Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
“Um ano e nove meses após ser resgatada da lama da barragem que se rompeu em Brumadinho, em janeiro de 2019, um carcará fêmea fez seu primeiro voo. Mas, para ter de volta a liberdade, a ave, que teve uma asa quebrada, passou um ano e cinco meses em tratamento, em uma fazenda criada pela mineradora Vale.
O espaço foi implantado em Brumadinho, na Grande BH, por exigência do Ministério Público de Minas Gerais, que fez um termo de ajustamento de conduta com a empresa para que ela se comprometesse a abrigar e tratar todos os animais afetados pela tragédia.
“Eles foram resgatados após o rompimento ou estavam em situação de risco nas comunidades em torno e aí a gente faz esse tratamento inicial. Desde o rompimento 1.400 animais já passaram por aqui entre silvestres e domésticos”, contou a analista ambiental Cristiane Cäzar.
Além do carcará, atualmente 20 animais silvestres estão aguardando o Instituto Estadual de Florestas (IEF) decidir para onde serão transferidos. Enquanto esperam, vão tendo lições de como voltar a viver em liberdade.
(…) Em nota, a Vale disse que mantém o compromisso com a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem, que deixou 270 mortos, dos quais 11 ainda desaparecidos, e com o cuidado dos animais domésticos e animais silvestres das áreas atingidas.” – texto da matéria “Carcará resgatada da lama da Vale, em Brumadinho, volta a voar quase dois anos após a tragédia”, publicada em 11 de novembro de 2020 pelo portal G1
Não vi ainda algum trabalho que informasse a dimensão do impacto sobre a fauna silvestres do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho. Também não encontrei esse tipo de trabalho com foco no estrago feito para o ecossistema da região. As informações passadas foram fragmentadas, muitas vezes focadas em casos e histórias individualizadas.
A recuperação do carcará deixa todo mundo feliz. Saber que outros 20 silvestres estão bem e que 1.400 animais, incluindo domésticos, foram atendidos é ótimo.
Mas, pela dimensão do crime ambiental cometido, acredito ser uma parcela ínfima do universo de animais atingidos. De pequenos insetos, passando por anfíbios répteis, aves e mamíferos, a quantidade de vítimas é gigantesca.
Notícias como essa, do carcará voltando à vida livre, devem vir acompanhadas da dimensão da tragédia. Para a fauna silvestre atingida e o ecossistema impactado, é só um grão de terra nesse mar de lama.
O carcará não pode nos deixar felizes. Ele tem de ser exemplo de persistência para cobrar reparações e exigir a punição dos culpados.