Por Estevão Santos
Nascido em 2005 em Goiânia (GO), é um ávido observador de aves desde 2013. Considera-se naturalista, percorrendo com afinco os ambientes naturais do Cerrado e do Brasil central atrás de descobertas científicas.
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Tenho devaneios com o dia em que uma renomada figura da Ciência brasileira virá proclamar, plangentemente, a lamuriosa sentença: “procuram-se naturalistas!”. Lamuriosa pois, nesse caso, certamente faltarão à época os tais procurados sujeitos.
Refiro-me aos naturalistas como aqueles aspirantes e afeiçoados do conhecimento naturalista. Particularmente, eu diria que os detentores do conhecimento naturalista nada mais têm do que uma certa polivalência em seu modo de observar, estudar e compreender a natureza: o seu principal objeto de atenção não é único, não é um só campo, mas, sim, a integração em que todos os sistemas estão imersos. Uma semente que cai ao solo, por obra de um passarinho que a regurgitou, e a árvore que, futuramente, ali oferecerá farta sombra. Não apenas a semente nem tão somente o pássaro enquadram-se na atuação de estudo do naturalista, mas a unicidade que compõem, como um sistema natural. É o ato de enxergar toda a floresta como um ser inteiramente vivo e todas as suas formas de vida como relevantes.
Mais um atributo singular enquadra-se dentre suas aptidões: a geração de conhecimento por intermédio do empirismo. O naturalista não trabalha no gabinete, mas despende seu tempo enfurnado nos rincões naturais à busca entusiasta por descobertas ou pela averiguação de suas ambiciosas hipóteses, que nunca faltam. Na verdade, mais valem para o naturalista as verdejantes florestas, as altaneiras árvores e os besouros caminhantes do que grandes prédios, luzes artificiais e o desagradável ruído de automóveis. Desde o princípio já se apresenta meio ermitão, impulsivamente buscando os retiros naturais, e um escapista da efemeridade urbana. Servem-lhe mais o sol do que o dia, mais a lua que a noite; intrigam-no mais as paisagens do que as fronteiras, soam-lhe aos ouvidos esmais os sons do que as onomatopeias.
O tempo, ora… O tempo trouxe novos horizontes e quase caíram em desuso os dados dos naturalistas. Certa vez, disseram-me desgostosamente que naturalistas viraram apenas memórias, perdidas de modo obscuro no vasto pretérito da Ciência e da natureza, e tal conhecimento, se comparado às admiráveis conquistas sociais e tecnológicas da humanidade, é ultrapassado. Indago-me: talvez o naturalista seja mesmo apenas um saudosista, um velho amoriscado pelos sertões, uma alma vagante que ainda se apresenta aqui, na Terra, tão somente para satisfazer aos seus infindáveis desejos de conhecer um pouco mais os retiros selvagens da natureza e as suas incógnitas, também intermináveis.
Acho que é válido os naturalistas manterem-se erguidos pelos tempos sucessores, que, se não revertidos, tenderão apenas para desvalorizá-los cada vez mais. Ainda que perturbados pela constante sensação de solidão, de não correspondência ou de frustração de expectativas, devem ser supridos pelas novas descobertas naturais, que asseguro, são acalentadoras para este nosso desejo de descobrir. Procuram-se naturalistas, que mesmo que praticamente solitários no decurso de seu trajeto, deixarão para sempre registrados os encantos naturais. Uma de nossas vantagens é contentarmo-nos com os mais simples eventos da natureza, que para a ótica mais afeiçoada, representam, na verdade, o maior estágio de complexidade de um organismo biológico.
Naturalistas, dos trópicos e de todo o mundo, uni-vos, antes que os eventos sucedidos pelo passar do tempo tornem-se a figura antagônica!
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