Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os empreendimentos tipo Cetras (centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres) tem por objetivo triar, reabilitar e soltar animais silvestres advindos de resgate, tráfico e entrega voluntária. Nesse sentido, eles se tornam essenciais para ambientes que possuem essas demandas rotineiramente como grandes centros urbanos, localidades que tenham intervenção urbana na fauna, construção de empreendimentos e em ocasiões de desastres ambientais ou grandes operações de fiscalização.
Neste artigo, venho esmiuçar sobre um tipo de Cetras que funciona em ocasiões especificas e temporárias, ou seja, os Cetras provisórios, e com isso mostrar o quanto é importante pensar sobre isso quando vamos trabalhar com algo que envolva ou necessite desse empreendimento como mitigador de danos. Então vamos abordar três tipos de Cetras provisórios: os montados para empreendimentos, os para operações de fiscalização ostensivas e intensivas e os para desastres ambientais que causem danos direto à fauna.
Todo empreendimento que envolva supressão de ambiente natural e que possua fauna vivendo naquele habitat precisa ter como parte mitigadora o processo de afugentamento dos animais e de resgate. No caso de algum espécime precisar ser resgatado por ser filhote ou ter sido machucado no processo de supressão da vegetação, ele terá de ser atendido imediatamente em um Cetras provisório próximo à obra. Se estiver bem, pode ser solto novamente na área onde o empreendimento está realizando o afugentamento ou ser destinado para um Cetras fixo para seu tratamento completo. Se o animal estiver incapacitado para voltar à natureza, o centro providenciará sua destinação para algum empreendimento de fauna licenciado.
Para fiscalizações temáticas e que precisem de vários dias de trabalho, como é o caso da FPI (Fiscalização de Proteção Integrada) de toda a bacia do rio São Francisco, em que cada etapa dura cerca de 15 dias envolvendo todos os órgãos ambientais e de regulamentação, já há a implementação de Cetras provisório para manter e tratar todos os animais apreendidos e resgatados até o momento de soltura ou destinação para um Cetras fixo. Nessas operações da FPI, por exemplo, são apreendidos e resgatados cerca de mil animais.
Já em questão aos desastres ambientais, os Cetras se tornam ferramentas de suma importância para atender emergencialmente a fauna impactada naquele local, como no caso do óleo nas praias do Nordeste em que se estabeleceu um comitê para todo o litoral em busca de fauna oleada a fim de realizar o regate e direcionar os animais imediatamente para o centro mais próximo. Nesse caso, os grupos de resgate e a orientação da população sobre quem procurar no caso de avistamento foi efetivamente importante.
Outro caso bem emblemático é o dos incêndios do Pantanal, que destruíram o habitat das espécies ali residentes e, com isso, deixaram a fauna em desamparo total por falta de recursos para sua sobrevivência – isso quando não foram queimados os próprios animais. Com todo o problema causado, vários setores da sociedade foram acionados e se dispuseram a ajudar, como ONGs e diversos órgãos do poder público, como polícias, bombeiros, agentes de fiscalização ambiental, etc. Essa mobilização permitiu montar bases de apoio para distribuição de alimentos, operações de resgate de fauna e Cetras provisório para atendimento emergencial de animais com problemas relacionados ao fogo de forma direta ou indireta, como os casos de espécimes atropelados por estarem procurando alimento próximo demais das estradas.
Dessa forma se mostra imprescindível à existência de Cetras provisórios que atendam as demandas reais por região, pela dimensão das demandas e pelas especificações da situação emergencial de cada momento. É por isso que se faz necessária a formação de brigadas para o acionamento e direcionamento para cada local onde o desastre está ocorrendo.
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