Aracnídeos podem ser aliados na promoção da saúde humana

Aracnídeos são artrópodes que apresentam quatro pares de pernas, um par de quelíceras e um par de pedipalpos. No caso da ordem Araneae (aranhas), os machos possuem o pedipalpo modificado, funcionando como órgão copulador e responsável pela transferência de material genético.

Diante da vasta diversidade de espécies descritas para aranhas (52 mil), menos de 1,5% são as consideradas de importância médica. No Brasil, os acidentes são causados principalmente por três gêneros: Phoneutria Perty, 1833 (armadeira), Loxosceles Keyserling, 1880 (aranha-marrom) e Latrodectus Walckenaer, 1805 (viúva-negra).

Em termos de saúde humana, esses animais não têm destaque somente por conta de acidentes relacionados às picadas e à inoculação de veneno. Muitas espécies de aranhas atuam em prol da saúde humana. Agora você deve estar se perguntando como isso é possível, certo? Vamos às respostas.

Alguns aracnídeos podem e vivem em sinantropia conosco. Isso quer dizer que eles estão adaptados a viverem em meio urbano junto com a presença de nós, seres humanos. E eles não são malvados assim como muita gente pensa. Até mesmo porque. “bom” ou “mau” é uma concepção da moral humana e que não deveria ser aplicada a outros animais, não é verdade?

Aracnídeos e vetores de doenças

Esses organismos atuam diretamente como controladores biológicos. Isso significa que eles existem também como predadores vorazes de insetos que podem ser vetores de doenças para humanos. Como exemplo, podemos destacar algumas aranhas da família das papa-moscas (Salticidae) – imagem no alto do artigo -, que também têm como parte de sua dieta moscas e mosquitos.

No entanto, não significa que todo díptera (moscas e mosquitos) são “ruins”, apesar de nos irritarem algumas vezes. Eles também podem ser polinizadores de flores (em tempos de Páscoa e chocolate, consideramos válido ressaltar que a flor do cacaueiro é quase que exclusivamente polinizada por mosquitos da família Cetaropogonidae) e muitos participam como alimento principal para outros organismos.

Vale a ressalva que dessas aranhas que estão em nossas casas, algumas não oferecem qualquer risco a nós. É o caso das aranhas-perna-fina (Pholcidae, também conhecidas como aranha treme-treme e aranha-canto-de-parede). Ou até mesmo umas aranhas pequenas de coloração amarronzada, muito confundidas com as de importância médica, mas que são de outra família, a Theridiidae: Latrodectus geometricus C. L. Koch, 1841 e/ou Nesticodes rufipes (Lucas, 1846).

Já para a agricultura, muitas aranhas podem adotar hábitos de predação específico, podendo se alimentar principalmente daqueles insetos que são considerados pragas agrícolas.

Aracnídeos são animais erroneamente compreendidos pela maior parte da população, seja pela aracnofobia ou pelo não conhecimento sobre a biologia deles. Informação de extremo sensacionalismo vem sendo propagadas sobre esses animais. Principalmente por páginas que deveriam ser sérias e trazer informações coerentes, a fim de conscientizar a população sobre insetos vetores de doenças, como o mosquito da dengue, o famoso Aedes aegypti Linnaeus, 1762 – que pode ser predado por várias aranhas, como as papa-moscas!

No caso desse mosquito, é de amplo conhecimento que devemos combater primariamente focos onde ele pode se reproduzir, como água parada e acúmulo de lixo (um problema grave em muitas cidades brasileiras que sofrem com a falta de saneamento básico). Um fato curioso é que somente as fêmeas são veículos de transmissão de vírus.

Procure informação de qualidade

Alguns veículos midiáticos e/ou instituições que a priori deveriam ter a responsabilidade de trazer uma informação correta para a população (vide páginas de prefeituras), quando veiculam informações sem a devida consulta com especialistas atrapalha e muito o conhecimento do público geral sobre o que de fato está acontecendo.

Esse fato ainda pode ser agravado quando esses veículos propagam fake news. Ressaltamos aqui que, em caso de acidentes com aracnídeos ou sintomas de qualquer doença propagada por insetos, principalmente dengue, procure imediatamente auxílio médico! Tenha senso crítico do material que você está consumindo e/ou propagando na internet e procure sempre páginas guiadas por especialistas!

Diante do dinamismo de propagação de ideias e informações no mundo atual, se faz necessário que nós saibamos cada vez mais quem são os animais que vivem em contato conosco, quais são os de verdadeira importância médica e como prevenir acidentes. Afinal, estamos todos em casa, no planeta Terra, inseridos na natureza e coabitando este espaço com todas as espécies aqui existentes. Essa é a visão anti-antropocêntrica, em que reconhece que o ser humano não é o centro das relações naturais, mas sim uma parte integrante da mesma. Estamos em meio ao biocentrismo. Desenvolver essa discussão é importante diante do evidente desgaste do relacionamento da espécie humana com o mundo natural.

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es).

Referências

• Portal do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
• Centro de Informação Toxicológica do governo do RS
• Instituto Biológico do estado de São Paulo
• A superação do antropocentrismo: uma necessária reconfiguração da interface homem-natureza
• The Guardian
• Mosquito Alert
• Embrapa
• World Spider Catalog (2024). World Spider Catalog. Version 25.0. Natural History Museum Bern