A Amiga da SAVE Brasil Gersony Jovchelevich leva você para conhecer as ações da cidade do interior de São Paulo que se uniu pela paixão às aves e fez acontecer.
Por Gersony Jovchelevich
observacaodeaves@faunanews.com.br
Em Botucatu, um bairro todo observa aves: a Demétria. Em algumas escolas, as crianças observam e desenham aves. Em outras, os pequenos observadores já sabem reconhecer os visitantes dos comedouros ali instalados. Jovens universitários pesquisam e ensinam sobre o tema. Apaixonados pelo birdwatching fotografam e listam espécies locais – e cada vez mais moradores abraçam essa prática, como o empresário Luiz Peres que tomou tanto gosto pela atividade que adotou uma praça, onde cuida diariamente dos comedouros para atrair aves. Mas afinal, o que há de tão especial em Botucatu?
Geografia única
A cidade de Botucatu está localizada no encontro dos ecossistemas da Mata Atlântica e do Cerrado, por isso exibe uma rica biodiversidade. Em um único dia, é possível observar o batuqueiro (Saltatricula atricollis) e o caboclinho-branco (Sporophila pileata), espécies típicas de Cerrado, bem como o tangará (Chiroxiphia caudata) e o pula-pula-assobiador (Myiothlypis leucoblephara), típicos da Mata Atlântica. Além disso, as famosas cuestas basálticas da região oferecem abrigo a espécies como o urubu-rei (Sarcoramphus papa) e os rios, antes de escoarem para outros maiores, como o Tietê, formam banhados que acolhem grande variedade de aves limícolas migratórias e espécies aquáticas, como o colhereiro (Platalea ajaja) e o tuiuiú (Jabiru mycteria).
O poder da rede
Há tempos, diversos observadores de aves se dedicam a conhecer, registrar e estudar a avifauna de Botucatu e reconhecem a riqueza tão especial da região. É importante mencionar aqui o trabalho de alguns docentes da Universidade Estadual Paulista (Unesp) que fomentam o movimento, como o projeto de extensão Passarinhando, liderado pela professora Silvia Nishida (Instagram/Facebook) e também as diversas ações mobilizadas pelo curso de Engenharia Florestal, que visam formar jovens profissionais capacitados a fim de aprofundar a temática das aves e gerar envolvimento da comunidade local para protegê-las.
Ao mesmo tempo, algumas pessoas, como eu, e outros colegas se empenham em desenvolver materiais, vídeos e realizar atividades de educação ambiental utilizando a observação de aves como eixo condutor, contando inclusive com o importante apoio da SAVE Brasil.
Além disso, diversos fotógrafos registram e listam aves, identificando hotspots para a observação, como Victor Antonelli, Samuel Betkowski, Guilherme Notari e muitos outros. E, para somar ainda mais, foram chegando na cidade pessoas com experiência em articular atividades de aviturismo, como o Daniel Cywinski.
Para que Botucatu se tornasse a “Cidade observadora de aves”, bastava fazer todas essas pessoas e iniciativas se articularem em rede. Dito e feito!
A união da sociedade civil organizada, academia e poder público
O ano de 2021 foi marcante para o município de Botucatu, pois foi quando ela oficialmente se tornou uma “Cidade observadora de aves”.
A alçada de voo se deu quando o setor público foi sensibilizado a apoiar a causa e aglutinou todas essas iniciativas por meio do envolvimento da Secretaria Adjunta de Turismo, liderada por Roberta Sogayar. Todos juntos fundamos o Grupo de Aviturismo de Botucatu.
A máquina pública entrou em ação, muitas ideias floresceram, trabalhos que já estavam em andamento foram potencializados e uma série de novas ações foram e continuam sendo implementadas. Aproveito para citar algumas delas:
– Lançamento do programa de Aviturismo em uma live com setor público, setor privado, fotógrafos e a presença de um novo empreendimento voltado para a observação de aves.
– Formação para guias de turismo sobre observação de aves.
– Criação de seis hotspots e instalação de placas em áreas urbanas e rurais com as espécies que podem ser avistadas.
– Exposição de alto impacto na Pinacoteca Fórum das Artes intitulada Birds na Pina – Aves de Botucatu, que exaltou o trabalho de todo esse grupo atuante na cidade.
– Lançamento oficial do Programa Botucatu Cidade Observadora de Aves com a participação de Guto Carvalho (Avistar): um evento marcante que contou toda essa história e consolidou as ações do grupo.
Venha observar aves conosco!
E agora vem uma notícia deliciosa para você que observa aves: Botucatu preparou uma série de ações e está pronta para receber você por aqui. Se liga:
1 – Em breve, Botucatu divulgará seu calendário anual de passarinhadas para o ano. E isso significa que teremos sim Vem Passarinhar Botucatu pelos próximos meses! #VemPassarinharBotucatu
2 – Além dessa maravilhosa programação, há outro evento em desenvolvimento, tão especial quanto: este ano teremos o 1º Festival de Aves de Botucatu, que acontecerá entre 7 e 9 de outubro. Anote na agenda.
3 – Lorena Patricio, uma jovem ornitóloga botucatuense em formação e Amiga da SAVE, foi nomeada parte dos Jovens Exploradores da National Geographic com seu projeto EcoCientizando e implementará atividades de educação ambiental e observação em Botucatu ao longo do ano.
4 – Sigo produzindo vídeos contando curtas histórias para encantar e introduzir o público no mundo das aves no canal do Youtube Fundo de Quintal Fauna Silvestre.
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E eu nessa história?!
No final de 2021, lancei o Guia de Aves da Demétria 2, fruto de um longo processo de trabalho. O livro foi pensado para dar continuidade à proposta do primeiro, feito em parceria com Lorena Patrício e lançado em 2017. O novo guia conta com 76 novas espécies ilustradas com fotos e acompanhadas por informações que permitem identificá-las na natureza. Fica mais fácil começar a aprender quando se tem um universo menor a ser conhecido. E esse segundo guia segue essa ideia: torna mais acessível o reconhecimento das espécies e auxilia os visitantes, estimulando o turismo local.
E você nessa história?!
A SAVE Brasil, em parceria com essa turma bacana toda, sorteará dez Guias de Aves da Demétria 2 pelo Instagram. Então corre lá para ver como participar e saiba que estamos esperando você aqui em Botucatu para passarinhar com a gente!
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Este artigo foi escrito por Gersony Jovchelevich, com as contribuições de Lorena Patrício e Roberta Sogayar. Gersony e Lorena fazem parte dos Amigos da SAVE Brasil, uma rede de pessoas conectadas e engajadas pela conservação das aves na natureza. Você também pode fazer parte contribuindo anualmente com uma doação. Para isso, basta acessar savebrasil.colabore.org.
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