Por Cristina Rappa
Jornalista com MBA Executivo de Administração e especialização em Comunicação Corporativa Internacional. Observadora de aves e escritora de livros infantojuvenis com temática voltada à conservação da fauna
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Ciente de que uma parcela muito pequena da população brasileira tem acesso a livros e a informações sobre ciências e meio ambiente, desde que lancei o meu primeiro livro infantil, Topetinho Magnífico, em 2012, tenho me proposto a dar palestras em escolas, especialmente públicas, e em instituições sociais que oferecem atividades educativas a crianças carentes, tanto na periferia de São Paulo, onde moro, como em outras cidades, quando surge uma oportunidade.
A recepção é normalmente ótima. Tanto as crianças como as professoras dessas entidades se sentem valorizadas e prestigiadas com a visita. É raro receberem um visitante, especialmente um autor de livros, e as crianças costumam me tratar como uma popstar, fazendo muitas perguntas sobre a minha vida e o processo de criação de um livro.
A dinâmica para o evento, na maioria dos casos, é a seguinte: doo alguns exemplares, cujo conteúdo as professoras trabalham com os alunos antes da minha ida à escola. No dia da apresentação, reforço os conceitos e a estória do livro, falo sobre ciências, geografia, a origem das aves, sua diversidade, benefícios (para o ambiente e a produção de alimentos, entre outros), ameaças – como perda de habitat, caça, tráfico, gaiola… -, além da importância do estudo, da leitura e de ser curioso. Finalizo com a mensagem de que lugar de passarinho é na natureza, em liberdade.
Ouvindo e aprendendo
Falo, mas, principalmente, escuto bastante.
Pois, a hora da interação, das respostas às perguntas e troca de ideias com as crianças é o momento mais rico do evento. É a hora em que aprendo muito e até surgem inspirações para os livros seguintes. A ideia de fazer o beija-flor Topetinho Magnífico bater suas asinhas e ir conhecer a Amazônia, resultando em As Aventuras do Topetinho Magnífico na Amazônia (Florada Editorial, 2021) surgiu, por exemplo, da conversa com um aluno do Instituto Ana Rosa, após uma série de apresentações na entidade, que fica na capital paulista.
Se no primeiro livro, o Topetinho abordava a questão da caça e tráfico de aves, no da Amazônia, o protagonista presencia uma cena de desmatamento e apresenta aos pequenos leitores alguns personagens do lindo e emblemático bioma, como aves locais e o boto-cor-de-rosa.
Voltando aos eventos, eles representam uma rica oportunidade para conhecer a realidade dessas crianças e famílias que vivem nos bairros periféricos das nossas cidades, ou de pequenas cidades do interior.
Escutar, aprender e não impor nada. Usar de empatia, para aí tentar ir construindo nas crianças as noções de respeito aos animais e ao ambiente e sensibilizá-las para a crueldade que é manter uma ave presa.
Foi o que aprendi após escutar muitas histórias de papagaios e passarinhos em gaiola – e até de outros silvestres, como saguis -, o que, infelizmente, ainda é a realidade em muitos locais em nosso país. No início, eu me chocava, até entender a oportunidade de usar esses relatos para calibrar as minhas apresentações e o conteúdo dos livros.
Passei a enxergar que as conversas com esses estudantes representam uma oportunidade para eu conhecer uma realidade diferente da minha, para aí levar mensagens visando à educação ambiental e cidadã, de respeito ao próximo, às diferenças, não desperdício, descarte correto do lixo etc. São noções que as escolas particulares já se dedicam a passar, mas não necessariamente as que tratam com um público cujas necessidades são mais básicas e urgentes.
Afinal, não adianta condenar a criança e fazê-la julgar com severidade o adulto da casa que mantém o louro na gaiola. Mas procurar entender essa cultura e sensibilizar a criança para ser o agente de mudança que vai passar a defender os animais e o meio ambiente em sua comunidade.
Retomada pós-covid
Durante a pandemia de Covid-19, com a interrupção dos eventos públicos e o fechamento das escolas e entidades, os encontros com as crianças foram suspensos. Foi, então, com muita alegria que os retomei, no final de junho, quando conversei sobre aves de São Paulo, amizade e diversidade, mensagens transversais do meu livro A Gata Pérola, o Sabiá e o Mistério do Sumiço do Cachorro (Florada Editorial, 2019), com alunos do Projeto Arrastão, entidade que se dedica, desde o final dos anos 1960, a complementar a educação e a apoiar famílias carentes na zona sul da capital paulista.
A experiência se repetiu e, novamente, aprendi muito com as crianças do Arrastão, que tinham lido com atenção o livro, fizeram muitas perguntas e se demoraram em relatar suas experiências com as aves do seu bairro. Que venham muitas mais oportunidades como essas!
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