Capivaras nos céus: impacto em ambientes aeroportuários

Em córregos, lagoas, rios e canais urbanos não tão distante da moradia de qualquer um de nós, as capivaras, esses simpáticos roedores de pelagem espessa, são facilmente observados em grandes grupos, permitindo, inclusive, a aproximação em áreas em que não há a pressão de caça.

O crescimento de uma população de alguma espécie animal é determinado pela sua relação com os recursos do qual necessita, como abrigo, local de acasalamento, parceiro para acasalar, espaço, corpo d’água, etc. Quando os recursos necessários para o crescimento populacional são fartos, ela pode crescer de maneira exponencial e superar taxas de ambientes naturais.

A capivara é uma espécie herbívora que tem preferência por capins aquáticos ou ricos em proteína. Seus incisivos de roedor permitem o consumo de capins baixos e suas adaptações à vida na água proporcionam o acesso aos mais diferentes hábitats. Essa descrição sucinta do hábitat e da ecologia das capivaras parece descrever o interior dos sítios aeroportuários de diferentes regiões do Brasil.

Os grupos sociais das capivaras são de tamanhos e composições variáveis, dependendo do tipo de ambiente. Em áreas pouco alteradas, eles podem chegar a 14 indivíduos em média. No entanto, em áreas antropizadas, os grupos podem conter mais de 40 adultos.

Em meus textos, treinamentos ou palestras, eu costumo associar o sítio aeroportuário a ambientes insulares ou oásis, pois é um ambiente cercado por asfalto e concreto e que tem disponibilidade de grandes áreas de vegetação e áreas alagáveis em períodos chuvosos, bem como ambientes aquáticos perenes, como córregos e valas de drenagem. Esses aspectos demonstram ser um forte atrativo para os animais do entorno. E  com as capivaras não é diferente.

Capivaras recebem atenção especial

Em um incidente recente, três capivaras foram atropeladas por um avião da companhia aérea Azul no aeroporto de Vitória (ES). Esse evento destaca um problema crescente no Brasil: a superpopulação de capivaras e o risco que elas representam para a aviação.

Segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), incidentes com mamíferos representam apenas 5% das colisões com fauna. No entanto, o que deve ser levado em consideração é a massa colidida: mesmo que as taxas de colisões sejam baixas, o potencial de dano é muito maior. O comportamento gregário das capivaras faz com que a atenção seja redobrada e que tenha protocolos direcionados ao seu manejo.

Como diminuir incidentes com capivaras em aeroportos?

O primeiro passo é a identificação do atrativo e dos pontos de entrada desses animais no sítio aeroportuário para que possamos resolver estas falhas de segurança e, só depois, pensar em técnicas de manejo.

Uma vez esgotadas as possibilidades, um importante método de manejo das capivaras é o brete, uma espécie de curral com fornecimento de alimentação, sombra, água e abrigo, de forma que seja mais atrativo que as demais áreas do sitio aeroportuário. O método já é conhecido e utilizado em diferentes partes do Brasil. No entanto, quando há disponibilidade abundante de alimento e corpos d’água, essa metodologia tem baixíssima eficiência.

Nos aeroportos em que atuei, o método que se mostrou eficiente para mamíferos, em especial as capivaras, foi o sistema de varredura do sítio aeroportuário e uma trajetória de “zigue-zague” nas rondas. Uma vez identificada a presença dos animais, eram “tocados” em baixa velocidade para que eles voltassem para área externa do aeródromo pelo mesmo lugar de onde entraram. Essa metodologia nos ajuda a identificar falhas na cerca operacional que não foram observadas nas vistorias.

O que fazer quando o manejo direto é inevitável?

A elaboração de um plano de manejo para o aeroporto é essencial, incluindo a necessidade de captura e translocação das capivaras para uma área pré-determinada pelo órgão ambiental responsável. Mas para que essa permissão seja concedida, será necessário um acúmulo de evidências de que tudo o mais foi tentado e nada funcionou.

Portanto, é indispensável uma catalogação sistematizada, com censos periódicos e mapas de calor indicando as áreas de maior incidência, demonstrando o risco crescente de choque com aeronaves e a possibilidade de um acidente com grande índice de severidade.

O órgão ambiental não tem como prerrogativa barrar o manejo. Ele apenas exige as evidências de que não há outra possibilidade que não seja o manejo e que o aeroporto tem um plano de trabalho bem sistematizado para execução da captura e translocação, respeitando a integridade física e o bem-estar do animal.

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