Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
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Os centros de triagem e reabilitação de animais silvestres (Cetras) recebem animais de tráfico, resgate e entregas voluntárias. Esses animais chegam por diversos motivos dos quais podemos estabelecer padrões de entradas por grupos ou por motivos. Dentre esses motivos e grupos, temos a recepção por resgate de filhotes.
Os filhotes que chegam aos Cetras têm várias origens. São animais apreendidos do tráfico nos seus respectivos períodos de reprodução e, nesse caso, a demanda já é bem conhecida, porém o montante é variado conforme os níveis de ações de fiscalização. Há também as apreensões ao acaso e, nesses casos, sabemos que o montante real de filhotes traficados é imensamente fora da capacidade de qualquer centro atender todos os animais caso fossem apreendidos.
Outro tipo de filhote que chega aos Cetras são os órfãos, seja por abandono ou por incidentes de causa urbana, como morte da mãe, perdido da mãe, queda do ninho, da toca ou das costas da mãe… Um fato que tem sido bastante discutido é a necessidade de intervenção, das pessoas ou de órgãos públicos, nos casos em que os animais são resgatados no período de adaptação a estar fora do ninho ou da toca (desmame dos pais).
O resgate de animais em processo de desmame faz com que muitos percam uma grande chance de se adaptarem ao meio da forma que realmente precisam, já que eles aprendem com os pais onde se alimentar, a fugir de predadores, a predar suas presas, os locais de dormitório e o reconhecimento dos locais. Por serem criados fora de seu ambiente natural, há mais chances de os cuidados com os filhotes não ser exitoso por causa de fatores nutricionais, de necessidades especificas para cada espécie, imprinting comportamental com ser humano, locais de soltura por demanda de territorialidade da espécie e processos de complexidade por fator de estrutura social da espécie, como é o caso dos primatas.
O resgate de filhotes tem aumentado. Só no Cetas Tangara, da Agência de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), nos últimos cinco anos essa categoria de recepção aumentou cerca de 50% e não sabemos se isso se deve ao manejo inadequado dos animais, que na verdade não estariam precisando dessa “ajuda” de pessoas – a população está mais sensibilizada para com os problemas ambientais ao seu redor – ou se temos mesmo uma demanda maior de animais sob situação de risco por motivos de problemas da urbanização. Pode ser que essas espécies ainda não conseguiram se adaptar ao meio alterado.
Por fim, temos a chance de orientar e manipular o futuro dessas espécies que estão enfrentando o processo de urbanização e aumento do convívio com seres humanos. Podemos direcionar meios para que esse processo de adaptação não cause tantas perdas na diversidade de espécies como foi o caso de outros locais onde parte dos animais já conseguiu se adaptar às mudanças.
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