Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica veterinária, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
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Os primatas não humanos são considerados reservatórios de diversas doenças, dentro das quais estão incluídas as infecções virais. Portanto, cabe ressaltar o potencial de risco que apresentam tanto para o homem como para símios de outras colônias, principalmente quando essas colônias sofrem renovações constantes ou deslocamentos freqüentes. Infecção de hospedeiros imunocompetentes (com defesa imunológica íntegra) geralmente encontra-se associada com pequenas enfermidades, mas a infecção de hospedeiros suscetíveis provoca conseqüências devastadoras. Os ambientes que aproximam muito diferentes espécies de primatas aumentam os riscos das transmissões virais interespecíficas (entre espécies), que podem acabar em quadros extremamente graves.
As arboviroses são doenças causadas por arbovírus, um grupo de vírus ecologicamente bem definido, cuja característica epidemiológica principal é a transmissão biológica entre hospedeiros vertebrados, mediada por artrópodes hematófagos (como alguns mosquitos). Os arbovírus têm sido melhor classificados com base em suas propriedades físico-químicas. Assim sendo, esses vírus são distribuídos principalmente entre as famílias Peribunyaviridae, Flaviviridae, Reoviridae, Rhabdoviridae, Phenuiviridae e Togaviridae. Destacam-se pelo número de componentes de importância em saúde pública os gêneros Alphavirus, Orthobunyavirus e Flavivirus.
No Brasil, alguns vírus têm aparecido regularmente em áreas urbanas (como o vírus Dengue – DENV – e o vírus Oropouche – OROV) ou rurais (como o vírus Mayaro – MAYV – e o vírus da febre amarela – YFV). Epidemias mais recentes também têm ocorrido com a entrada de dois vírus exóticos: o vírus Chikungunya (CHIKV), no ano de 2014, e o vírus Zika, em 2015; além da atual epidemia de febre amarela. A natureza da doença produzida no homem varia conforme o tipo de arbovírus responsável pela infecção, podendo apresentar desde doença febril indiferenciada, moderada ou grave, erupções cutâneas e artralgia (dor nas articulações), até síndromes neurológicas e síndromes hemorrágicas.
De acordo com o Ministério da Saúde, o termo epizootia é usado para configurar a morte ou o adoecimento de um animal ou um grupo de animais com possibilidade de apresentar risco à saúde pública, sendo que uma das situações de epizootia de notificação obrigatória ao Sistema Único de Saúde é o adoecimento de primatas não humanos. A investigação das epizootias nos primatas não humanos deve priorizar a febre amarela na pesquisa laboratorial, devendo ser realizada, também, pesquisa de raiva.
A febre amarela vem ocorrendo em praticamente todos os tipos de biomas existentes no Brasil, em ecossistemas com vegetação primária, secundária, agroecossistemas e demais áreas antropizadas. Áreas com maior grau de antropização, onde ocorrem alterações ambientais, mas são mantidas áreas naturais residuais, vêm se destacando na ocorrência de epizootias da enfermidade.
A compreensão do impacto das doenças zoonóticas nas populações de primatas selvagens é importante para avaliar os riscos de extinção local e para avaliar possíveis fatores atenuantes. Não se deve matar os macacos, pois eles também são vítimas de muitas dessas doenças e servem como alertas para a existência das enfermidades.
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