
Por Adriana Prestes
Bióloga, responsável técnica por áreas de soltura e monitoramento de fauna silvestre na Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba (SP) e secretária executiva do Grupo de Estudo de Fauna Silvestre do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira
segundachance@faunanews.com.br
Várias atividades profissionais estão fortemente associadas a códigos de ética. Médicos com o juramento de Hipócrates, médicos veterinários e advogados, por exemplo, que têm seus conselhos de classe definindo limites bem claros e estreitos para a atuação profissional dessas categorias.
A publicação da National Wildlife Rehabilitators Association “Minimum Standards for Wildlife Rehabilitation” , com a primeira edição em 1989, traz na sua página de abertura, 11 itens listados sob o título de Código de Ética para o Reabilitador de Vida Silvestre.
A seguir destacamos alguns deles:
– Um reabilitador deve buscar alcançar os mais altos padrões de cuidado através do conhecimento e da compreensão do seu campo de atuação. Esforços contínuos devem ser empregados para que se mantenham atualizados no que tange a busca de informações, métodos e conhecimentos sobre o marco regulatório.
– Um reabilitador de vida silvestre deve ser responsável, consciencioso e dedicado, deve continuamente trabalhar para a melhorar a qualidade do atendimento dado aos animais silvestres em reabilitação.
– Um reabilitador deve respeitar outros reabilitadores e pessoas com atuação em campos correlatos, dividindo experiências e conhecimentos com um espírito de cooperação visando o bem-estar dos animais.
– Um reabilitador deve colocar a excelência do cuidado animal acima do ganho pessoal.
– Um reabilitador de vida silvestre deve encorajar o suporte e o envolvimento da comunidade através do voluntariado e da educação pública. O objetivo comum deve ser promover uma “pré-ocupação” responsável pelos seres vivos e com o bem-estar do ambiente.
– Um reabilitador de vida silvestre deve conduzir todas as transações e atividades de forma profissional com honestidade, integridade, compaixão e comprometimento, consciente de que a conduta individual se reflete em todo o campo da reabilitação de animais silvestres.
Uma área de soltura tem que ter como princípio atuar de forma ética.
Os itens destacados tocam em alguns dos pontos cruciais no dia a dia de uma área de soltura, como, por exemplo, colocar a excelência do cuidado com o animal acima do ganho pessoal.
Preparar animais silvestres para a soltura, seja ela branda ou não, envolve este tipo de desprendimento. A vida dos animais, seja qual for a espécie, e o seu bem-estar estão acima de um eventual ganho de recursos, likes em redes sociais ou outras vantagens que possam ser obtidas com a divulgação de imagens e de ações relacionadas à eventos de soltura.
Soltura não é apenas um negócio ou apenas um empreendimento técnico, é muito mais do que isso. É um compromisso com a vida.
É interessante notar que ao mesmo tempo em que o código de ética do reabilitador demanda o profissionalismo e a excelência de quem se dedica a essa atividade, especifica a necessidade de comprometimento e de compaixão. Ações de soltura dependem, principalmente, de nossa capacidade de sentir para que possamos nos engajar de fato na constante busca por excelência técnica e científica.
Nossa fauna silvestre, brutalmente atacada por todos os lados, precisa do nosso comprometimento e da nossa compaixão. A situação atual demanda urgência.
Áreas de soltura são o local de excelência para esse exercício.
Se interessou? Venha conhecer os projetos de áreas de soltura. É possível atuar como voluntário ou, quem sabe até, criar uma nova área de soltura em sua cidade.
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