
“Nem todos os animais que são encaminhados para o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) diariamente conseguem ser soltos na natureza após passarem por reabilitação. Vítimas de atropelamento, de incêndios, maus tratos ou de cativeiros ilegais, muitos deles ficam com sequelas, o que os impossibilita de procurar alimento ou de se defender de seus predadores. Se soltos novamente, podem morrer. Feridos, eles veem o destino se limitar a zoológicos ou, em uma opção mais agradável, áreas verdes restritas que são monitoradas e fiscalizadas por órgãos ambientais.
A função do Centro de Reabilitação segundo a bióloga da Gerência de Pesca e Fauna do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Maria Izabel Rossi, é tratar e depois devolver esses animais para natureza. No entanto, como muitos não conseguem ser reinseridos no habitat natural, acabam "morando" no CRAS.” – texto da matéria “Após maus-tratos, bichos "moram" no CRAS por falta de lugar adequado”, publicada em 14 de outubro de 2014 pelo portal Campo Grande News
Os dois parágrafos acima formam o início da matéria do Campo Grande News. A situação descrita é triste, mas é a realidade. Afinal, dentre os animais que não voltam para a natureza, há aqueles que sequer conseguirão um cativeiro adequado para viver. Não bastasse perder a liberdade, esses infelizes ainda permanecerão cativos em condições ruins. E tal situação é um completo absurdo.
O que pouco se relata é o fato de que zoológicos e criadouros credenciados pelo Ibama só aceitam animais das espécies que lhes interessam (lógico que há o problema da falta de vagas). São poucos os que recebem qualquer tipo de bicho. Assim, quando os centros de reabilitação (CRAS) e os centros de triagem (Cetas) de animais silvestres recebem animais muito “comuns” – que são abundantes na natureza, ou que não tenham valor comercial para reprodução em cativeiro, ou que são apreendidos com frequência, por exemplo -, há uma grande dificuldade para dar um destino bom para os bichos.
E a matéria do Campo Grande News cita um caso emblemático e absurdo (que deveria ter mais destaque no texto):
“Há oito anos no CRAS, uma onça parda é o animal mais antigo do local. Ela esperava ser recebida em um zoológico, mas conforme Maria Izabel, a “oferta” desses animais é muito grande o que dificulta seu encaminhamento. Em um recinto pequeno, ela caminha de um lado para o outro.
“Existem muitas onças-pardas, por isso é mais difícil. Ela chegou recém-nascida e o Brasil inteiro já recebeu telefonema nosso oferecendo a onça, mas como a oferta é grande, ninguém quer. Se soltarmos, o perigo que ele corre de morrer é grande. Se sentir fome, ela vai procurar humanos e pode morrer”, disse a bióloga. (bióloga da Gerência de Pesca e Fauna do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), Maria Izabel Rossi – comentário do Fauna News)” – texto do Campo Grande News
Dá para imaginar a tortura psicológica de um animal do porte de uma onça-parda vivendo em um recinto pequeno por oito anos?
O poder público é omisso e irresponsável com a fauna silvestre brasileira. Se os criadouros e zoológicos, sejam ONGs ou da iniciativa provada, não se interessam por alguns animais, os órgãos ambientais do governo (seja União, estados ou municípios) têm de criar locais preparados (com espaço e infraestrutura adequada) para receber aqueles bichos que deixaram seus hábitats por culpa da sociedade humana.
E se alguém tentar usar o argumento de que os gastos seriam altos, afinal o número de animais apreendidos é grande, a melhor resposta é mostrar quem é o culpado pela construção de estradas, rodovias, condomínios, bairros e indústrias em áreas preservadas, por muitos incêndios florestais, pelo tráfico de fauna e manutenção de silvestres em cativeiro domésticos e por aí vai. Que se invista em ações e projetos que reduzam o impacto das atividades humanas na fauna silvestres, fazendo com que menos animais cheguem aos Cetas e Cras.
Os homens causam o problema e simplesmente viram as costas para suas vítimas, escondendo-as em instituições que não têm estrutura para mantê-las vivas com o mínimo de dignidade.
Lamentável.