
Por Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
O Vale do Ribeira, no sul do estado de São Paulo, abriga a porção mais conservada de Mata Atlântica do Brasil. Na região foram criadas várias unidades de conservação de proteção integral, como os parques estaduais Carlos Botelho, Intervales e o Turístico do Alto Ribeira, para proteger tanta riqueza natural.
Por outro lado, o Vale do Ribeira é uma das regiões mais pobres do Estado.
Essa oposição entre riqueza natural e pobreza da população, aliada à descaso do poder público, resulta em uma rotina de ataques à biodiversidade. O Vale do Ribeira é palco de caça intensa.
“A equipe de Polícia Militar Ambiental do Vale do Ribeira realizava a “Operação Tiradentes” pelo município de Eldorado (SP), bairro da Usina, quando recebeu a denúncia de que um suspeito realizava atividade de caça e abate ilegal de animais silvestres na região.
Ao chegarem no local da denúncia, os agentes avistaram da janela da casa uma espingarda. Eles logo entraram em contato com o responsável da residência, que confirmou que a arma era dele, mas não tinha a documentação.
A equipe encontrou durante a busca na casa: uma espingarda cartucheira dois canos, calibre 16, marca Belga; uma espingarda calibre 22, sem marca e numeração; uma espingarda artesanal, tipo “soca soca”; uma espingarda artesanal, tipo “guaruncha soca soca”; quatro armas de fogo artesanais, tipo “canhãozinho”; 67 cartuchos de diversos calibres; dois cinturões de couro bélico “porta cartuchos”; dois pios de madeira “utilizados como chama para animais silvestres”; 23 espoletas; um frasco contendo pólvora (253 gramas); um frasco contendo chumbo (2.868 kg); 3.032 kg de carne de animal silvestre da espécie capivara (Hidrochoerus hydrochaeris) abatido; 358 gramas de carne de animal silvestre da espécie saruê (Didelphis aurita) abatido; 2.400 kg de carne de animal silvestre da espécie pato-do-mato (Cairina moschata) abatido; 3.500 kg de carne animal silvestre da espécie tatu (Dasypus novemcinctus) abatido; seis pássaros silvestres da espécie rolinhas (Columbina talpacti) inteiros abatidos; quatro pássaros silvestres da espécie sanhaço (Thraupis sayaca) inteiros abatidos; três pássaros silvestres da espécie sabiá (Turdus albicollis) inteiros abatidos; três pássaros silvestres da espécie tié-pretos (Tachyphonus coronatus) inteiros abatidos; duas aves da espécie periquitos-rico (Brotogeris tirica) inteiros abatidos; uma ave silvestre saracura-do-mato (Aramides saracura) inteira abatida; uma ave silvestre da espécie pica-pau-de-cabeça-amarela (Celeus flavescens) inteiro abatido; uma ave silvestre da espécie maritaca (Pionus maximiliani) inteiro abatido; um pássaro silvestre da espécie suiriri (Tyrannus melancholicus) inteiro abatido; um crânio de animal silvestre da espécie cateto (caititu); um crânio de animal silvestre anta (Tapirus terrestris).” – trecho da matéria “Polícia Militar Ambiental do Vale do Ribeira prende suspeito acusado de caça ilegal”, publicada ontem, 25 de janeiro, pelo portal Santos Mais (SP)
Chama a atenção a quantidade de armas e de animais abatidos: oito espingardas, munição, quase 9,5 quilos de carne de silvestres, nove aves abatidas e dois crânios de mamíferos. Entre as aves mortas, havia pássaros pequenos, como sabiás, que não têm carne para alimentar uma pessoa.
Fica a pergunta: para que tantas mortes? Não pode ser somente para alimentação…
O caçador detido foi levado para a Delegacia de Eldorado, onde o caso foi registrado como posse ilegal de arma de fogo de uso permitido e por matar animais silvestres. Ele também foi multado em R$ 15.645 pela PM Ambiental.
Além de punições severas, o Brasil carece de educação ambiental para ajudar a combater a caça por entretenimento e de investimentos em atividades econômicas baseadas na conservação em áreas de rica biodiversidade para apresentar alternativas de ganho financeiro para as populações locais.
Os brasileiros ainda não descobriram o potencial econômico passível de exploração financeira que é a natureza conservada.