ano. O local era gerenciado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), que mantinha uma parceria com o Ibama, para a manutenção do espaço. Com o fim das atividades do Cetas, o Estado ficou sem um espaço específico para a triagem de animais silvestres.” – texto da matéria “Espaço que fazia triagem de animais silvestres apreendidos no Paraná fecha e tem gestão sob impasse”, publicado em 14 de julho de 2017 pelo portal G1
O fechamento do único Cetas do Paraná, além de expor o descaso do poder público com a fauna silvestre, mostrou o absurdo de uma situação: o apreender para matar. Por não conseguirem um local para receber os 72 tigres d’água exóticos (não nativos do Brasil e que, por isso, não podem ser soltos em território nacional) foram mortos. E tal procedimento não acontece somente com animais de espécies exóticas, pois a falta de locais para destinação de animais que não se recuperam acaba por levar muitos centros a matarem animais. É um contrassenso.
Conheça um pouco da situação do Cras de Campo Grande (MS):
“O Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS), em Campo Grande, está operando com sua capacidade máxima. Atualmente, está atendendo cerca de 700 bichos, a maior parte, quase 70% são aves, mas também são acolhidos e tratados mamíferos e répteis.” – texto da matéria “Centro que reabilita animais silvestres apreendidos ou feridos está com capacidade máxima em MS” publicada em 12 de julho de 2017 pelo portal G1
Sergipe:
“O Ministério Público Estadual (MPE) cobra de órgãos ambientais uma solução para os animais silvestres capturados pelo Pelotão Ambiental da Polícia Militar (PPAmb). Não há local adequado para tratamento e reabilitação dos bichos no Estado.
A ideia do MP, portanto, é que seja criado um Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) na área de propriedade do Governo do Estado no Morro do Urubu, nas proximidades do Zoológico de Sergipe. A possibilidade foi discutida nesta quinta-feira, 13. “ – texto da matéria “MP quer centro para recuperação de animais silvestres”, publicada em 13 de julho de 2017 pelo site Infonet
Quer dizer, Sergipe sequer possui um Cetas. Então, como exigir que a fiscalização atue, apreendendo animais silvestres com traficantes e de pessoas que os criam ilegalmente, se não há para onde levar os bichos?
Esses problemas acorrem pelo país todo. E os Cetas e Cras particulares vivem um eterno drama: lotados e pressionados pela grande demanda, não contam com apoio financeiro do poder público e rotineiramente fazem campanhas para arrecadar recursos para manter um bom atendimento ou, simplesmente, não fechar as portas.
A gestão de fauna silvestre no Brasil ainda é amadora.
– Leia a matéria completa “Espaço que fazia triagem de animais silvestres apreendidos no Paraná fecha e tem gestão sob impasse”, publicado em 14 de julho de 2017 pelo portal G1
– Leia a matéria completa “Centro que reabilita animais silvestres apreendidos ou feridos está com capacidade máxima em MS” publicada em 12 de julho de 2017 pelo portal G1
– Leia a matéria completa “MP quer centro para recuperação de animais silvestres”, publicada em 13 de julho de 2017 pelo site Infonet
– Releia o artigo “A situação crítica dos Cetas do AM”, publicado pelo Fauna News em 5 de julho de 2017