Por Silvana Davino
Bióloga e responsável técnica da Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP)
segundachance@faunanews.com.br
Você se lembra da soltura de 19 papagaios-moleiros (Amazona farinosa) realizada em dezembro na Área de Soltura Monitorada (ASM) Cambaquara, em Ilhabela (SP)? Pois após a ação de soltura, inicia-se o acompanhamento dos animais na natureza.
O monitoramento é feito nos sete dias consecutivos à soltura com observação dentro da propriedade e, principalmente, nos dois horários de alimentação das aves – manhã e final da tarde – nos comedouros e bebedouros externos. Esse prazo de uma semana é o “oficial”, conforme orientam os protocolos.
Porém, como moramos próximo ao local, anotamos esses dados por pelo menos um mês após a soltura. Para tentar acompanhar a movimentação dos papagaios, instalamos também uma armadilha fotográfica (trap cam) direcionada ao “janelão” de abertura do viveiro.
Dos 19 papagaios que foram soltos, quatro indivíduos não saíram do viveiro nos sete primeiros dias. Os mais selvagens saíram no final do primeiro dia e logo se afastaram da área e não foram vistos nas proximidades.
Ainda havia oito papagaios dos 19 que tiveram contato com humanos como pets, alguns deles falantes e outros que estavam sendo soltos pela segunda vez. Eles demandaram mais atenção no nosso acompanhamento pós-soltura, pois eram os mais vulneráveis a serem presas, tanto para predação de cão e gato quanto capturados por humanos.
Acompanhando esse grupo, ao observar que um casal que não saia do viveiro e se tornou agressivo com os cuidadores e os papagaios ao redor, instalamos uma caixa-ninho nas proximidades e um comedouro mais afastado para que os outros papagaios soltos consigam se alimentar.
Contato com a comunidade
Recebemos vários relatos da vizinhança, de papagaios frequentando as imediações das residências. Tivemos que buscar um indivíduo dentro da casa de uma vizinha a 400 metros e recapturar dois outros que se tornaram agressivos com as pessoas.
Após o primeiro mês, ainda temos seis papagaios que estão na área e retornam para comer. Nenhum deles volta para dormir dentro do viveiro, que ainda permanece aberto. Conseguimos identificar pelas anilhas (anel metálico colocado em uma das pernas) que esse é o grupo dos menos adaptados a vida livre.
Ousamos um pouco mais nesta soltura. A ideia é tentar deixá-los soltos até começarem a se asselvajar. Para isso, a participação da vizinhança é fundamental. A comunicação com a comunidade do entorno tem ocorrido de forma satisfatória e recebemos fotos e vídeos com os papagaios próximos. A orientação é de não oferecer alimento. As anilhas também têm nosso telefone, isso facilita a comunicação em caso de serem encontrados.
O monitoramento é uma parte muito importante de todo o processo porque, através dele, conseguimos obter dados para mensurar o sucesso da soltura. Acreditamos que os papagaios mais selvagens retornem para os seus locais de origem dentro da Ilhabela e os mais humanizados tenham chance de se integrarem a grupos que habitam próximo da região da ASM Cambaquara.
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