Avistar 2024: OrnitoMulheres presentes!

O Avistar é o encontro de observação de aves do Brasil, que reúne cientistas, guias e amantes da natureza e acontece anualmente no terceiro fim de semana de maio. Em 2024, entre os dias 17 e 19, o que se observou foi algo muito especial, como relatado pelo seu idealizador, Guto Carvalho:

A presença massiva de jovens e mulheres foi o que nos trouxe mais alegria durante o Avistar, seja nas apresentações, na ciência produzida, nos corredores ou na organização.”

Essa constatação não foi feita apenas por Guto. Em conversas durante e após o evento, a presença de mulheres, jovens e crianças chamou a atenção de muitos participantes. Notadamente, algumas dessas mulheres sempre estiveram lá (seja nos bastidores, na organização, ou como expositoras, sendo feirantes, palestrantes, entre outros) e outras participaram das pioneiras movimentações da observação de aves e na formação de clubes de observadores em vários lugares do Brasil. Muitas são excelentes guias e trabalham nas diversas áreas da Ornitologia e da observação de aves há alguns anos.

Mas nem todas possuíam a merecida visibilidade.

E muitas ainda não possuem, mesmo realizando trabalhos excelentes. Mas desde o ano passado, a presença dessas mulheres foi potencializada pela visibilidade gerada através da Rede OrnitoMulheres (@ornitomulheres), história já contada aqui no Fauna News.

A participação da OrnitoMulheres na Ornitologia e na observação de aves trouxe visibilidade, representatividade, apoio e valorização ao protagonismo feminino nessas áreas e a consequência dessa movimentação se refletiu no Avistar 2024. “A Rede OrnitoMulheres é protagonista de uma grande mudança na cena ornitológica brasileira e o Avistar é feliz por ser parceira nisso”, reforçou Guto Carvalho. Neste ano, houve uma participação expressiva de mulheres nas diversas modalidades oferecidas pelo evento. Um exemplo disso foi a presença de mulheres como autoras de 50% dos trabalhos apresentados.

“Sim, elas estavam em todos os lugares!”, disse a professora, pesquisadora e uma das fundadoras da rede, Shirliane Araújo. Essa foi a visão de quem estava presencialmente o Avistar ou acompanhando de forma virtual nas diversas redes de cobertura do evento.

Analisando alguns relatos coletados de mulheres participantes com diferentes experiências no encontro – veteranas, iniciantes na feira, organizadoras e membras da Rede – que evidenciam as experiências trocadas nessa oportunidade, as palavras que mais se repetiam e chamaram atenção foram: “acolhimento”, “representação”, “oportunidade” e “conexões”. A Rede OrnitoMulheres literalmente inspirou e apoiou a participação de mulheres de todos os cantos do país e essa afirmação está nos relatos de participantes dos três dias do evento.

“O Avistar 2024 foi incrível! Participei pela primeira vez e fiquei completamente fascinada com tudo. O acolhimento da Rede OrnitoMulheres, ter a oportunidade de conversar com pessoas que admiramos, aprender sobre diversos temas e ser apresentada a novos destinos para a observação de aves… O único problema é que a partir de agora, não quero perder mais nenhuma edição!” – Nathalia Diniz , de Juazeiro (BA)

“Sabe aquela expressão ‘a primeira impressão é a que fica’? A impressão que eu tive foi de um evento acolhedor! (…) Apesar de ser bióloga e monitorar aves urbanas há algum tempo, não conhecia o rico mundo da observação de aves até ser incluída e acolhida pela Rede OrnitoMulheres. Foi incrível a oportunidade de conhecer novas perspectivas para a conservação, divulgar meu trabalho e conhecer pessoas que são referência no turismo de observação, na conservação e na divulgação científica. Fiquei encantada com a diversidade de trabalhos apresentados e as oportunidades sustentáveis que o Avistar nos proporcionou. O Avistar já tem um espaço na minha programação anual.” – Leciane da Mata, de Itapaci (GO)

“O Avistar é uma grande celebração da natureza. Para mim, reencontrar amigos, conhecer pessoas que admiro, aprender, trocar experiências, tudo isso é maravilhoso. Mas ver a quantidade de crianças aumentando a cada ano e os olhos brilhando de quem vem pela primeira vez, e sente que é parte de tudo isso, são as melhores memórias do que representa a observação de aves no Brasil, através do Avistar!” – Daniela Maia, da organização do evento, de São Paulo (SP)

Um Avistar para todos!

