Graduado em Administração e em Ciências Biológicas pela Unisinos (RS), associado da REET Brasil e sócio-administrador da Cruzeiro do Sul Consultoria Ambiental Ltda.
Desde 2010, atua na coordenação de estudos do meio biótico, em projetos de licenciamento ambiental, em empreendimentos lineares (rodovias, ferrovias, hidrovias e linhas de transmissão de energia) e não lineares (PCHs, CGHs, parques eólicos e estaleiros, entre outros).
Nos artigos mais recentes que produzi para o Fauna News, abordei aspectos relacionados à definição de desenho amostral (novembro de 2022) e à otimização dos recursos, com a opção por métodos com maior potencial de obtenção de respostas (fevereiro de 2023). Ambos redigidos a partir das experiências na coordenação de um monitoramento de fauna, durante a fase de construção de uma ferrovia de grande porte no Brasil central.
Dando sequência às reflexões, utilizando esse estudo como base, quero abordar aqui um desafio identificado para a proposição de medidas para mitigação de potenciais impactos da ferrovia sobre a fauna alvo do estudo.
Como já expus nos artigos anteriores, entre outros métodos, optamos por utilizar a radiotelemetria para avaliar o impacto da ferrovia sobre a área de vida de mamíferos predadores de médio porte.
Temos, neste momento, três indivíduos machos da espécie Leopardus tigrinus (gato-do-mato-pequeno) e dois indivíduos da espécie Cerdocyon thous (cachorro-do-mato) portando colares de tecnologia híbrida (GPS/VHF).
O que esperamos, sobretudo, com a utilização desse método, é que a coleta de dados de um número significativo de indivíduos de uma mesma espécie nos traga informações que permitam identificarmos um padrão de uso da área de vida (que é a área utilizada pelos animais para atividades rotineiras, como descansar e se alimentar). A partir daí, esperamos poder propor medidas de mitigação de potenciais impactos à espécie (ou grupo de espécies com exigências ecológicas similares).
O tipo de medida e o local de implantação se daria a partir da análise da paisagem ao longo do traçado, com identificação de fatores importantes para o deslocamento da fauna alvo de uma área para outra, interceptadas pelo traçado.
No entanto, como se pode perceber nas imagens abaixo, que mostram os deslocamentos dos três gatos-do-mato por sua área de vida, interceptada pela ferrovia, não há um padrão de uso preferencial de aspectos da paisagem pelos três, que habitam áreas próximas no Cerrado da Bahia (dois deles, inclusive, têm parte das áreas de vida sobrepostas).
Enquanto o indivíduo 1 (Imagem 1) se desloca, predominantemente, pela mata ciliar e apenas eventualmente cruza a ferrovia, o indivíduo 2 (Imagem 2) prefere a savana e eventualmente utiliza o leito da ferrovia para deslocamento. Já o indivíduo 3 (Imagem 3), que também prefere a savana à mata ciliar, utiliza o leito da ferrovia com muita frequência.
Dessa forma, até que se obtenha dados de um número maior de indivíduos, cabe a proposição de medidas específicas para cada indivíduo monitorado, pois trata-se de uma espécie-alvo de conservação, mas não se pode extrapolar as inferências, sequer para trechos adjacentes.
Há também que se considerar que o comportamento desses indivíduos, e talvez a área de vida, já foi alterado pela modificação significativa da paisagem, decorrente da implantação da ferrovia.
Assim, entendo que o ideal seria esse tipo de estudo ter início durante o diagnóstico (Estudo de Impacto Ambiental), antes da implantação da ferrovia, para obtenção de subsídios para o projeto e adoção de medidas não apenas de mitigação, mas sobretudo preventivas.
De outra parte, se a proposição de medidas a partir dos dados coletados, precisos e abundantes, resta prejudicada, o que esperar dos estudos comumente realizados no âmbito dos licenciamentos ambientais, que obtêm apenas registros pontuais, oriundos de inventários de fauna?
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Graduado em Administração e em Ciências Biológicas pela Unisinos (RS), associado da REET Brasil e sócio-administrador da Cruzeiro do Sul Consultoria Ambiental Ltda. Desde 2010, atua na coordenação de estudos do meio biótico, em projetos de licenciamento ambiental, em empreendimentos lineares (rodovias, ferrovias, hidrovias e linhas de transmissão de energia) e não lineares (PCHs, CGHs, […]
