
Veterinária, mestra em Epidemiologia, doutora em Patologia e com pós-doutorado pela San Diego Zoo Institute for Conservation Research (EUA). É professora de Medicina de Animais Selvagens da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisadora colaboradora do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservação – Tríade
saude@faunanews.com.br
Hoje, em homenagem ao Dia das Mulheres, vamos falar sobre a diferença que nós podemos fazer na conservação da biodiversidade do nosso planeta. Todos os dias, mulheres fazem pequenas ou grandes ações que ajudam a conservar a biodiversidade da Terra. Pesquisas mostram que projetos de conservação atingem melhores resultados quando há mulheres envolvidas.

Há mulheres pesquisadoras que trabalham na produção e difusão do conhecimento para a conservação da biodiversidade. Elas atuam na fronteira do conhecimento, em diversos tipos de ambientes, muitas vezes extremos ou em situações difíceis. São mulheres que descem de rapel em rochedos, sobem em árvores, mergulham nos rios e mares, entram em cavernas, enfrentam as baixas temperaturas de continentes como a Antártica, capturam e anestesiam diversos animais como onças, antas, tamanduás e macacos ou mesmo trabalham em laboratórios de última geração. Essas mulheres dedicam parte de suas vidas para seus objetos de estudo e produzem conhecimento importantes para a conservação da biodiversidade e para influenciar políticas públicas de conservação.
Temos tantos exemplos de pesquisadoras de excelência que não dá para citar aqui para corrermos o risco de deixar alguém de fora. Apesar do número de mulheres pesquisadoras estar aumentando, menos de 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres, há um número ainda menor delas que estão publicando e, no geral, recebem salários mais baixos.
Mas não é somente na área de pesquisa. Há também mulheres que trabalham na fiscalização contra crimes ambientas. Na África do Sul, a Black Mamba Anti-Poaching Unit é uma unidade composta majoritariamente por mulheres que atua contra a caça ilegal. As Black Mambas protegem um parque de 52 mil hectares, a Reserva Natural Balule. O grupo trabalha na conservação dos rinocerontes, servindo como grandes exemplos para as comunidades locais. O trabalho dessa unidade reduziu, entre 2013 e 2016, em 75% a incidencia de caça na região. No Brasil não há nenhum grupo com tais características, mas há sim mulheres que trabalham na fiscalização contra os crimes ambientais. Mulheres dedicadas, fortes e decididas que não medem esforços para protegerem o meio ambiente.

Há ainda uma grande quantidade de mulheres que trabalha diretamente no manejo dos recursos naturais. Segundo dados da ONU Mulheres, de 45% a 80% do trabalho agrícola nos países em desenvolvimento é realizado por mulheres. Elas são as maiores responsáveis pelo desempenho do trabalho rural e extrativista. Nas diversas comunidades tradicionais do Brasil, atividades como colheita de frutos, extração de sementes, produção de óleos e artesanatos são efetuadas por mulheres. Elas trabalham anonimamente, em meio a condições difíceis, todos os dias em suas comunidades, usando seus conhecimentos tradicionais para extração dos recursos de forma sustentável. Além do trabalho desenvolvido por elas ser essencial para o sustento da família, também possui uma grande relevância na conservação da biodiversidade e para manter a população abastecida com produtos farmacêuticos e cosméticos.
E há aquelas que trabalham na educação, a maior ferramenta para se mudar o mundo, pois a conservação envolve muito mais do que a proteção da vida selvagens e dos sistemas naturais. Ela também envolve a educação das pessoas para demonstrar a importância da biodiversidade e de um estilo de vida sustentável para que as futuras gerações possam florescer. Essa educação pode ser formal ou a que as crianças recebem em suas casas.
Apesar de todas essas ações, as mulheres ainda enfrentam diversos desafios como a maternidade, as relações familiares, falta de divisão equitativa das tarefas do lar, assédio, desigualdades sociais, de salários, de oportunidades e são ainda e geralmente excluídas das decisões comunitárias e das políticas de uso da terra. Em muitos países, as mulheres não têm acesso a educação e planejamento familiar e sofrem de violência doméstica e feminicídio.
As mulheres precisam ser respeitadas e igualmente envolvidas nos processos de conservação e sustentabilidade da biodiversidade. Precisamos de um mundo mais justo, empático e sensível. O lugar da mulher é onde ela quiser!
– Leia outros artigos da coluna SAÚDE, BICHO E GENTE
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)