Por Karlla Barbosa
Bióloga, observadora de aves, mestra em Conservação Ambiental e Sustentabilidade e doutora em Zoologia
observaçãodeaves@faunanews.com.br
O conhecimento é algo construído em conjunto e, ao longo do tempo, ele pode ser aprimorado ou até inovado. Ou seja, a cada nova descoberta temos uma peça de um quebra-cabeça que nos ajuda a entender melhor a vida e as interações na natureza.
Nesse rumo ao conhecimento, surgem os cidadãos cientistas, pessoas que amam observar a natureza e que contribuem para enriquecer o nosso saber. Todos podemos ser cidadãos cientistas, pois o importante é observar e compartilhar imagens, sons e informações que observamos. E foi para incentivar a observação da polinização de plantas que um grupo de pesquisadores e amantes da observação da natureza lançaram o livro Ciência Cidadã e Polinizadores da América do Sul.
Um dos processos mais interessantes e importantes para a vida das plantas na Terra é a polinização das flores. E esse processo não é só importante para as plantas, mas também para aqueles seres vivos que dependem dele, como os insetos, as aves e até nós mesmos. A polinização é essencial para a produção de frutos e alguns dos que consumimos, como maracujás, maçãs, acerolas, castanhas-do-brasil, entre outros, só são formados se houver polinização. Estima-se que em regiões tropicais mais de 90% dos alimentos consumidos necessitam essencialmente da polinização.
Bom, agora que já abordei um pouquinho da importância desse processo, quero tratar do valor dos seres que fazem esse serviço gratuitamente para nós: os polinizadores. Os polinizadores mais famosos são as abelhas, que são responsáveis por mais de 70% desse processo. Mas existem vários outros, como borboletas, besouros, morcegos e aves. No livro, eu participo do capítulo das aves, tratando desse grupo que tanto encanta os observadores da natureza.
Quando menciono as aves como polinizadores, imagino que já venha na sua cabeça os beija-flores e, é claro, eles são realmente muito especializados nisso. Ao longo da evolução das espécies de animais e plantas, muitos beija-flores ficaram especialistas em determinadas espécies de plantas, sendo que existem plantas que só são polinizadas por uma determinada espécie de beija-flor. A família dos beija-flores (Trochilidae) é abundante na América do Sul, com altos níveis de especialização. Só no Brasil, segundo a última lista de espécies de aves do país (Pacheco et al 2021), das 1.971 espécies, 89 são beija-flores.
No entanto, além dos beija-flores outras espécies de aves podem polinizar as plantas. Algumas podem inclusive não ter essa intenção, mas, ao entrar na planta para comer um inseto, acabam tocando nos estames do vegetal e contribuindo para esse processo. Podemos pensar em várias espécies de aves que são pouco conhecidas, sendo até duvidosa essa participação na polinização, como cambacicas, saíras, saís e mesmo os icterídeos, como o guaxe. No entanto, as observações e os estudos têm mostrado cada vez mais a participação desses animais no processo de polinização de espécies de plantas que, muitas vezes, podem ter papel chave em áreas de floresta.
No livro, contamos um pouco mais sobre a polinização e como identificar as espécies polinizadoras. Então, se você quer saber mais sobre como contribuir como cidadão cientista e entender mais sobra a polinização, acesse o livro Ciência Cidadã e Polinizadores da América do Sul na versão em português. É grátis.
E não se esqueça que você, como observador de aves, pode contribuir para completarmos o quebra-cabeça da polinização. Então observe, fotografe, informe e compartilhe em plataformas de ciência cidadã.
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