Avaliação de saúde das tartarugas-verdes no litoral do Paraná

Caro leitor, você já se perguntou como é o trabalho dos pesquisadores de tartarugas-marinhas? Hoje é o seu dia de sorte! Você está convidado a navegar pela imaginação até o Parque Estadual da Ilha das Cobras, bem no centro do Complexo Estuarino de Paranaguá, no litoral do Paraná. Essa pequena ilha abriga uma das maiores agregações de juvenis de tartaruga-verde (Chelonia mydas) estudadas no Brasil. É para lá que, desde 2014, a equipe do Programa Rebimar da Associação MarBrasil se desloca, ao menos três vezes por ano, para monitorar as tartarugas-marinhas, coletando informações sobre os parâmetros populacionais e de saúde desses animais.

Esse trabalho, patrocinado pelo Governo Federal por meio do programa Petrobras Socioambiental, exige uma equipe multidisciplinar e as ações são realizadas em parceria com o Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), reunindo veterinários, oceanógrafos, biólogos, comunicadores e diversos outros profissionais.

O trabalho começa muito antes de os pesquisadores embarcarem em direção à ilha, pois cada ação de monitoramento exige muita preparação e planejamento. Em resumo, a metodologia consiste em campanhas de captura intencional, avaliação de saúde, marcação e soltura das tartarugas-marinhas. Embora capturar uma tartaruga no mar não seja uma atividade simples, é uma das melhores formas de obter informações sobre esses animais em seu hábitat natural.

Como o trabalho é feito

Como primeira etapa, os pesquisadores garantem as licenças ambientais para o trabalho, que incluem autorizações federais do ICMBio e do Centro Tamar/ICMBio, além do Instituto Água e Terra do estado do Paraná, já que o trabalho ocorre no entorno de unidades de conservação. Em seguida, a equipe escolhe datas com boas condições meteorológicas para realizar o trabalho com segurança. Com o período de amostragem definido, os materiais e equipamentos necessários são preparados e conferidos, para que todas as informações sejam coletadas da melhor maneira possível.

Entre os equipamentos, está a rede de emalhe, confeccionada por um pescador de Pontal do Paraná e com características específicas para a captura eficiente e o bem-estar das tartarugas, facilitando o desemalhe dos animais capturadas. Com tudo pronto — equipe, materiais e equipamentos a bordo —, a partida rumo ao Parque Estadual da Ilha das Cobras é dada.

Aguardando a aproximação das tartarugas

A bordo da embarcação, ao se aproximarem da ilha, os pesquisadores ficam atentos, com os olhos fixos na água próxima às rochas, aguardando a primeira tartaruga-marinha vir à superfície para respirar. Em geral, a espécie de tartaruga-marinha que ocorre na região é a tartaruga-verde e 99% dos animais são juvenis. Após avistarem algumas tartarugas-verdes, a equipe escolhe o ponto de início da atividade.

Quatro pesquisadores treinados e com boa experiência em manejo de tartarugas entram na água levando a rede, enquanto a equipe embarcada se prepara para receber as tartarugas que forem capturadas, já que todo o trabalho no barco precisa ser ágil. A rede é esticada perpendicularmente às rochas, com dois pesquisadores de cada lado, que se deslocam pelo entorno da ilha executando um arrasto manual, tudo com muita atenção e cuidado. As tartarugas-verdes juvenis podem se emalhar ao longo do deslocamento ou serem capturadas por meio de cercos estratégicos. Quando isso acontece, a resposta de manejo dos pesquisadores precisa ser rápida e adequada para evitar que elas se afoguem, pois, como têm pulmões, precisam subir à superfície para respirar.

Quando um membro da equipe avista uma tartaruga respirando, ele imediatamente sinaliza a posição para os demais. Com movimentos cautelosos, a equipe fecha um cerco, deixando o ponto indicado no centro e as duas extremidades da rede o mais próximo possível das rochas, para evitar que as tartarugas marinhas, espertas e ágeis, escapem. Após alguns segundos de expectativa, um dos membros da equipe na água sente um puxão na rede e vê as boias afundando. Um pesquisador nada até lá o mais rápido possível e retira a tartaruga da água. “Captura!”, anuncia a equipe, iniciando o desemalhe. Uma vez livre das malhas da rede, a tartaruga é levada ao barco de apoio, onde passará por um check up.

Procedimentos na embarcação

A equipe do barco recebe a tartaruga e o médico veterinário imediatamente inicia a avaliação, começando com uma análise externa geral, principalmente em busca de lesões ou tumores na pele do animal. Mais de 40% das tartarugas-verdes juvenis da região apresentam tumores, indicativos de fibropapilomatose. Essa doença, causada por um vírus presente na água, está associada à qualidade ambiental: quanto mais degradada a região, maior a probabilidade de tartarugas com fibropapilomatose.

Além de registrar a presença e a gravidade dos tumores (quando estão presentes), a equipe mensura o tamanho e a massa corporal de todas as tartarugas capturadas. Diversas amostras biológicas são coletadas para a realização de outros exames e análises, visando conhecer melhor os animais e seu ambiente. Por fim, cada tartaruga-marinha recebe uma anilha metálica com um número que é registrado em uma base nacional, associado a todas as informações do indivíduo. Esse registro permite que o animal seja reconhecido caso recapturado em campanhas futuras no Paraná ou em pesquisas realizadas em qualquer lugar do mundo. Com todas as informações registradas, é hora de fazer a soltura e devolvê-lo ao local onde foi capturado.

Após cerca de cinco dias em campo, horas de atividades e muitas capturas e solturas, a liberação da última tartaruga capturada na campanha é acompanhada de emoção por toda a equipe. Ao final das campanhas, há a certeza de que foram coletadas informações valiosas sobre a ecologia da espécie e sua saúde, além de dados sobre a qualidade do ecossistema. Nessa etapa final, um membro sortudo da equipe tem o papel de gentilmente devolver o juvenil de tartaruga-verde ao oceano.

Cansados e com a sensação de missão cumprida, os pesquisadores se despedem das águas estuarinas e do Parque Estadual da Ilha das Cobras. “Até a próxima!”.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).