Bill, a maritaca-verde que não foi embora

Essa maritaca-verde (Pionus maximiliani) chegou na Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP), em janeiro de 2020 com as asas cortadas, um histórico de maus-tratos e com o hábito de comer ração do cachorro no chão. Tinha certa mansidão com humanos: deixava coçar sua cabeça, mas em seguida, já atacava.

Sem interferência cirúrgica, sabíamos que ele ficaria pelo menos um ano conosco até o crescimento total das penas. Durante esse período, após avaliação de saúde, foi para um viveiro pequeno e posteriormente para um médio para aprender a se movimentar em espaços amplos, mesmo que caminhando.

No mês seguinte da sua chegada, recebemos mais uma maritaca-verde, Chiquinha Goiaba, atacada por um cachorro, que, após receber tratamento por alguns meses, foi para o mesmo viveiro do Bill. Ele não manifestou interesse em se aproximar dela, embora tenham ficado meses juntos. A ideia seria soltá-lo na companhia dela, porém ela retornou à vida livre sozinha. Em julho do mesmo ano, outra maritaca-verde chegou e ele também não se interessou. Era como se Bill não se identificasse com a sua espécie e preferisse interagir com humanos.

Passado mais de um ano, já com as asas crescidas, para não deixar Bill sozinho, ele foi transferido para um viveiro grande com os papagaios-moleiros (Amazona farinosa), onde muitas vezes os perseguia de forma agressiva.

Em dezembro de 2022, com a soltura dos papagaios, Bill teve que mudar de viveiro e foi transferido para junto das tiribas-de-testa-vermelha (Pyhrrura frontalis). Ele se adaptou muito bem nesse ambiente, parecenbo mais tranquilo. Em fevereiro de 2023, o grupo de 25 tiribas já estava pronto para ser solto e decidimos soltar o Bill junto com elas.

Quando o janelão da soltura foi aberto, as tiribas foram saindo todas no primeiro dia. Bill saiu depois de três dias e sempre ficou pelo entorno, bem próximo. Ficava perto da cozinha de preparo dos alimentos e se comia nos comedouros externos.

Foi aí que ele teve um comportamento fora do esperado: começou a seguir a nossa funcionária Kilvia quando ela saia do trabalho até a casa dela, que fica a uns 500 metros da ASM Cambaquara. Biull fazia o mesmo quando ela andava no entorno da nossa propriedade e até quando ia alimentar as nossas cachorras. Ele, inclusive começou a atacá-las e isso foi se repetindo. Depois de dois meses, o encrenqueiro teve que voltar para o viveiro com um novo grupo de tiribas.

Com certeza, Bill terá outra chance de voltar à vida livre, tendo a seu favor o apoio da comunidade do entorno, pois desde a soltura dos papagaios, em dezembro de 2022, fizemos campanha com os vizinhos e comunidades próximas para prestarem atenção a algumas aves mais mansas que soltamos. A resposta foi positiva e tivemos mais confiança em soltar aves mais dóceis que poderiam serem capturadas.

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