Diversos temas importantes foram discutidos nesta edição do Avistar, que celebrou os 50 anos da observação de aves no Brasil.
Entre tantas temáticas, destaco aqui a relação entre a maternidade e a Ornitologia, contemplada em duas rodas de conversas pioneiras no evento: “Cuidado Parental em humanos: desafios e conquistas na maternidade”, mediada pela ornitóloga Karlla Barbosa (que escreve na coluna Observação de Aves, aqui do Fauna News) e “Mothers in Birding”, mediada por Ana Julia Cano, ambas integrantes da Rede OrnitoMulheres.

A maternidade está entre a lista de desafios que “afunilam” e muitas vezes impedem a continuidade da participação de mulheres em suas carreiras profissionais e acadêmicas na Ornitologia. O tema foi discutido com muitas reflexões necessárias, empoderamento e apoio de pesquisadoras referência.

“Essa foi a primeira vez que pudemos discutir e refletir sobre o assunto, abrangendo mulheres que têm filhos pequenos e sentem essa pressão, tais como Luana Bianquini, Olivia Suzuki, Luiza Figueira e eu, e as experientes, como Neiva Guedes e Simone Tenório, que já ultrapassaram esses desafios quando a pressão sobre a mulher era ainda maior.  Sentimos o quanto foi importante essas mesas, pois a conversa continuou no pós mesa redonda, com relatos de mulheres que tinham dificuldades para trabalhar, de outras que perderam bebês, relato sobre engravidar e trabalhar sendo mais velha e até reflexões sobre incluir esse tipo de discussão em próximos eventos” – Karlla Barbosa, de Itajubá (MG)

Outra importante conquista das conexões proporcionadas pelo Avistar e da existência da Rede OrnitoMulheres foi o convite recebido (e aceito) por Vitória Ribeiro, bióloga, mestra em Zoologia e integrante da diretoria da rede, para tornar-se moderadora do WikiAves, uma importante plataforma de ciência cidadã do Brasil, que, apesar de ter grande relevância no mundo ornitológico, é a primeira vez que uma mulher compõe sua equipe.

“Participar do Avistar pela primeira vez foi mais do que realizar um sonho, foi uma jornada emocionante de descoberta e conexão. Conectar-me com pessoas que compartilham minha paixão pelas aves, especialmente com as incríveis integrantes da Rede OrnitoMulheres, foi verdadeiramente inspirador; foi como encontrar parte da minha família. Cada abraço, sorriso e histórias compartilhadas foram elos que fortaleceram os laços entre nós em torno de uma paixão em comum. As oportunidades que surgiram durante o evento abriram portas para novas aventuras e descobertas em direção a novos horizontes. Foi uma experiência que aqueceu meu coração e reafirmou minha admiração pela natureza e pela comunidade que a celebra.” – Vitória Ribeiro, de Juazeiro (BA)

Não poderíamos deixar de falar da criação do Avistar Acolhe, espaço construído para orientar e promover as diversas interações entre participantes do evento de maneira segura e respeitando as diversidades, combatendo abusos e agressões.

Apesar de todos esses relatos, que enchem o nosso coração de esperança e representam os primeiros passos para uma Ornitologia mais inclusiva e socialmente justa, sabemos que ainda há muito a ser melhorado. É possível notar a minoritária presença de pessoas pretas, por exemplo, mesmos os pretos e pardos sendo a maioria na população brasileira. Também existe uma pequena presença de indígenas, pessoas com deficiência e das várias letras da sigla LGBTQIAPN+.

Esse perfil reflete o que acontece no Brasil, de maneira geral, em espaços mais intelectualizados. Por isso, é preciso reconhecer que, mesmo com o nosso esforço em trazer mais diversidade à Ciência, à  Ornitologia e à observação de aves no Brasil, estamos distantes de atingir níveis justos de equidade. E é por isso que não podemos parar!

A mensagem que deixamos é a de que o mundo precisa de diversidade, pois somos melhores quando estamos juntos, compartilhando nossas experiências e usando as ideias surgidas de diferentes vivências para construir uma sociedade mais justa e sustentável. Passarinhar é conectar pessoas aos passarinhos de forma plural. Bora passarinhar e participar da mudança que as aves podem fazer!

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