Por Andréia Nasser Figueiredo¹, Daniel Campesan² e Larissa Ferreira³
¹Bióloga, mestra em Ecologia e Recursos Naturais e doutora em Ciências, ambos na área de Educação Ambiental. É cofundadora e educadora ambiental na Fubá Educação Ambiental e atua no grupo Escola da Floresta – Sítio São João e no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas)
²Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental
³Gestora e analista ambiental graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Educadora da Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
educacaoambiental@faunanews.com.br
A educação ambiental para a conservação da fauna silvestre pode estar presente em diferentes contextos e espaços. Seja nos espaços educadores não escolares, como zoológicos, aquários e museus, ou no próprio ambiente escolar. Conhecer e valorizar a fauna silvestre possibilita a aproximação e o interesse das pessoas em ações de conservação.
O trabalho educativo pode (e deve) ir além do apresentar a fauna aos estudantes. Ele deve trabalhar a conexão e as relações entre seres humanos e a natureza e o foco pode ser a fauna silvestre. Reforçamos que é essencial ir além do conhecer os animais nativos; é necessário reconectar as pessoas com os outros seres, fazendo-as se reconhecerem e se sentirem pertencentes ao contexto e à biodiversidade local. Basicamente reforçar o entender que estamos conectados e que, sim, a fauna silvestre junto a nós faz parte do todo ecossistema que nos mantém vivos.
Mas como trabalhar tudo isso?
Partir da perspectiva do trabalho no espaço escolar nos ajuda em alguns pontos. Primeiro porque já temos um lugar e um grupo de pessoas organizadas. Esse espaço educador nos fornece a vantagem de pular etapas de mobilização. Também nos ajuda porque temos um elemento comum que são as faixas etárias. Sabemos as idades que compreendem cada ensino escolar e isso contribui na abordagem educativa, seja na parte do aprofundamento do conteúdo ou simplesmente na linguagem mais apropriada. Mas por que então os trabalhos de educação ambiental envolvendo a fauna nativa nas escolas brasileiras ainda são tão pontuais? Ou muitas vezes focados apenas em conhecer os animais ao invés de trabalhar as relações que estabelecemos historicamente com eles?
Você, educadora ou educador ambiental, que já passou pela experiência de trabalhar no espaço escolar com a temática fauna deve ter percebido o porquê dessa resistência. A escola, justamente por ser esse espaço educador tradicional, é bombardeada de projetos além da obrigatoriedade do comprimento curricular. São muitos temas, vários aspectos oficiais para serem abordados e todo um ambiente complexo envolvendo o corpo discente, o corpo docente e a comunidade do entorno. Chegar lá com mais um tema, mais um material, mais uma proposta de projeto, geralmente, não nos possibilita trabalhar profundamente a nossa temática e muito menos as relações que nós, seres humanos, temos com a fauna.
Mas então, como podemos ajudar na inserção da fauna nativa ou do animal com que eu trabalho no espaço escolar? É importante lembrar de toda essa carga que existe no espaço escolar. Conhecer a realidade ajuda muito a pensar em como podemos trazer a temática para esse ambiente. Se for possível, veja quais demandas ligadas à fauna esse espaço tem e tente adaptar aos seus objetivos. Se você trabalha com uma espécie específica ou em um projeto de conservação, tente trabalhar nos locais de ocorrência dessa espécie ou na área de atuação do projeto. Isso ajuda na aproximação das pessoas com a fauna local.
Parece óbvio, mas ainda não é muito praticado. Você deve conhecer alguma criança que esteja sendo alfabetizada ou então consegue lembrar das referências a animais silvestres utilizadas na sua própria alfabetização. O E de Elefante e o L de Leão nos mostram que estamos perdendo espaços importantes para trabalhar nossa própria fauna dentro das escolas brasileiras. Em vez de L de Leão, podemos falar sobre o L de Lobo-guará. E então, falemos sobre o lobo-guará! Suas características, habitat, ameaças. Pense no potencial que tem as primeiras palavras escritas e como elas são significativas e, muitas vezes, ficam na memória de muitos de nós.
E quais são os espaços, as brechas relacionadas à fauna, que temos na escola? Isso é facilmente visível no próprio currículo. Basta saber qual é o currículo usado nas escolas da região e olhar com calma. A temática da fauna permeia todo o ensino escolar. Temos ela associada ao processo de ensino-aprendizagem das crianças no ensino infantil bem como a temos apresentada nas habilidades esperadas no ensino médio. O pulo do gato é conhecer a realidade escolar onde você trabalha e levantar qual a melhor forma de trabalhar essa temática na sua realidade.
Vale lembrar que para o trabalho educativo, de fato, contribuir para a conservação da fauna é preciso da nossa persistência. Não adianta desanimar com toda burocracia escolar nem focar em fazer ações pontuais ou simplesmente cair na onda de culpar a histórica desvalorização da fauna nativa. Temos que ter em mente que para alcançar nosso objetivo é necessário um planejamento a longo prazo, coerente com as demandas da escola da sua região e atrelada ao currículo. Nossa experiência de aproximar a fauna nativa com o currículo escolar nos trouxe boas perspectivas.
Desde 2019, estamos no processo de aproximar o conteúdo da fauna nativa com o currículo utilizado na rede municipal de Campo Grande (MS) e de participar das formações de professores. Antes disso, o trabalho educativo desenvolvido na parceria com a Secretaria municipal era bem pontual. A equipe do Instituto de Conservação de Animais Silvestres, o Icas, realizava uma palestra anual para as professoras. Percebemos que, com essa ação pontual, nosso objetivo de trabalhar a valorização dos animais brasileiros não estava sendo cumprido.
Nos engajamos em um planejamento para colher melhores resultados. Este ano, conseguimos pela primeira vez estar na semana formativa da rede. Com isso, conseguimos apresentar nossos materiais e, principalmente, falar sobre as espécies que trabalhamos, o tatu-canastra e o tamanduá-bandeira, como embaixadores da fauna nativa. Foi um momento mágico para nós, nas seis horas de formação que foram divididas em três dias. Aproximadamente 550 pessoas assistiram. Mal podemos esperar para as próximas formações e para ver os trabalhos que serão derivados do fato de termos ocupado esse espaço tão precioso.
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